O frio tocou-lhe a pele ao entrar pela abertura entre a camisa e a calça, por baixo do grosso casaco.
— Droga! — rosnou encostando a metralhadora AK-47 na parede e arrumando a roupa.
Olhou pela janela e viu o mesmo que havia ali durante todo o dia: neve e, julgando pela coloração do céu, seria o mesmo que veria por semanas.
"Não bastava me deixarem num dos cantos mais isolados desse chiqueiro, ainda deixaram poucos cigarros."
Foi até o fogareiro, que ainda soltava alguma fumaça, puxou a carteira que estava em seu bolso e sacou um, deixando outros quatro, acendeu em uma brasa e deu uma boa tragada, soltando a fumaça para o alto. No bolso do casaco, conferiu um pedaço de pano vermelho. Retornou para a posição inicial frente ao vidro, pegou a arma e, pela bandoleira, pendurou-a no ombro, enquanto soltava outra baforada. Foi quando viu, através da janela, algo se mover pela neve.
— Mas que diabos é aquilo?
Colocou o cigarro no canto da boca e limpou o gélido vidro com a mão revestida por uma densa luva de couro, tentando melhorar a visibilidade. O pensamento de chamar alguém ocorreu, porém deveria se certificar antes de tomar qualquer atitude. Empunhou a arma e a engatilhou, marchando para a porta. Dois passos depois de cruzar o batente, recebeu o primeiro tiro e, antes que desse conta, recebeu o segundo, caindo morto. O único som que se ouvia era o vento cortando por entre telhas e folhas. Logo após a porta, agachados e recostados na parede da casa, os soldados da 3ª esquadra permaneciam com as pistolas em punho.
— Excelentes disparos Curt. E vocês escondam o corpo enquanto me reporto ao capitão — ordenou, Roger.
Quando recebeu a informação de perigo iminente, Matt gesticulou avisando sobre o vigia abatido. Ao ouvir a informação de Adrian, Ivan ordenou:
— Prossigam!
E com neutralização desse inimigo, perceberam que o perigo estava próximo e que, dali em diante, todo o cuidado seria pouco. A prioridade em encontrar Adnevi Condum se tornava obscura: precisavam descobrir onde ele estava, mas também o que acontecera aos habitantes da cidade.
A ordem foi reiterada e, sobre aviso, os grupos avançaram em suas posições originais.
De cima da edificação Guynive permanecia atenta a todos os movimentos de Ivan e tentava antecipar qualquer possível situação de risco.
"Siga com cuidado, pois vigio os seus passos e meu coração caminha contigo..."
Esses e outros mantras emergiam na mente da garota, que mantinha firmeza e técnica:
— Ray?! — ela indagou ao militar.
Naquela circunstância o soldado sabia que ouvir seu nome significava:
"— Há alguma movimentação em seu perímetro?"
Ao que ele respondeu:
— Nada!
De Eddie ela obteve a mesma resposta e, de tempos em tempos, refazia a pergunta sem tirar o olho da mira telescópica do rifle M40. Nesse compasso ela viu os três grupos pararem nas últimas casas de suas respectivas ruas. Dali avançaram e se reuniram junto das árvores que cercavam o prédio, e formavam um alto muro de neve, o que ocultava os soldados. Estes mesmos se assustaram quando viram Ray se aproximando pela retaguarda.
— O que faz aqui? — cochichou Ivan, mais nervoso que assustado.
— Guynive me enviou para lhes avisar que, em todas as quatro torres do prédio, existem sentinelas. As que estão no 2º andar se comunicam de meia em meia hora com soldados que vigiam as ruas. Caras como aquele que vocês abateram.
— E quando será o próximo contato?
Ray olhou para o relógio dizendo:
— Em 15 segundos.
— 15 segundos? Então seremos descobertos.
Ambos, olhando pra trás, viram o homem que abateram, caminhando tranquilamente de um lado para o outro. Ele olhou para a torre e acenou com um pano vermelho. O vigia no 4º andar olhou com o binóculo e piscou a luz de sua lanterna indicando um "tudo certo".
— Mas nós o...
— Capitão, aquele é o Eddie — esclareceu, Ray. — Guynive descobriu a tempo e planejou isso.
— Como... como ela descobriu?
— Observando a movimentação da torre norte. Parece que é uma movimentação cíclica no sentido anti horário.
Mais fria que a neve que o cercava foi a sensação que lhe tocou o espinhaço do capitão.
"Ela está só!" — Ivan se aturdiu.
Queria falar, mas as palavras travaram em sua garganta e parecia nem mais respirar.
— O senhor está bem? — perguntou, James, vendo-o naquele estado.
Ele se controlou e voltou a si. Sabia que não poderia protegê-la tão na vista assim. Entretanto, se pudesse, não a deixaria embarcar naquela missão. Não restando opção o capitão comandou:
— Estou bem. Estou bem. Vamos prosseguir! Temos tempo até o próximo contato.
— É... senhor, mais uma coisa. — interrompeu Ray.
— Fale, soldado!
— A entrada principal dessa construção fica ao norte. Guynive tem quase certeza que viu um rio ou lago na parte sul, e também tem menos residências por ali. Ela acha que pode haver uma saída de esgoto ou algo semelhante.
Esse foi mais um daqueles momentos em que se pudesse ele a olharia nos olhos e diria:
"— Você é demais!" — Mas não pode, então comandou: — Ok! Entendi. Sidney e Nicolas procurem uma saída de água ou esgoto, rápido.
O vento ficava mais intenso e cortante, se tornando em pouco tempo uma nevasca, o que agravou a situação, obrigando os soldados a acelerarem suas tarefas. Então ambos voltaram com a resposta esperada:
— Senhor, está a uns 300 metros daqui. Naquela direção. — Apontaram.
— Tudo bem! Vamos nos preparar. Precisamos chegar naquela passagem.
Debaixo das árvores, os soldados viram os observadores nas torres. Estes fechavam as janelas para impedir a invasão pela neve, perdendo assim temporariamente a visibilidade da área externa. Então o capitão ordenou o avanço:
— Em pares! Com intervalos regulares.
Ele ainda olhou para trás tentando ver a atiradora ou seu auxiliar, mas a posição já não lhe favorecia.
Furtivos e ocultos pela neve, todos entraram pela escura galeria.
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Guynive - O Começo do Fim
RomancePara localizar o militar que lhe fora designado, Guynive precisou se infiltrar no exército norte americano. A sua ira aumentou quando, ao desembarcar na base da Turquia ela descobriu que Ivan era apenas um cabo. Foram dias difíceis em que ela brigou...