20| Café e pulso . . .

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Estava agora diante do espelho do meu quarto a ver como me encontrava pela última vez. Daqui a pouco menos de cinco minutos sairia de casa para me encontrar com Harry num café aqui ao pé. Passaram-se três dias desde o dia da corrida. Passara aquela noite a chorar, não queria acreditar que um dos prémios de Harry seriam raparigas, pois isso ainda me punha pior do que já estava. Mas lá no fundo eu sabia que eram. Custava-me só o pensamento que naquele tempo em que ele me disse que queria tentar descobrir o que realmente se passava entre mim e ele, ele se tivesse envolvido com outras. Mas depois atingia-me com força que ele não era meu namorado. Ele era meu nada, visto que segundo ele não éramos amigos coloridos nem namorados, e tenho de admitir que com os nossos momentos íntimos não éramos de certeza simples amigos.

O primeiro dia fora passado igualmente a chorar, mas menos que na noite anterior. Kim viera visitar-me e ajudar-me com os meus irmãos visto que os meus pais estavam mais uma vez fora em trabalho e desta vez eu ficara também com Soph visto que a minha avó não podia. Nesse mesmo dia Harry mandara mensagem. Dizia que queria falar comigo e explicar-se. Respondi-lhe dizendo que esperava uma explicação sua, mas ele disse que queria falar comigo cara a cara comigo, respondi-lhe com um OK e combinámos daí a dois dias encontrarmo-nos.

O segundo dia fora um pouco mais alegre. James e Liam passaram cá por casa para ver como me encontrava. Não tinha mudado muito desde o dia anterior. Acho que simplesmente mentalizei-me de que Harry não me pertencia nem nunca o iria fazer. Será que Harry tivera este tempo todo a brincar com os meus sentimentos? Começava a questionar o porquê de eu existir mesmo se tanta gente me tratava assim, como se eu não tivesse sentimentos. Alguns dos meus amigos, os meus pais, às vezes os meus irmãos e o rapaz por quem eu estava loucamente apaixonada. Será que eu viera ao mundo para sofrer? Mas era nestes momentos em que eu me apercebia que quando os outros precisavam eu estava lá, mas agora dava comigo sozinha num quarto enquanto a minha melhor amiga tentava cuidar dos meus irmãos. Nada de amigos, nada de pais, nada de rapazes por quem o meu coração batia. Só uma pessoa que estava no quarto ao lado a tentar-me tirar preocupações e problemas dos ombros. Sentia-me vazia por dentro. Sentia que se calhar eu não devia existir de todo. A minha existência se calhar não era assim tão importante.

Desci as escadas, mas não sem antes passar pelo quarto do meu irmão onde se encontrava Derek, Kim e Soph. Despedi-me de ambos e sai de casa a caminho do café. A pé eram cerca de 10 minutos e então decidira pôr os phones nos ouvidos e seleccionei no meu telemóvel os Green Day e rapidamente começou a entoar American Idiot. A minha vida estava de pernas para o ar, sentia-me mal comigo mesma. A coisa que mais desejava era que tudo parasse. Ao fim de algum tempo a andar coloquei os meus óculos de sol. Já fazia algum tempo que não saia de casa e tinha umas olheiras muito fundas devido a ter adormecido as últimas noites a chorar. Era triste adormecer a chorar, provavelmente a pior maneira, mas aí é que está a ironia pois é a maneira mais fácil. Mas a vida é assim feita de ironias. Uma das perguntas que mais que incomodava, mas não parecia querer desaparecer por nada era: Se isto tudo era apenas um drama que eu estava a fazer ou se realmente eu estava a ser injustiçada pelo mundo. Pois parecia que mais ninguém notava ou parecia não querer notar.

Eu estava magoada, não por ele andar nas corridas, mas sim por ele me ter dito que era “meu”. De certa maneira sentia-me traída, e isso era uma sensação horrível.

Quando entrei no café vi Harry numa mesa ao fundo e dirigi-me até ele. Tinha perdido alguns dos seus cachos habituais e tinha olheiras tal como eu. Assim que me sentei à sua frente lançou-me um sorriso meigo e feliz? Parecia que estava feliz por me ver, mas provavelmente eram só invenções da minha cabeça.

- Hey.

- Hey… - limitei-me a dizer também.

                - Estás toda vestida de preto… - sussurrou observando o meu corpo que estava tapado pela mesa. Senti-me desconfortável com o seu olhar pousado em mim – Porquê? – Limitei-me a encolher os ombros e ouvi-o suspirar. Nem eu própria sabia o porquê. É verdadeque eu gosto de preto, aliás é a minha cor preferida, mas também não me apetecia vestir roupa alegre e jovial. Portanto simplesmente tirara do guarda-roupa a primeira coisa que me aparecesse à frente que combinasse – Eu sei que queres respostas Kate. Estes dias têm sido um inferno, nem imaginas. Sinto a tua falta e a do teu sorriso acolhedor, das tuas palavras meigas e doces … - acabou por dizer. Eu também sentia a sua falta, bastante até. Ao fim de mais um suspiro começou a falar novamente, mas desta vez do assunto pelo qual estávamos ambos ali presentes – Kate eu não queria que descobrisses assim. Queria ser eu a contar-te, mas visto que o cabrão do James abriu a boca – acabou por dizer frustrado. Não o chamei à atenção por ter insultado o meu melhor amigo porque a verdade é que eu também estava magoada, mas principalmente a lixar-me para tudo à minha volta – Eu ando nas corridas já à uns tempos, os prémios são dinheiro e – engoliu em seco– gajas. Mas por muito impressionante que seja desde que criámos este sentimento, que eu sei que não sou o único a senti-lo, simplesmente depois das corridas mando as gajas em bora. Não me envolvi com ninguém, desde que não sei ao certo o que sinto quando olho para ti, para o teu sorriso ou oiço o teu riso. Eu sei que estou a ser lamechas, mas não quero saber. – naquele momento estava sem palavras, mas consegui puxar algumas para fora.

- Porquê? Porquê que me estás a contar isto tudo como se fosses obrigado?

- Porque eu sinto que sou. Não sei simplesmente sinto que te tenho de contar. Kate eu tenho sentimentos por ti, e nunca o senti por outra pessoa, mas tenho a certeza que me estou a apaixonar-me por ti isto é, se é que eu ainda não estou. E quero-te fazer uma pergunta. Sei que estás magoada comigo e tudo mais, mas se eu te agora perguntasse se querias ser minha, tu aceitavas?

- Tipo tua namorada?

- Sim…

- Eu não sei Harry… Tu magoaste-me tanto quando eu te vi rodeado daquelas raparigas todas e quando ouvi aquele homem gritar que o teu prémio estava lá dentro foi como se o meu mundo caísse. Eu sei que não devia ter nada haver com a tua vida, mas magoaste-me tanto e se calhar, o que mais doeu foi saberes os meus sentimentos por ti. Doeu tanto Harry… - e no final da frase a minha voz traiu-me e começou a quebrar-se – E só de pensar que corres perigo de vida e não me contas, não ajuda.

- Kate… - sorriu triste.

- Mas se realmente queres algo comi…

- Eu quero Kate. – e naquele momento foi como se o meu coração voltasse à vida passado três dias, só com três palavras.

- Então luta por mim e mostra-me que realmente estás apaixonado e dá-me tempo, e assim eu te darei uma resposta. Eu não quero sair magoada, pois não sei se aguento muita mais dor. – e dito isto levantei-me e sai do café.

Assim que passei a porta da rua senti o meu pulso esquerdo ser agarrado e puxado, e com esse movimento acabei por me voltar para trás. Harry fora quem me agarrara no pulso e com essa acção a manga da camisola e do casaco de malha descera um pouco, mostrando assim o interior do meu pulso encarnado e com pontos negros que eram nódoas negras como se tivesse inflamado. Harry notou e olhou para mim com os olhos muito abertos.

- Kate o que é que fizeste?

- Larga-me Harry… Por favor… - supliquei. E nesse momento ele puxou-me de encontro ao seu peito e abraçou-me. E como eu tinha sentido saudades dos seus braços.

- Kate tu nunca, mas nunca voltes a fazer isto. Eu não consigo viver com o pensamento que alguma vez em que te magoei tu acabaste por te magoar a ti mesma. Não o faças nunca mais promete-me… - e por esta altura as lágrimas já deslizavam pelas minhas bochechas.

Mas eu sentia-me bem, e isso provavelmente devia-se ao facto de estar no lugar em todo o universo onde eu me sentia mais segura.

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Isto está uma seca,

Moon

Cigarettes | h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora