— Desde que voltei você está muito calado. Que há de errado? — o novato permanecia no topo do pinheiro olhando sempre na mesma direção e pouco dando atenção ao seu companheiro — Ei, maldito! Falei com você!
Driull lançou-lhe um olhar frio, tanto quanto sua resposta:
— Nada!
Pararca sentou num galho abaixo, falando ao vento o que fez na cidade:
— Como é bom estar em outros lugares. Conseguimos embebedar um cara e fizemos ele ser atropelado — Pararca ria descompassado num som grotesco que só sua voz conseguia. — Pena que ficou só nisso.
Despretensioso Driull perguntou:
— Por acaso, nesse lugar onde estavam, havia mais segurança que o normal?
Seguindo o embalo de sua conversa quase solitária Pararca respondeu:
— O grupo era bem mais especializado, quase não pudemos nos mover. Os que tentaram se deram mal. Bando de tolos — e riu alto.
— E isso foi em todos os lugares?
— De forma alguma. Foram poucos pontos: praia, parque... — ele fez uma pausa. — Porque quer saber disso?
Calculista, Driull respondeu:
— Nada! — porém sua mente trabalhava: — "Realmente existe algo encoberto por aqui, pois não colocariam um grupo tão preparado e organizado sem motivo. Somadas as outras informações, só há uma coisa a deduzir: tentam ocultar algué..."
Antes que concluísse o pensamento sentiu algo o puxando e, pego de surpresa, despencou por uns 40 metros até o chão. Só aí conseguiu ouvir:
— Acha que me engana? Que está planejando? — esbravejou, Pararca.
Feroz como nunca ele se lançou do galho onde estava, descendo num golpe seco e poderoso com o joelho, se Driull não rolasse para o lado, seria esmagado, mas não escapou de levar um chute que o lançou para longe dali.
— Nada! Nada! — ele gritava desesperado tentando cessar as agressões.
— Não é o que parece. Você tem passeado muito por aí — e rumou em sua direção. — Eu vi a coruja morta aqui perto e fui averiguar. Senti o seu cheiro nela.
"Droga! Esse idiota colocará meu plano a perder." — analisou a situação.
Pararca era maior, mais forte e mais resistente. Em combate direto Driull teria severa dificuldade em vencê-lo. E como a tolice de Pararca era proporcional ao seu tamanho, não adiantaria explicar. De opção restou apenas a mais óbvia: fugir.
Enquanto corria, Driull usou sua habilidade com a voz, simulando o som de combatentes chegando e Pararca olhou para os lados tentando identificar de onde viria o ataque:
— Chamou seus comparsas? Então estava de caso pensado. Que venham! — e o demônio sacou suas lâminas curvas se preparando para o embate.
Porém nada lhe chegou e aquilo foi mais que suficiente para Driull, em velocidade, se mover por entre as árvores até chegar ao rio. Vindo lá de atrás, bem baixo, ainda conseguiu ouvir o grito de Pararca:
— Vou te farejar até te encontrar e te destruir. Miserável! Maldito!
O que ele falava não era só uma ameaça. O olfato de Pararca era bem apurado, sendo fácil que encontrasse suas presas, principalmente quando estava motivado seja por cruel prazer ou maldade ordenada.
Mas, por aquele momento, Driull conseguiu fugir pulando no rio e subindo a correnteza. Não sabia onde se esconder, mas tinha uma vaga ideia de alguém que poderia lhe abrigar:
"Tida, Adizam e Edavas podem me ajudar, mas para isso preciso chegar em Nasburadã e de lá para o sub-acampamento."
E rumou para lá.
P:142/418
VOCÊ ESTÁ LENDO
Guynive - O Começo do Fim
RomancePara localizar o militar que lhe fora designado, Guynive precisou se infiltrar no exército norte americano. A sua ira aumentou quando, ao desembarcar na base da Turquia ela descobriu que Ivan era apenas um cabo. Foram dias difíceis em que ela brigou...