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Emma

Entro no tribunal com o intuito de apoiar Bruno no julgamento de hoje. O acompanho desde que começamos a trabalhar juntos e depois de um tempo, virou meu passatempo favorito vê-lo defender seus clientes com tanta determinação.

Conhecê-lo foi um divisor de águas na minha vida, eu que só havia experimentado a vivência com um homem machista e manipulador, me surpreendi ao encontrar um totalmente oposto. Me casar com Jacob foi um dos meus maiores arrependimentos, mas eu estava apaixonada e louca para demonstrar esse amor para quem quisesse ver.

Mas depois de um tempo, percebi que concordar em ficar apenas em casa e deixar meu trabalho de lado não era uma prova de amor. Esperá-lo todas as noites apenas para ver se ele chegaria bem em casa e ouvir respostas ofensivas calada, não era uma prova de amor.

O amor podia ser tudo, menos o que eu passei durante aqueles 390 dias.

Descobrir minha gravidez em meio aquele caos foi a minha salvação. Eu me segurei na ideia de que poderíamos reconstruir nossa relação com a vinda de uma criança, até perceber que eu era a única feliz com essa notícia.

Exames, ultrassons, descoberta do sexo, contrações, parto.

Eu passei por tudo sozinha.

E quando finalmente vi o rosto de Alicia, percebi que minha filha merecia mais do que eu estava oferecendo naquele momento.

Ela precisava de uma mãe, uma protetora, alguém que a amasse por inteiro.
E que estivesse inteira também.

Eu me reergui por ela, movi céus e terra para me livrar de Jacob e das suas torturas psicológicas. E eu tinha certeza que ficaria bem, porque quem mais importava na minha vida continuaria comigo.

Então, conhecer alguém gentil e altruísta depois de tudo o que passei, me surpreendeu profundamente. O fato de alguém ainda prezar pelo bem-estar de uma desconhecida, uma colega de trabalho; me fez ver que o mundo em que existia apenas eu e Alicia, poderia aumentar seu tamanho.

Ser conquistada nos pequenos detalhes, nas pequenas trocas do dia a dia, no seu cuidado com Alicia, me fez querer me entregar ao amor novamente.

Mesmo com medo de que tudo pudesse dar errado, eu sabia que teria valido a pena.
Bruno valia a pena.

Fico sentada na última fileira, observando-o apresentar as provas que rebatem às acusações à sua cliente, demonstrando sua seriedade e sede por justiça. O fato de ter acompanhado sua busca por cada detalhe necessário para sua defesa, faz com que assistir seja ainda mais estimulante.

Posso afirmar que me tornei uma advogada melhor ao acompanhá-lo durante suas buscas e julgamentos.

Saio pouco antes do juiz anunciar sua sentença e espero do lado de fora, pensativa sobre como iniciar uma conversa com ele após sumir por três dias. Alicia foi liberada 8 horas depois e tentei passar o máximo de tempo com ela pelos dias seguintes.

Afinal, o medo que senti naquela manhã ainda estava presente.

Jacob não entrou mais em contato comigo e também não me importei com isso. Quanto mais longe, melhor.

Vejo Bruno se despedir da sua cliente, ela agradecendo inúmeras vezes pela sua ajuda e paciência. Aceno timidamente na sua direção e ele caminha a passos rápidos até mim, me pegando desprevenida ao abraçar meu corpo com força.

_ Você veio.

_ É claro que vim.

_ Achei que estivesse brava comigo, por isso não a procurei. - diz ao se afastar, sua mão ainda na minha cintura.

_ Achei que você estivesse bravo, fui muito dura.

Ele acaricia meu rosto suavemente.

_ Podemos conversar agora? - anuo e ele entrelaça nossas mãos, saindo do tribunal.

[...]

Deixo minha bolsa no sofá da sala e ele me segue para sentarmos lado a lado.

_ Cadê Alicia?

_ Está no porquinho com a babá.

_ Ela já está melhor?

_ Sim, muito melhor. Ainda bem que crianças se recuperam rápido e ela não lembrará disso.

Ele murmurar um "ahan" e penso nisso como uma deixa pra começar a falar.

_ Me desculpa!

_ Desculpe!

Falamos os dois ao mesmo tempo e sorrio com a coincidência.

_ Eu começo. - digo e ele anui. _ Não deveria ter ficado na defensiva com você, sei o quanto tenta nos ajudar e faz muito mais do que um namorado deveria. Sei que ama Alicia, mas é compreensivo não se ver nesse papel de "pai" e tudo bem. Não levei seus sentimentos em consideração e por isso peço desculpas. - digo sincera e ele segura minhas mãos, acariciando o dorso suavemente.

_ Emma, eu amo você e amo a Alicia. Vocês são minha família e não quero que duvide disso.

_ Eu não duvido. - me apresso em dizer.

_ Sei que Jacob não é o pai ideal, mas não quero lhe tirar esse lugar, entende? Afinal, não é uma decisão nossa e sim da Alicia. Se no futuro ela me considerar como seu pai, com certeza serei o homem mais feliz do mundo.

Diz sério e acabo me perdendo no quão bonito ele fica quando está sendo racional.

_ Eu sei o que eu quero Emma, e nada poderá mudar isso. Nem o seu ex-marido.

_ O que você quer então?

Ele se aproxima, os lábios fixos nos meus lábios e engulo seco quando seu olhar encontra o meu. Me arrepio ao sentir sua mão puxar minha cintura para mais perto e dizer as palavras que mudariam para sempre as nossas vidas.

_ Eu quero ser o seu marido, Emma. Eu quero tudo com você.

Sorrio em resposta e me aproximo um pouco mais, beijando sua boca lentamente. Seu aperto em minha cintura se intensifica e logo sou puxada para o seu colo, minhas pernas uma em cada lado da sua cintura. Intensificamos o beijo e sinto suas mãos apertarem minhas coxas com força.

_ Mamain! - me assusto com o chamado de Alicia e tenho tempo de sair do seu colo antes que ela me veja ali.

Minha filha solta a mão da babá e corre até nós dois, pulando no sofá.

_ Tio Bu! Saudadi. - abraça seu pescoço e ele logo retribui o gesto, murmurando um "saudades também."

Quem eu amava? Onde histórias criam vida. Descubra agora