Capítulo 32 - Em Um Outro Território

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Respiro fundo, cruzo a porta e a fecho, sem saber o que esperar.

Vejo ele sentar em sua poltrona com a foto do garoto nas mãos. Seus olhos vazios sobem até os meus. - Eu lamento pelo seu irmão. - Diz em um tom sério e lento.

Escondo a minha surpresa e assinto com a cabeça como forma de agradecimento.

Harold - Sente-se. - Ele aponta para a poltrona à sua frente.

Me sento, meio perdido, e apoio o livro no colo.

O silêncio perdura por alguns segundos.

Ele se mostras perdido em seus pensamentos enquanto encara a foto em seu colo. - Esse é o meu filho, Noah!. Porém, ele já está um homem hoje. - Diz sem tirar o olho da foto.

Eu cheguei a imaginar que poderia ser o filho dele, mas não deixa de se surpreendente. Onde será que ele está?.

Benjamin - Vocês se falam. - Pergunto, levemente receoso, porém, sentindo que ele queria falar mais a respeito.

Ele nega com a cabeça. - Não, eu não vejo ele a anos!.

Benjamin - A anos?. - Pergunto, incrédulo.

Ele assente com a cabeça, ainda concentrado na foto.

Não consigo identificar nenhuma expressão que não seja a neutra em seu rosto. Como será que ele se sente em relação a isso?.

Benjamin - Ele te trouxe para cá?. - Questiono, mantendo um tom de voz baixo e cauteloso.

Harold - Não. Na verdade, ele foi embora assim que se tornou maior de idade. Já faz uns cinquenta anos!. - Ele balança a cabeça de maneira suave enquanto acaricia a foto.

Estou chocado!. Mais de cinquenta anos sem ver um filho? Isso deve ser algo horrível!. Pensando bem... duvido que com a minha mãe e eu seja diferente.

Benjamin - É muito tempo!. - Digo, compadecido. - Sinto muito por isso!.

Seus olhos me fitam sem cor. - Não sinta, a culpa foi toda minha!.

Franzo o cenho, confuso. - Como assim?.

Ele abaixa o olhar para a foto de forma lenta. - Eu não me lembro de um só momento em que eu não estivesse criticando ele.

Sinto um peso e um certo remorso em suas palavras.

Harold - Minha esposa morreu e ficamos sozinhos, e... infelizmente eu não fui um bom pai...

É uma sutil tristeza se formando em seu rosto?.

Harold - Eu sempre fiz questão de deixar claro que tudo que ele fazia. eu considerava errado. Nunca o apoiei em seus sonhos, ao contrário, eu costumava dizer que ele não seria nada na vida. Meu Deus, quanta idiotice. - Diz com um grande ar de culpa ao franzir o cenho.

Isso é muito mais pesado do que eu imaginava. Mesmo com a personalidade difícil, nunca achei que o senhor Harold seria uma pessoa ruim. Não estou dizendo que ele seja ruim hoje, mas agora dá para entender um pouco mais sobre ele.

Harold - Fui um pai muito injusto, um pai cruel... Ele sempre foi um garoto tão bom, mas eu nunca valorizei isso, eu achei que estava usando o melhor método para transformá-lo em um homem forte. Besteira!. - Ele deixa a foto na mesinha ao lado e respira de uma forma mais pesada.

Tudo isso é tão triste que eu preciso me segurar para não chorar. Mesmo não vendo nenhuma lágrima no olhar do senhor Harold, sei que dói para ele soltar tudo isso.

Harold - Ele foi ficando cada vez mais zangado e frustrado, e com razão!. Quando ele fez vinte e um anos, ele arrumou as malas e me olhou com um olhar que eu nunca tinha visto antes... um olhar com um ódio inexplicável de alguém que engoliu muita rigidez e injustiça. Ele me chamou de monstro e disse que jamais queria me ver de novo. - Ele suspira. - E ele fez jus a isso. É triste pensar que perdi o Noah antes mesmo de eu perceber que ele merecia todo o valor que se deve dar a um filho.

Apenas Uma Aposta - Livro I [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora