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Andavam há 15 minutos e o início da madrugada esfriou, coisa que o rapaz sentia, mas Guynive não. Sob o olhar da garota, Ivan parou colocando o balde no chão, retirou seu grosso paletó e a cobriu.

"Talvez ela sinta frio." — Ele pensou.

— Você não sente frio? — Estranhou a garota.

— Pouco sentirei, pois o efeito da bebida ainda não passou por completo — respondeu pegando o balde e voltando a caminhar.

Mesmo estando mais solto por conta do álcool, Ivan não ousava dirigir a palavra à moça. Nascia nele a preocupação em dizer algo que a enfurecesse e, nesse caso, o final era bem conhecido. Em outros momentos da caminhada ele resmungava baixo, de forma quase imperceptível, como se deixasse escapar seus pensamentos, e ficava nisso. Dava a entender que ele começava a ter consciência do que fizera e falara durante a dança.

Já Guynive o olhava como se esperasse uma palavra, uma conversa, mas nada acontecia. Em contra partida ela abraçava o paletó que recebera, e sentia o cheiro de Ivan.

Após 30 minutos de caminhada silenciosa, viraram numa esquina:

— Ali está ele. Graças à Deus! — Ivan correu para o carro como uma criança em direção a um presente. — Só precisa de água. Acho...

Destrancou a porta e puxou a alavanca que abria a capô.

— Com o frio que está fazendo, se pudesse, o ponteiro desceria para o lado negativo — disse em tom de piada.

Guynive permanecia calada, remoendo suas dúvidas. Ela só voltou a si quando ouviu:

— Eu vou colocar um pouco de água.

— Tudo bem.

— Aí você liga e pisa de leve no acelerador, ok?!

— Sim.

Ele foi para a frente do veículo e ergueu o capô. Guynive sentou-se no banco do motorista e aguardou:

— Pode ligar.

De imediato o motor roncou e o rapaz começou a despejar o líquido.

— Agora acelera um pouco.

E o carro roncou mais alto e o reservatório esvaziou, então Ivan continuou completando a água e pediu novamente:

— Acelera mais um pouco.

De novo o motor aumentou a rotação e ele quase esvaziou o balde, até que a água parou próximo à marcação mínima.

— Tudo bem! Tudo bem! Acho que vai dar certo, se a mangueira não estiver rompida.

Assim que abaixou o capô e o travou, viu que Guynive estava sentada no banco do passageiro. Ele jogou o restante da água sobre a grama próxima e foi ao porta-malas colocando o balde e o fechou. Sentou no banco dizendo:

— Você é rápida, heim?!

Ela o olhou e sorriu.

— Ao menos te deixarei no dormitório feminino — disse confiante.

Quando engatou a 1ª marcha, o motor apagou.

— Mas como?!

Olhou para Guynive, que permanecia uma rocha de serenidade.

— Como farei pra te levar pra casa?

E o motor ligou sem que tocasse na chave. Ele preferiu imaginar que seria uma pane elétrica e saiu com o carro vagaroso para o lado oposto da sua residência. Não era tão grande a distância, mas Ivan vinha lento se precavendo de causar um acidente. Era quase 1 hora da manhã quando o carro, com faróis apagados, parou a algumas ruas abaixo do dormitório feminino.

— Acho que é o mais próximo que posso chegar sem chamar atenção — falou com voz baixa.

Aguardava que ela desembarcasse, porém a garota não se moveu. Ele esperou por uns instantes imaginando que ela estivesse repassando algo mentalmente e, tentando lhe instigar, disse:

— Bem, então é isso...

Guynive se mexeu apenas para retirar as luvas e as guardou na pequena bolsa, depositou-a sobre o colo e assim permaneceu.

Na verdade algumas idéias passaram na cabeça de Ivan, mas ele não se encorajava em falar, que dirá fazer. Pensou que, na melhor das hipóteses, aquilo lhe renderia semanas de internação hospitalar, ou coisa pior.

"Será que ela quer conversar?" — foi a única coisa que se propôs a imaginar.

Quando girou a chave para desligar o carro, a surpresa: o motor não desligava. Tentou uma, duas, três vezes e nada. Os pedais também não respondiam, nem os botões do painel.

"Jesus Cristo." — pensou tentando não transparecer preocupação.

Olhou para Guynive que mantinha uma tranquilidade inquietante.

"Bom, talvez ela queira que eu abra a porta para que desça." — pensou dizendo: — Com licença!

E avançou seus dedos rumo à maçaneta da porta do passageiro e, pouco antes que pudesse tocá-la, algo segurou e suspendeu sua mão. Ivan fechou os olhos esperando a dor de uma pancada ou uma torção, mas ficou surpreso ao sentir o toque da superfície morna e macia. Ao abrir os olhos ele via a jovem segurar a sua mão e pressioná-la contra o seu rosto.

Ele não acreditava no que acontecia e, até aonde se lembrava, por bem menos fora parar em uma enfermaria. Aquela situação, seja o que fosse, lhe era agradável. Viu que ela estava com os olhos fechados enquanto mantinha o toque, sentindo-lhe a textura da pele, o cheiro, as imperfeições.

Ivan tentou recolher a mão mas, agora sim, sentiu a resistência e a força de quem a segurava.

— Não precisa ter medo de mim. — Lhe sussurrou Guynive.

Foram essas palavras, e o toque suave e inocente, que acenderam uma faísca no coração de Ivan e momentaneamente ele se desarmou. Assim que Guynive abriu os olhos seus olhares se cruzaram, criando um elo.

— Não podemos ficar aqui, mas... eu não sei para onde te levar — disse Ivan, lutando para se manter lúcido e coerente.

— Apenas me leve. — E ela liberou a mão do rapaz.

Ele segurou o volante e acelerouo veículo saindo da área do dormitório.

Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora