Capítulo 50

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- Medo, acho que é isso - Mirella respondeu, estava em mais uma de suas seções de terapia.

- Medo?

- Aham - Mi respondeu - Nao sei... eu não consigo controlar e as vezes minhas paranóias são mais fortes. Eu sei que pode machucar ela, mas... tenho medo de continuar assim e machuca-la ao ponto dela querer ir embora.

- Você acha que ela vai?

- Ninguém aguenta toda essa desconfiança de uma hora pra outra.

- Você não confia nela?

- Confio - se apressou em responder - Confio...

- Mas?

- Sabe quando o coração sente algo, mas seu cérebro opta pela lógica? Não sei explicar, eu sei que ela não faria tal ato, mas eu ja fui tão enganada, tão machucada, tão subestimada... é como se fosse situações semelhantes.

- E são?

- Não, definitivamente não. Ela não seria capaz, eu sei disso.

- E o que te falta para não apenas sentir isso, mas também pensar assim?

- Me falta coragem e força pra não deixar isso acontecer novamente.

- O que é coragem para você, Mirella?

- Ué? Coragem é ter... coragem!!!? - riu - Coragem de fazer tal coisa, independente do medo, dos obstáculos, de tudo o que vier a enfrentar. E para você?

- Para mim? - a psicóloga perguntou parando de fazer algumas anotações e arqueando uma sobrancelha enquanto olhava para a mc. Mirella riu e confirmou com a cabeça - Concordo com Aristóteles, coragem é a justa medida entre o medo e a confiança.

- E o que isso significa?

- Significa que todo corajoso tem medo de algo. Mas ele não é corajoso por isso, faz parte. Porém, o que o torna "bravo" é a capacidade de deixar o medo de lado e confiar em si.

- Você acha que eu deveria confiar mais em mim? - Mi perguntou.

- Você acha que deveria confiar mais em si?

- Não me faça perguntas difíceis - Mirella sorriu junto com a psicóloga.

- Confiar em si nao é se propor a fazer absolutamente tudo. Freud disse, não exclusivamente neste caso, que a relação do indivíduo com o mundo exterior é marcada por um limite. Se observamos bem, meu limite não é o mesmo que o seu, assim como o seu não é o mesmo da sua namorada e assim sucessivamente. Confiar em si, é fazer tudo, porém tudo o que está ao seu alcance, sem desrespeitar os seus limites e ultrapassar as suas fronteiras. Confiar em si é reconhecer o seu medo, mas deixa-lo de lado por que você sabe que é capaz de supera-lo.

- Você tá me dizendo que eu tenho que parar de ter medo de confiar nela e também em mim?

- Estou dizendo que você tem que confiar em si. Você não pode confiar nela se não confiar, primeiramente, em você.

- nossa - murmurou

- Não se assuste, se você diz confiar nela é por que sabe que deve, mas não se sabote. Você precisa ser "brava", ser corajosa e confiar em você também. Se formos sempre darmos prioridade aos nossos pensamentos, pouco importa o que sentimos, já que a lógica, as vezes, é diferente da emoção.

- Não sei se entendi, mas compreendo - mirella brincou - Mas seja sincera, acha que essas seções estão dando resultado?

- Você chegou aqui completamente confusa com seus sentimentos, não apenas sobre vocês duas, mas principalmente confusa com você mesma. Sobre seu relacionamento você ja consegue distinguir as diferenças entre o passado e o presente, sobre você... bom, você se permitiu novamente, e vem se permitindo sempre, mesmo sabendo que vai errar. Você assume seu medo por que você se conhece, e isso já é meio caminho andado. Se conhecer é saber de forma concreta o que te machuca e o que te faz feliz, e se você se conhece a esse ponto, você vai saber o caminho certo a seguir. E se você souber seu limite, você vai saber a hora certa de parar, seja no seu relacionamento, em amizades, trabalho e absolutamente tudo. Se conhecer, conhecer o seu Eu, é a chave para você saber até onde deve se permitir.

When everything startedOnde histórias criam vida. Descubra agora