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Olhava para o céu admirando a lua e as estrelas. No horizonte o negrume da madrugada dava lugar aos primeiros tons de roxo que anunciavam a aurora. O barulho do motor do helicóptero era alto, mas ele conseguia descansar e refletir sobre as últimas horas e a incursão realizada: a aproximação; a neutralização das linhas inimigas; a conquista do objetivo; e a extração. Tudo realizado em poucas horas, de forma rápida e eficiente. Houvera feridos, mas todos medicados e fora de perigo. Não houve baixas em seu pelotão.

— Cabo, vinte minutos para chegar à base.

— Ótimo! Pegaremos o café da manhã.

— Sim senhor! — balbuciou o piloto voltando total atenção aos equipamentos.

Imerso em recordações, Ivan se lembrou de sua família, sua mãe e seu pai, Nataly e Ferdinand, além de seus irmãos Josephine e Marcus, até mesmo de Niel e Ananda, filhos de sua irmã. Tinha saudade do convívio familiar, mas a vergonha era maior. Não quis mais revolver aquilo que tanto o incomodava muito e se focou nos dados da missão. Aquela incursão fora mais distante que o usual, e quase tudo saiu como o planejado. Foi mais uma operação padrão daquela base aliada americana em território turco, combatendo o contrabando de armas e drogas nas densas florestas entre o Mar Morto e o Mar Cáspio. Aquela era uma das rotas mais utilizada pelos traficantes. Sabendo disso o Serviço Espionagem e Inteligência americano infiltrava espiões em grupos para-militares e assim obtinha as informações para o planejamento das ações, findando em soldados que as executavam.

Ivan voltou ao momento pouco antes do pouso. As equipes em terra aguardavam os feridos para remoção e atendimento. Como de costume, o cabo aguardou até que o último soldado fosse levado. Enquanto se afastava do heliporto, viu as aeronaves sendo levadas para o hangar para uma rotina de higienização e reparos, pois havia sangue no assoalho e furos de balas na fuselagem.

O sol nasceu. Logo em seguida a corneta soou alto marcando o inicio das atividades na base. Sempre ao ouvi-la, Ivan se lembrava de uma frase encorajadora:

"Um dia como fuzileiro é como um dia na fazenda: Cada refeição é um banquete. Cada pagamento é uma fortuna. Cada manobra é um desfile. Eu amo ser fuzileiro!" — e com um sorriso no canto da boca preparou-se para mais uma batalha diária.

Caminhava com olhar fixo para o refeitório quando um mensageiro o interceptou:

— Cabo, recado do Alto Comando — entregou e saiu.

Dentro do envelope a mensagem:

"REUNIÃO PARA AMANHÃ ÀS 8H"

Ele tinha ideia do que seria, mas não quis se preocupar antecipadamente:

"Tudo a seu tempo." — pensou retomando a caminhada.

Ivan sentia que algo estava diferente, mas não sabia o quê.


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Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora