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Faltavam poucos quilômetros para chegarem ao gélido continente russo. Tudo seguia dentro da normalidade: vento não tão forte, boa visibilidade e equipamentos respondendo bem. Nessas condições a aeronave Rose realizava uma manobra que consistia em ganhar altitude bem superior aos 200 metros para saírem da linha da água e permitir assim o salto de para-quedas dos militars. Então o piloto imprimiu mais potência nos motores e puxou o manche para trás, fazendo a aeronave subir. Quase no ponto ideal o copiloto o questionou:

— Jaffes, aquilo é normal?

— O quê?

Então o rapaz apontou para o horizonte:

— Aquilo lá na frente.

Entres as nuvens, num lugar mais escurecido que o normal, raios se desprendiam em várias direções.

— Vinte anos de serviço e te garanto que nunca vi nada parecido.

Não havia preocupação na voz do piloto, mas Silas se incomodou:

— Não será melhor avisar, Memphis?

— Não podemos usar o rádio. No mais devem ser nuvens energizadas, passaremos por elas sem sermos afetados.

— Sim... — quase pensou o co-piloto de tão baixo que respondeu.

Silas não teve tempo de sentir qualquer positivismo com a conversa, pois a primeira rajada de vento chicoteou e o avião sacudiu violentamente.

"Merda! O que foi isso?" — Jaffes sentiu o solavanco no manche, mas ele manteve o pulso firme.

A segunda rajada veio mais forte que a anterior, fazendo o piloto soltar o manche e agarrá-lo rapidamente. Silas sentiu o momento de tensão, mas se manteve calado, confiando na experiência do companheiro.

O vento abrandou e os controles voltaram ao normal, assim puderam ter contato visual com o imenso paredão de gelo que parecia se erguer do mar, 400 metros acima da água. Ele indicava que chegava ao fim o voou sobre o oceano. Foi das últimas coisas que viram:

— Aquilo é chuva? — perguntou, Silas.

Das nuvens descia algo que era aspergido em sua direção.

— Nessa temperatura? Chuva? Impossível. Só pode ser...

Tarde demais para qualquer consideração. A primeira acertou a asa esquerda do avião, não causando dano, mas a segunda conseguiu amassar uma chapa de metal. Dali pra frente o granizo caiu forte e denso, variando o tamanho dos fragmentos e os estragos que produziam. Os passageiros no interior da aeronave ouviam os ecos dos impactos na fuselagem do C130 que resistia bravamente.

Os fragmentos de tamanhos diversos preocupavam o piloto pois, a integridade da aeronave estava em risco. Um granizo do tamanho de um melão, atingiu o motor 4, arrancando a tampa e deixando mecanismos e fiações expostos. Não viram isso, mas ouviram o impacto.

— O que está acontecendo? — a preocupação estava na voz do copiloto.

— Seja o que for não está correto! Avise Memphis para desviar dessa rota! — ordenou, Jaffes.

Os tamanhos das pedras de gelo aumentavam, e pior: passaram a ter o formato mais pontiagudo. Outra delas acertou a ponta da asa e a empenou. O piloto sentiu a dificuldade com a inclinação do manche para a esquerda.

— Memphis, aqui é Rose! Câmbio! Memphis, aqui é Rose! Câmbio!

Tentava Silas que só tinha como resposta a estática do equipamento. Eles não sabiam, mas a antena do rádio fora arrancada por um impacto. Neste instante os capitães Ralf e Marquez entraram na cabine, tentando se equilibrar:

— O que está acontecendo?

— Granizo! — Berrou Jaffes — E intenso!

Um pedregulho de gelo, quase do tamanho de uma geladeira, atingiu e empenou a asa da cauda. E, antes que pudesse reclamar outra, com as mesmas proporções, atingiu o motor que já estava descoberto. Ele não explodiu, mas incendiou, liberando fumaça preta. Rose perdeu a estabilidade e inclinou-se ainda mais para a esquerda, deixando o avião mais exposto ao granizo que agora o atingia por toda a parte superior.

— Corte o combustível do motor 4! Rápido! — Jaffes gritou, enquanto lutava para estabilizar o voo. — Avise que vamos cair!

— Mas o rádio não responde!

— Continue tentando!

O manche vibrava descontrolado nas mãos do piloto quando Silas recomeçou:

— Mayday! Mayday! Aqui é Rose, estamos caindo...

Passava as coordenadas quando o piloto bradou para os capitães:

— Prepare os homens para o salto...

— Mas ainda estamos sobre o oceano. A água gélida os mataria. — gritou, Marquez aflito.

A resposta veio com desespero:

— Ao menos terão uma chance.

O gelo continuava atingindo o avião e, os soldados, viram quando os primeiros buracos e rasgos apareceram na fuselagem da aeronave. No momento em que Jaffes estava com a mão sobre o painel auxiliar pronto para baixar a rampa, uma pedra de gelo, pouco menor que um carro, atingiu-os em cheio. A força do impacto, não só matou os pilotos como arrancou toda a cabine. Com o sistema hidráulico avariado a rampa travou, prendendo a todos. Sem os controles, a aeronave Rose inclinou-se de vez para baixo e começou a queda em parafuso. Quando o dorso ficava voltado pra cima, mais golpes sobre os tanques de combustível, que assim vazaram e, em contato com os motores que ainda funcionavam, se incineraram. A aeronave virou um amontoado de chamas, ferro incandescente e fumaça preta, caindo sem controle e sem chance para seus tripulantes.

Após o forte impacto com omar, tudo fora engolido pelas gélidas águas do norte do mundo. Todo o comandoda missão fora eliminado e o destino reservava o mesmo para Memphis que seaproximava em grande velocidade.


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Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora