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Alguém lhe sacudiu. Mesmo com os olhos fechados, sentia o forte cheiro de querosene, além de alguma coisa queimada. O frio à sua volta era cortante e, se estivesse sem o seu uniforme especial, talvez já estivesse congelado. Além disso o seu corpo doía por inteiro, pois, a força do impacto parecia ter tirado todos os seus ossos dos lugares.

Dessa vez a sacudida foi mais forte e não teve como ignorar, então abriu os olhos, mas sua visão estava turva. O olho esquerdo estava com a visão melhor então pode ver um céu nublado, com flocos de neve e cinzas, sendo arrastados com ímpeto pelo forte vento.

Não viu o sangramento no ouvido, mas ouvia um zunido constante que atrapalhava a sua percepção próxima. Mas, bem distante, ainda ouvia gritos desesperados e xingamentos.

Foi chamado novamente, porém não conseguia dar atenção a quem o fazia. Sentia o corpo entorpecido como se não quisesse obedecê-lo:

— Ivan, pelo amor de Deus! — era Guynive, que o chamava sem mover os lábios. — "Ouça a minha voz e volte para nós".

Ele não sentiu o toque no pescoço, mas um leve calor que percorreu seu corpo. Logo suas dores cessaram, a visão e audição foram restabelecidas e sentiu-se revigorado. Sentou-se olhando à volta:

— O que... O que aconteceu?

A garota lembrou-se do breve passado:

— Segurem-se! Vamos cair! — avisou, Petter.

Naquela baixa altitude o piloto sabia que era impossível saltar de paraquedas.

Então Guynive adicionou peso extra à parte traseira do avião, que desceu mais que o bico, se reposicionando, e permitindo que caísse de barriga sobre um planalto coberto de neve e com poucas árvores.

Voltando ao momento ela perguntou:

— Não se lembra? — afagou-lhe o rosto. — Nós caímos.

Então gritos distantes ecoaram nos ouvidos do soldado.

— Não... muito bem...

De onde estava Ivan enxergava uma grande vala por vários metros. Espalhados ao redor dela equipamentos, pedaços da estrutura e corpos, muitos corpos; ao final, o que restara do avião.

Diante da resposta Guynive continuou:

— Na última parada você pediu para o capitão Marquez para seguir viagem em Memphis — isso fez sentido para ele. — E enquanto nos aproximávamos de terra firme tivemos algum tipo de pane.

Ainda zonzo ele perguntou:

— Você... você está bem?

Ela o olhou com ternura:

— Sim.

— E os outros? Onde pousaram? — ele olhou para os lados. — Onde está Rose e o comando da missão?

Guynive fez uma breve pausa querendo, mas não houve como atenuar a resposta:

— Não acho que tenha acontecido outro pouso. Sinto que, nesse momento, os passageiros de Rose encontram-se no fundo do Mar de Barents a uns trinta quilômetros daqui.

— Como pode ter certeza?

Por um instante ela se silenciou até que respondeu através da lógica:

— Eles não nos contataram, mesmo sendo essa uma situação de emergência.

— Talvez tenha razão, mas é preciso constatar.

Ivan se silenciou enquanto se punha de pé. Colocou a mão direita sobre o coração fechando os olhos e pronunciou:

Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora