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Felipe

Estávamos todos no auditório do hospital, nossa primeira palestra como internos e conheceríamos os diretores e principais acionistas do lugar. Miguel e Carla são dois dos cirurgiões que deram palestras ótimas envolvendo situações típicas dos respectivos departamentos.

Megan é a última a se apresentar e fico surpreso quando o maior acionista do hospital à abraça calorosamente.

_ Está fazendo um ótimo trabalho, querida.

"Querida?"

Ela finalmente esqueceu Miguel?

_ É gratificante pensar que em alguns anos deixarei tudo isso nas suas mãos, minha herdeira.

Meu queixo cai no chão, junto do meu bloco de anotações e caneta.

Megan sorri agradecida enquanto todos batem palmas e foco meu olhar em Miguel.
Ele vai ter que me explicar isso.

_ Então nunca passou pela sua cabeça me contar que é o ex-genro do dono do hospital? - pergunto ao tirar meus tênis e calçar os chinelos antes de entrar no apartamento.

_ Eu ia te contar, só não tinha oportunidade para falar disso. Concordamos em esquecer meu casamento e tudo relacionado à ele.

_ Sim, mas é o dono do hospital! O homem parece amar a filha mais do que tudo, imagina se souber de nós?

_ Ele não pode fazer nada contra você, você é um ótimo interno. - bufo servindo dois copos de água e lhe entrego um antes de ir me sentar no sofá.

_ Eu não confio na Megan, que dirá no pai dela.

_ Mas pode confiar em mim, não vou deixar eles te prejudicarem. - diz segurando minha mão e respiro fundo me acalmando.

_ Me desculpa agir assim, mas meu trabalho é importante para mim. Você sabe que pessoas influentes podem foder com tudo. - digo encostando minha cabeça no seu peito.

_ Eu sei, eu sei. - ele começa a fazer um cafuné gostoso na minha cabeça e sinto que estou prestes a pegar no sono.

_ Hoje é o jantar na casa dos seus pais.

_ Eu não vou. - diz decidido.

_ Sua mãe ficará chateada, meu bem.

_ Posso lhe pagar um jantar outro dia, só nós dois. Não fico confortável na companhia do meu pai. - sinto seu corpo ficar tenso e lamento que as coisas não sejam fáceis para os dois.

_ Meu pai também ficou relutante do começo mas olha só agora, ele te ama mais do que me ama. - falo o óbvio, lhe arrancando um sorriso.

_ Preferir formar dupla comigo nós jogos não quer dizer nada.

_ Quer dizer tudo! - digo ainda com ressentimento. Fui traído pelo meu próprio pai.

_ Quando foi que a conversa se tornou sobre você? - pergunta e dou risada.

_ Talvez eu seja o centro do mundo e todos falam somente sobre mim. - dou de ombros e ele me puxa para sentar no seu colo.

_ Sobre as outras pessoas eu não sei, mas você com certeza é o centro do meu mundo.

Sorrio lhe dando um selinho e ele me olha profundamente, me causando certo arrepio.
Por mais que eu tente, não consigo desviar meu olhar do seu.

Miguel é um clichê ambulante, dizendo coisas que todos os personagens de romance diz mas, mesmo sabendo disso, não consigo evitar de me sentir especial. Saber que sou realmente tudo isso para alguém me faz pensar que não preciso de mais nada para ser feliz.

Me faz sentir como se tivesse conquistado o que todo mundo passa a vida buscando.

Um amor verdadeiro.

Miguel

Respiro fundo antes de finalmente entrar na casa dos meus pais após dois anos. Sempre me imaginei saindo de casa muito novo para ir conquistar as minhas coisas sozinho, por isso quando apareci noivo de Megan e querendo me casar aos 20 anos de idade, eles nem ao menos tentaram me impedir.

Nossa família sempre foi muito religiosa, meu pai ainda mais que todos nós.
Então me casei como mandava o roteiro, na igreja com o padre nos abençoando e prometendo amá-la durante todos os meues dias.

Porém não foi isso que aconteceu.

Eu não amei Megan verdadeiramente, apenas gostava de ter alguém com os mesmos objetivos ao meu lado, alguém que entendesse os meus motivos e fosse tão empenhado quanto eu no trabalho.
Fomos uma ótima dupla por longos cinco anos de casamento.

Mas eu não fui capaz de me apaixonar.

Entro na casa e sou recebido por vários beijos da minha mãe, dizendo que estava morrendo de saudades e que preparou meu prato favorito para o jantar. Me assusto com a quantidade de familiares que estão presentes e olho para minha mãe.

"Não era apenas um jantar entre nós três?"

Pergunto silenciosamente e ela sorri disfarçando.

_ Olha quem chegou! - anuncia animada e uma enxurrada de parentes se joga sobre mim, me enchendo de perguntas.

Ao fim do que pareceram horas, eu já havia respondido que:

- Estava namorando;

- Trabalhava 12 horas por dia;

- Não traí Megan;

- Não odiava Megan;

- Não pretendia voltar com a Megan;

- E não, não estava querendo chamar a atenção ao "virar" gay.

Foi desgastante evitar os olhares dos meus tios e primos, e principalmente o do meu pai.
Mas minha mãe sorria o tempo todo para mim e eu apreciei sua comida.

Sentia falta dela.

Abro a porta do meu apartamento e vejo que a TV está ligada, me aproximo mais e percebo Felipe dormindo no sofá. Provavelmente dormiu me esperando. Desligo a TV e me aproximo o pegando no colo, indo direto para o nosso quarto.

Ele se remexe um pouco assim que encosta no travesseiro e logo abre os olhos.

_ Você chegou.

_ Sim. Você jantou?

_ Pedi pro Lucas me trazer do restaurante. - ele boceja se levantando um pouco. _ Como foi lá?

_ Péssimo! Prefiro muito mais ficar com você, quietinhos na nossa casa.

_ Que namorado reclamão esse meu.

_ Eu diria carente da sua presença. - respondo e ele joga a cabeça para trás rindo.

_ Você deve ser o último romântico do mundo. Vai, vem aqui deitar comigo. - passo por cima do seu corpo para ir do outro lado da cama e deito minha cabeça em seu peito. _ Vamos dormir agarradinhos pra você não ficar carente.

_ Minha mãe mandou sobremesa pra você. - falo ao me lembrar e em seguida fecho os olhos.

_ Isso é bom, um passo de cada vez.

Concordo o abraçando e ele beija minha testa antes de virar seu corpo e colocar sua perna em cima da minha.

Quem eu amava? Onde histórias criam vida. Descubra agora