Quando o carro vermelho virou na esquina, um trovão rugiu no céu, acompanhado por uma forte ventania que sacudiu a vegetação. Do alto do morro, atrás daquele tronco de árvore, Guynive assistiu a tudo entre o casal e se, em algum momento, esteve calma e contida, isso ficou no passado. Pois, ao ver toda aquela carinhosa cena e achar que era ludibriada, o fogo do ciúme lhe ardeu, acendendo a ira:
"Quem ele pensa que é?" — se perguntava furiosa, olhando para o rapaz.
Com muitas preocupações em mente, Ivan destrancou a porta e entrou em casa. Tocou o botão do interruptor, mas a luz não acendeu:
— Agora é todo dia?
Mal trancou a porta da frente e a entrada dos fundos era atacada violentamente, sacudindo e estremecendo. Pedaços de madeira se soltavam do arco enquanto tijolos e ripas eram rompidos. Algo muito forte investia contra ela. Ivan empunhou a pistola voltada para cima e, silencioso, foi naquela direção. Se posicionou pouco antes, mirando em seu meio quando as investidas pararam. Se aproximou tentando ouvir algum som que viesse do lado de fora, mas não captou nada. Devagar estendeu a mão em direção à maçaneta, e assim que foi para tocá-la, o mesmo transtorno acometia a porta da frente. Os golpes repetidos rompiam parafusos e empenavam dobradiças, a chave voou longe após pancadas e solavancos que partiam as chapas de madeira.
Com muito cuidado o rapaz retornou para a sala, se aproximando da porta pela lateral. Assim que Ivan encostou na parede com a arma próximo ao rosto, tudo cessou. Tentou ouvir qualquer ruído diferente, mas apenas o vento fazia um suave silvo. Aguardou alguns instantes e focou a maçaneta. Assim que direcionou sua mão para tocá-la, lenta e com rangidos, a porta se abriu: a fechadura não agüentara as investidas e rompera. Ivan voltou a sua atenção para a arma e se preparou para atirar caso algo atravessasse por ali. Esperou por um tempo e, como nada aconteceu, decidiu checar ao lado de fora. Lá chegando viu o tamanho dos estragos: uma das vigas de sustentação do alambrado fora rompida e a cobertura se soltou, ficando pendurada. O chão rachou em vários pontos como se algo grande e pesado o tivesse forçado. O portal trincou deixando madeiras pontiagudas à mostra. A porta sofreu severas avarias:
"Mas o que é que está acontecendo?"
Naquela hora a chuva chegou cadenciada, tamborilando no telhado, de vez em quando um raio cortava o céu, acompanhado por um trovão. Furtivo, Ivan verificou as laterais externas, mas não havia nada o que ser encontrado. Após entrar e, depois de encostar a porta com dificuldade, usou uma cadeira que ficava ao lado da janela para travar aquela passagem. Em seguida recostou no sofá, com a arma apontada para o chão.
"Que droga toda é essa?"
E não percebeu que algo estava junto com ele dentro da sala, permanecendo oculto num dos cantos e sem fazer qualquer ruído. Algo que o observava, aguardando o momento certo. Foi quando Ivan se lembrou de pegar uma lanterna que estava num gaveteiro por ali. Não se recordava bem onde, mas foi tateando até encontrar o móvel próximo à janela. Teve então a sensação de que não estava só, mesmo assim abriu a gaveta e pegou o equipamento. Seu coração disparou no momento em que um relâmpago brilhou lá fora, clareando a janela e silhueta se mostrou. Quando ia mirar com a arma, uma voz sibilosa lhe chegou aos ouvidos:
— Quem era ela e o que fazia aqui?
Não reconheceu a voz de imediato, mas deduziu pela pergunta:
— Guynive?
Durante certo tempo houve silêncio, mas foi respondido:
— Acha que pode me enganar? — dessa vez ele teve certeza de quem lhe falava.
— De que fala?
— Da mulher que te acompanhou. Acha que não vi?
— Sim, a Daisy me deu carona até aqui. Nada além disso.
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Guynive - O Começo do Fim
RomancePara localizar o militar que lhe fora designado, Guynive precisou se infiltrar no exército norte americano. A sua ira aumentou quando, ao desembarcar na base da Turquia ela descobriu que Ivan era apenas um cabo. Foram dias difíceis em que ela brigou...