Cigarettes | h.s

53| Espelho e miúdos . . .

O espelho refletia uma rapariga marcada pelo tempo, uma rapariga abatida e triste. Todo o meu ser gritava por uma lufada de ar; algo novo que trouxesse a rapariga animada que eu outrora fui. A minha barriga estava com algumas nódoas negras assim como os meus braços e pernas, mas grande parte delas já estavam quase completamente curadas. Tinha tirado ontem as ligaduras quando fora ao hospital. Olhei mais uma vez o meu corpo. Apenas usava umas cuecas, e de certa maneira não me sentia incomodada por ter a casa cheia de pessoas, maioritariamente crianças, e estar apenas com umas cuecas básicas de cor azulão no meu quarto.

Nada em mim gritava por elogios como «bonita» ou «única», pelo contrário, eu não tinha nada de especial. Não era alta ou magra como uma modelo; o meu peito era pequeno comparado com o de muitas raparigas da minha idade; o meu cabelo era de um castanho quase chocolate que um dia já foi preto, e aí sim, eu tinha algo de diferente, um cabelo preto como o breu, mas tal como eu mesma, o meu cabelo acabou por se desgastar e aclarar; e por fim os meus olhos eram escuros como os de uma azeitona. O que será que o Harry viu em mim? Eu não conseguia ver nada que atraísse um rapaz, principalmente agora que o meu corpo estava dorido e magoado, as minhas mãos continuavam com cicatrizes que não pareciam querer desaparecer.

Oiço a porta do quarto a abrir e agarro-me imediatamente as minhas mamas e dirijo o meu olhar para a porta. O Harry entra no quarto e assim que pousa o olhar em mim engasga-se com a sua própria saliva.

- E-eu, t-tu estavas a-a demorar muito e eu v-vim ver se estava tudo b-bem. - disse meio atrapalhado, se calhar antes acharia piada, mas agora não - O que se passa? - disse o Harry desta vez preocupado uma vez que notara a minha falta de resposta.

Virei-me para o espelho, sempre com as minhas mãos a tapar as mamas e falei.

- Achas-me bonita? - quantas vezes será que eu já lhe tinha feito esta pergunta?

- Que raio de pergunta é essa?! - o meu coração falhou uma batida - Claro que sim! Kate que raio é que se passa?

- E-eu só-só... - tentei dizer, mas as palavras pareciam todas ter fugido.

- Tens andado a comer?! - perguntou olhando para as minhas costelas, mas antes que eu conseguisse responder ele continuou a falar - Tu estás muito magra! Kate não comeces a magicar coisas nessa tua cabeça! - disse aproximando-se de mim e pousando as suas mãos nas minhas ancas - Tu és a rapariga mais bonita que eu alguma vez vi, tens um corpo de meter inveja a qualquer rapariga e és tão inteligente. Porque é que tens tantas inseguranças? Explica-me porque eu não consigo entender!

Os meus olhos já se encontravam marejados antes de eu começar a falar.

- Não sou. - comecei por dizer simplesmente - Já te disse isso antes. Não tenho nada que as outras têm, sou simples e nada disse é cativante. - e sem que eu conseguisse controlar uma lágrima rolou - Sou ordinária, ao lado de qualquer outra rapariga sou um simples pedaço de madeira velha e gasta enquanto que elas são tábuas de madeira polidas e brilhant- - e antes que eu conseguisse continuar o Harry virou-me e emoldurou a minha face fazendo com que eu não me preocupasse mais com a minha nudez.

- Catherine nunca mais na tua vida digas isso! Estás  a passar por uma fase menos boa, é verdade, mas isso não quer dizer que tenhas de te menosprezar! Se eu te oiço dizer isso mais alguma vez. - e este era aquele Harry que estava presente nas corridas e no dia a dia na escola; aquele Harry sério que não achava muito piada a certas coisas.

- Harry, e- - mas antes que eu conseguisse falar ele juntou os nossos lábios num beijo cheio de amor e ternura, tudo aquilo que eu precisava naquele momento - Eu só não te quero perder. - desabafei enquanto soluçava contra a sua camisola.

- Eu amo-te e nunca te vou deixar, ouviste bem? - acenei afirmativamente com a cabeça e agarrei-me ao seu tronco coberto por uma sweater cinzenta - Uma pergunta. Todas aquelas nódoas negras foram provocadas por ele? - soube exactamente àquilo que ele se referia, o que fez com que eu baixasse a cabeça e acenasse - Veste-te e vamos descer. Está imensa gente à tua espera. - disse com esperança de mudar de assunto pois percebeu o impacto que aquela pergunta tivera em mim. Limpou-me as lágrimas e beijou-me mais uma vez.

Automaticamente dirigi-me até ao meu armário e tirei uma blusa de manga comprida e umas calças, ainda considerei em usar uma saia ou um vestido, mas ainda não estava mentalmente preparada para um passo desse tamanho. Vesti-me em frente ao Harry, e acho que foi a primeira vez que não dei muita importância a algo do género. Quando estávamos a descer as escadas agarrei a sua mão. Eu não cria enfrentar os olhares penosos de todos aqueles que de momento ocupavam aquela casa devido à festa de anos do Derek.

Miúdos de todas as idades corriam pela casa em todas as direcções, mas assim que aterrei no jardim a única direcção para que os miúdos corriam era para mim. Todos gritavam o meu nome e abraçavam-me. Ao principio uma onda de dores atravessou as minhas laterais, mas eu fiz um esforço para ignorar e apreciar aquele momento. Muitos dos amigos do meu irmão adoravam-me, e isso deve-se ao facto de os conhecer desde pequeninos ou simplesmente porque eu era uma pessoa mais velha e não era um parente. O Harry pareceu reticente em largar a minha mão, mas depois de se aperceber que não me dava jeito nenhum abraçar 10 crianças e dar-lhe a mão ao mesmo tempo acabou por me largar.

- É o teu namorado? - ouvi o Francis perguntar.

- Sim. - disse envergonhada e rapidamente voltei para junto do Harry e do seu aperto.

Os miúdos fizeram-me uma serie de perguntas e voltaram a colar-se a mim e isso pareceu irritar o Harry pois o seu aperto aumentou. Assim que os miúdos voltaram a prestar atenção à bola de futebol eu estiquei-me e beijei os lábios do Harry.

- O que é que o médico disse? - ainda não tínhamos falado da minha visita ao hospital.

- Ficou surpreendido por eu ter recuperado tão depressa em duas semanas e que em princípio já estou fora da zona de perigo. - sorri feliz, aquilo eram ótimas notícias - E que eventualmente para a semana já poderei começar a fazer pequenos esforços para me começar a habituar novamente ao meu dia-a-dia.

- Isso quer dizer que para a semana vamos fazer uma visita ao apartamento. - ronronou contra o meu cabelo.

- Se calhar. - murmurei baixinho, eu queria tentar mais uma vez, queria experienciar sem dor desta vez.

Ouvi o meu nome ser chamado e rapidamente voltei para dentro de casa. Realmente eu não podia ter pedido por uma pessoa melhor ao meu lado. O Harry era tudo aquilo com que eu sempre sonhara.

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Adivinhem só?! Capítulo novo todos os dias a partir de hoje!! Este é o primeiro cap desta maratona que vou fazer.

Votem e comentem!!

Moon