56| Tribunal e Liz . . .

233 20 0
                                    

Estamos todos no carro enquanto que navegamos pelo silêncio. O meu cérebro não se lembra de nada do que aconteceu nos últimos 80 minutos, nada aparece na minha mente. Não sei se ei de estar feliz ou triste; acabei de afastar o meu pai da vida dos meus irmãos; será que eles me vão odiar quando forem mais velhos? Ou será que me vão agradecer por ter feito algo em relação àquilo que os podia ter magoado?

A minha mente é um barco em alto-mar e tem quase a certeza que está a navegar na direção certa, mas o problema é que há demasiado nevoeiro para perceber se realmente este é o caminho certo. Para melhorar esta aflição, o meu farol não está perto. Apenas me mandou uma mensagem a dizer que por motivos de emergência, que eu não tenho qualquer ideia quais são, não pôde ligar a sua luz como costuma fazer.

O James fz carícias no meu cabelo e apetece-me chorar mas parece que afinal este oceano é um deserto, não sai nada pela minha boca ou pela boca de qualquer pessoa que se encontra no carro. A face da minha mãe encontra-se séria; pergunto-me como se sente ao ver o seu marido, ou melhor, ex-marido acho eu, ir preso. Será que se sente enganada? Será que se sente traída?

A Kim não fala nem pestaneja, estou a tentar perceber o que é que parece ser tão interessante na paisagem para ela não ter desviado o olhar da mesma durante cada segundo da viagem. Ainda só se passou três semanas desde que saí do hospital e daqui a uma volto para a escola. Como será que os meus colegas vão reagir?

Olho pela janela, o dia está cinzento, parece um daqueles dias que o Harry me descreveu como sendo o clima de Londres, nada chama a alegria, nem mesmo ter algumas das pessoas mais importantes ao meu lado. A música toca baixinho acho eu, não a consigo identificar, mas também não tem importância, estou mais preocupada em ver o sinal de uma mensagem por ver que não vejo.

Porque é que ele não me telefona? Será que está tudo bem? Será que se fartou de mim? Porquê?

Sinto-me cansada, mas dormi cerca de 8 horas esta noite, tudo parece esmorecer e sinto o aperto do James ficar mais solto. É isso acho que me estou a perder dentro da minha própria mente.

*

*

*

Algo está a fazer barulho, mas não sei o que é que é. Abro os olhos devagarinho e vejo o ecrã do meu telemóvel iluminar-se e uma imagem do Liam a sorrir, acabo por atender sem pensar duas vezes.

- Que é que foi Liam? - pergunto bocejando.

- Onde é que estás? - pergunta meio aflito?...

- Em casa, porquê? - sinto uma impressão estranha no fundo da barriga, por momentos apetece-me vomitar, mas sei que não virá nada.

- Cala-te Louis! - oiço grande agitação do outro lado da linha - Ela merece saber! - o Liam está exaltado e isso começa a preocupar-me cada vez mais.

- O que é que eu tenho de saber?! - não gosto do rumo deta conversa, o que é que me está a escapar?

- O Harry está no hospital. - o Liam diz tão rápido que mal percebo.

Sinto que levei um murro no estômago e cada osso do meu corpo está rachado, e que à mínima brisa de ar se irá desfazer em pó de uma maneira dolorosa. O que é que aconteceu para o Harry lá estar?

- Q-quê? - quase que não tenho voz para falar.

- Queres que te vá buscar? Eu vou agora para o hospital.

- Sim. - digo e quando noto já estou vestida e fora do meu quarto.

O apartamento está silencioso e reparo que o relógio da cozinha aponta para a uma da manhã. Quando atendi a chamada nem me preocupei em ver que horas eram. Tiro um papel da gaveta das bugigangas e escrevo uma nota à minha mãe a dizer que aconteceu algo grave, mas para ela não se preocupar pois irei telefonar-lhe mais tarde.

Cigarettes | h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora