73

9 0 0
                                    

Felipe

_ Tá tudo bem? - Miguel pergunta assim que volto do escritório e anuo.

_ Tá sim, só precisava conversar com ele.

Miguel sorri concordando e quando segura minha mão por debaixo da mesa, sinto coisas que nem sabia serem possíveis. Seu ato me surpreende ao mesmo tempo que me deixa nervoso, mas quero que ele continue segurando-a.

Minha família conversa distraidamente sobre como anda o restaurante da minha irmã e a recuperação da Yuna. Ninguém parece perceber minha dificuldade para respirar.

Nos últimos dias qualquer gesto ou toque do Miguel me faziam estremecer.

E eu não sabia como parar isso, nem se queria.

_ Tá desconfortável? - nego rapidamente e me aproximo um pouco para falar no seu ouvido.

_ Por que tá segurando minha mão?

_ Porque eu gosto.

Fixo meu olhar no seu buscando algum resquício de humor, mas não encontro.

Ele está mesmo falando sério.

Quando ia lhe responder, sou interrompido pelo meu pai que nos olha seriamente com uma sobrancelha arqueada.

_ Vocês parecem próximos.

_ É pai, nós somos amigos.

Sei exatamente o que ele está tentando fazer com essas perguntas nada sutis. Olho para minha mãe lhe pedindo ajuda, antes que meu pai pergunte na cara do Miguel se somos namorados.

Meus pais sabem que prefiro manter minha vida amorosa somente para mim, porém ter um pai curioso nunca ajudou em nada.

_ Soube que é pediatra Miguel, não fraqueja ao ver tantas crianças doentes todos os dias?

_ Eu tento ser suas âncoras na maioria das vezes, já que seus pais ficam igualmente abalados. Mas não posso negar que alguns casos me fazem sair da sala para respirar fundo inúmeras vezes antes de continuar. - responde e minha mãe lhe oferece um sorriso reconfortante.

_ O seu trabalho é muito lindo, querido. Deve amar crianças e...

_ Pensa em ter filhos? - chuto meu pai que se abaixa um pouco para massagear o local e quando ergue o corpo novamente, tem um sorriso sacana nos lábios.

Meus olhos dobram de tamanho quando percebo o que ele viu e bebo o resto do meu vinho.

_ Penso sim, é o que eu mais quero na verdade. Construir uma família. - Miguel responde olhando para meus pais antes de se virar para mim.

Ouvimos um barulho de vidro se quebrando e vejo Fernando tentando recolher as taças que deixou cair no chão. Me levanto para ajudar ao mesmo tempo que Yuna.

_ Você se machucou? - pergunta preocupada e ele nega.

_ Deve ter se assustado, pode deixar que... - paro de falar quando vejo seu olhos marejados.

Yuna parece notar o mesmo que eu e faço sinal para que o leve para cima. Tia Marcela também se levanta preocupada com o filho e sobe as escadas em seguida.

Quem eu amava? Onde histórias criam vida. Descubra agora