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Mesmo com o seu pensamento absorto e descontente, ela se esforçou em observar tudo ao seu redor: o solo oscilava entre subidas e descidas com mato revolto e alto. Havia também grande quantidade de arbustos e arvoredos que cercavam frondosas árvores e adensavam mais ainda a mata. Uma mescla de várias fragrâncias era liberada pelas folhas e flores, compondo o aroma daquela floresta. Vez ou outra um zumbido passava pelas laterais, pássaros voavam cantando pelas redondezas e folhas balançavam ao sabor do vento. Tudo isso compunha a Base Avançada 50.

Guynive olhou para o ponto de onde vinha o vento leste e, distante dali, viu um emaranhado de nuvens. Nada com o que se importar, não naquele momento. Despreocupada, entrou na floresta, sumindo por entre a vegetação. Após um tempo ela chegou num ponto mais alto, de onde desceu até um terreno acidentado de mata densa. Havia ali rochas, tocos, urtigueiros, carrapichos e espinheiros, o que dificultaria o seu avanço, mas como se não os sentisse, ela atravessou. Daquele lado da reserva militar era o início de um vale. Ali onde estava, era só o começo da Encosta, como os militares chamavam a precipitação que, ao final de barrancos, árvores e terra solta, chegava a um córrego que seguia até o rio e, este, por incontáveis quilômetros.

Ela seguia por esse caminho, paralelo ao som das águas, observando cada rico detalhe da natureza e ouvindo os barulhos, como os das folhas secas que crocavam ao serem pisadas. O ar era abafado, mas as sombras dos galhos mais altos tornavam a temperatura mais amena.

Tendo certeza que não havia ninguém naquelas imediações, acelerou o quanto pode e, sem deixar pegadas, avançou por milhas, vale adentro. Depois desacelerou, e agora seguia por onde as altas árvores se adensavam, a ponto de seus galhos se enroscarem uns nos outros criando um teto de folhas que pouco permitia a entrada dos raios solares, dessa forma a floresta se tornava cada vez mais fechada e escura.

Desbravando por ali, ela encontrou uma claridade entre a vegetação, pois chegara diante de uma descida íngreme. Dali Guynive pode observar por cima das copas das árvores que cobriam como um tapete verde todo o planalto lá embaixo. Respirou fundo e franziu o cenho, prendeu a bandoleira do rifle, travou o botão do coldre da pistola, prendeu o rádio e conferiu as amarras da mochila:

"Por que estou fazendo isso do jeito mais difícil?" — se questionava.

Contudo a resposta era simples: manter a mente ocupada e não pensar tanto em Ivan. E aquele desafio lhe gerou uma excitação em não saber o grau de dificuldade nem o que lhe esperava lá no fundo. Assim desceu: suas botas deslizavam ou afundavam com muita facilidade; ora cascalho, ora terra granulada que não firmavam seus passos. Sem a ajuda dos arvoredos e matos, não conseguiria. Vez ou outra, pequenas pedras se soltavam, rolando abaixo, atingindo maiores que desciam quebrando o que estava em seu caminho. E assim era possível ouvir o barulho de coisas se partindo ao longe. Ela sorriu.

Quando terminou a descida, Guynive encontrou o córrego. Não era profundo nem largo, e em boa parte coberto ou invadido por plantas e troncos. Suas águas eram límpidas e, em vários trechos, era possível enxergar pequenos peixes e pedras no fundo. O som dessa corredeira lhe era relaxante, assim como tudo à sua volta.

A garota sentou-se em um tronco que tinha uma de suas partes submersa na água, segurou uma folha seca e a cheirou, ficando naquela posição durante algum tempo, até que disse:

— Sou eu — e, na outra margem, atrás de uma relva, folhas farfalharam. — Venha.

Do meio da densa vegetação saiu alguém que, rápido, atravessou o vau, parando ao lado de Guynive. Era um rapaz pouco menor que ela, tinha bom porte físico, cabelos castanho avermelhado e íris cor de mel. Seu olhar era sereno e seus gestos tranqüilos.

— Porque aqui para um encontro?

— Eu não teria como explicar a sua presença dentro da base.

— Entendi.

Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora