Guynive repousava após uma de suas refeições, e os seus sentimentos oscilavam enquanto acariciava a barriga, que já estava grande por aqueles dias. E ela conversava:
— Será uma linda garotinha, forte e obediente. — O sorriso lhe marcava a feição, mas logo a sua voz embargou: — A menininha da mamãe e do papai...
Impossível para ela não se entristecer ao olhar a cama e ver o corpo jazendo sem que pudesse fazer nada. Porém não eram em todos os momentos que Guynive se entregava a tais sensações. Naquele instante seu sentido lhe avisou que algo irrompera o perímetro de segurança da floresta, em algum ponto que ficava a vários quilômetros dali. Ela passou outro olhar rápido em Ivan e partiu. Decolou com todo o desejo e fúria possíveis alcançando, em segundos, o tempestuoso céu. Guynive controlava o clima, criando nuvens de um cinza negro, que transformavam o dia em quase noite, e trazendo consigo um frio cortante que, às vezes, gelava até os ossos. Tudo aquilo, em parte, espelhava o sentimento da celestial.
Em solo as árvores sacudiam enquanto suas folhas subiam rodopiando aos ares, troncos rangiam, o mato era balançado por ondas de vento que não eram causadas apenas pela vindoura tempestade, mas também pela poderosa presença de Guynive.
Num piscar de olhos ela chegou à extremidade noroeste da floresta. Voou quilômetros em segundos. Presa à sua cintura a espada variava a coloração, indicando a proximidade com o alvo. Guynive diminuiu a velocidade enquanto se camuflava e pousava. Isso foi há centenas de metros de um corpo que estava caído sobre a grama. Ela pisou delicadamente no solo acidentado se ocultando atrás das árvores, e viu que o senhor não estava só.
"Preciso me distrair um pouco." — tramava.
Então uma energia distorcida abandonara o corpo e agora, do lado de fora, tomou forma. Guynive o enxergava perfeitamente: tinha uma armadura com linhas angulares, o que lhe conferia certa mobilidade; armamento básico, que lhe deixava apto ao combate; e não era grande, o que lhe daria boa velocidade.
O demônio agia na vida daquele senhor de meia idade, mantendo-o preso ao vício da bebida, visto as garrafas caídas ao lado dele. Apenas asseguraria que o hospedeiro mantivesse o hábito, e os transtornos decorrentes do alcolismo, até a morte.
"— Deve ser rápido e vai garantir um bom exercício." — se entusiasmou enquanto respondeu para a espada: — "Tudo bem! De forma silenciosa e limpa."
Agora o espírito opressor estava totalmente do lado de fora, e um tanto quanto curioso com o lugar. Foi quando Guynive sussurou um poder:
— Lo... Edin... The... Lë...
Ela sentiu certa satisfação ao pronunciar tais palavras e ver a linha de energia tracejando um caminho oculto até chegar ao seu objetivo: carne humana. Imediatamente o senhor, esfarrapado terno marrom, pendeu a cabeça para o lado e apagou roncando. Ao seu lado uma garrafa de pinga e uma mochila vermelha.
"Agora mais um ajuste." — Guynive sussurrou: — Ëdnë... Rôgo...
Então a onda de energia se espalhou por todos os lados, até que tocou o demônio que, percebendo, tentou voltar rapidamente para seu hospedeiro, mas não conseguiu. Forçou uma, duas, três vezes, e nada. E não somente ali, quando forçou o chão, as árvores e as pedras, também não conseguiu atravessá-los, então percebeu que agora se tornara matéria.
Não se contendo mais, Guynive pisou no mato seco fazendo barulho proposital que chamou a atenção da criatura, que se voltou imediatamente para ela. Obviamente ele conhecia seres celestiais como ela, e sabia das suas intenções, porém estas ficaram mais claras quando a garota sacou a espada de energia, girando-a duas vezes no ar. A luminosidade brilhou nos olhos do demônio que não esperou, e saiu numa fuga tresloucada o mais rápido que pode.
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Guynive - O Começo do Fim
RomancePara localizar o militar que lhe fora designado, Guynive precisou se infiltrar no exército norte americano. A sua ira aumentou quando, ao desembarcar na base da Turquia ela descobriu que Ivan era apenas um cabo. Foram dias difíceis em que ela brigou...