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Eram quase 6 horas quando Guynive, caminhando, chegava ao refeitório. Na frente do prédio, um ônibus desembarcava mais soldados e estes engrossariam a fila do café da manhã. Após a refeição receberiam as instruções. Ela ajeitou a mochila nas costas e, em sua mente, divagações:

"Ivan estará bem? Será que levantei alguma suspeita?"

E um suspiro prolongado foi inevitável. Se mantinha tão embebida em seus pensamentos que não percebeu quando se serviu, nem quando se sentou. Na sua frente a bandeja com suco, leite, café, maçã, milho, ovos e pão e, sinceramente, nunca lhe pareceram tão apetitosos.

"Porque é tão difícil afastá-lo dos meus pensamentos e porque é tão bom mantê-lo dentro de mim?"

Como se as paredes fossem transparentes, Guynive olhou para fora e viu que as nuvens se moviam rápidas e mudavam de uma cor acinzentada para outra dourada. Era o efeito do sol que se movia por trás do enevoado. Além disso, a garota sentia um leve aquecimento na temperatura da brisa.

"Apareça!"

E as nuvens se disciparam, dando passagem para os primeiros clarões, que tocaram as copas das árvores. Guynive viu tudo isso enquanto se alimentava.

Após a refeição o grupo de soldados se aglomerou no estacionamento frente ao refeitório, onde embarcariam nos transportes que os levaria para os seus postos. Um sargento coordenava a saída do pessoal:

— Acelerado! Acelerado! — gritava o superior.

Guynive parou frente a ele que conferiu o nome na prancheta:

— Entendo. Mas parece que o veículo que faz essa rota está atrasado.

O sargento deixou a prancheta colada em si mas, mas Guynive leu a mensagem através da madeira e dos papéis:

"SOLDADO GUYNIVE ENCAMINHADA AO SSLO, PARA APOIO AOS SERVIÇOS DE VIGILÂNCIA."

Olhou para uma placa ao lado do estacionamento onde estava escrito:

"SSLO, 39 QUILÔMETROS."

E apontava para a direção, à oeste. Ajustando melhor a mochila nas costas, começou a caminhada.

— Não vai esperar? — questionou o sargento.

— Vou adiantando.

Guynive baixou a cabeça e marchou. Era algo inerente à ela.

— Garota maluca! — resmungou o militar.

O trecho era asfaltado, cercado por grama grossa e baixa, que insistia em invadir a pista. Depois de 500 metros Guynive viu as primeiras árvores, altas e frondosas, nativas da região, e que foram mantidas por toda a base. Quando passou do 4º quilômetro, observou que eram raras as construções e não havia quase nenhuma pessoa, mas sentia sobre si os olhares das sentinelas, camufladas pela mata:

"Ainda não posso." — pensou ao desistir de acelerar a caminhada.

Os mornos raios de sol tocaram suas costas e Guynive parou saboreando a sensação, foi quando ouviu, distante, o ronco de um motor. Ao se virar, viu ao longe o veículo despontando. Era um antigo caminhão de transporte de tropas que vinha vazio e parecia sofrer para avançar cada metro do caminho. Ao se aproximar ele diminuiu a velocidade emparelhando com a garota, e o motorista colocou a cabeça pra fora:

— Desculpe o atraso soldado, tive problemas pra fazer o velho Mack funcionar. Mas pode embarcar.

Guynive correu para a carroceria, subiu e sentou-se em um banco lateral. Ela era a única passageira. O motorista engatou a marcha com dificuldade, com a transmissão fazendo ruídos estranhos e, assim que pisou no acelerador, a fumaça preta subiu pelos escapamentos atrás da cabine. Moroso o caminhão se moveu.

Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora