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O diálogo que aconteceria seria denso porém não havia mais como postergá-lo. Independentemente do que fizera para ocultar os seus passos, tudo agora seria exposto e alguma atitude seria tomada.

"Manterei o controle diante das revelações?" — mas a maior preocupação era outra: — "Ao menos manterei o controle sobre mim?".

Se aproximava rápida, admirando a imensa montanha à sua frente. Num ponto próximo ao cume havia uma parte plana que assentava uma cidadela. Ela era quadrangular, de medidas exatas e extensa, com milhares de quilômetros. Os muros que a circundavam eram bem fundamentados, além de suntuosos e, fixos em cada uma de suas quatro laterais, três portões adornados com grandes pérolas. Protegendo cada portão, dois poderosos querubins. A cidade era toda constituída em puro ouro e pedras preciosas, e olhá-la era tão tocante quanto ver o nascer ou o por do sol. Ela estava diante da Nova Jerusalém. No centro da cidade uma praça para onde todas as vielas convergiam. Sobre essa estrutura, flutuando por entre nuvens, uma construção que permanecia imóvel, absoluta, eterna: a Habitação do Altíssimo.

Ela corrigiu o posicionamento de suas grandes asas, ajustando a rota do voo e agora fazia uma discreta subida. Chegando ao local, viu sete imensuráveis pináculos que se interligavam por muros baixos, e estes cercavam uma gigantesca cúpula. Paredes brancas, com portais em ouro, portas e janelas em prata e telhados em bronze. Não refletia, mas a estrutura emanava uma discreta e constante claridade. Toda aquela visão lhe trouxe saudosa sensação:

"Meu lar..." — se maravilhou diante do que via.

Com a ponta dos pés, Guynive tocou a grama perolada tão macia, que se extendia por todos os lados ao redor da estrutura, e sorriu ao pousar. Ela vestia uma roupa do mais puro linho branco e, flutuando ao seu redor, fitas com os dizeres: "Castigo Divino", "Menina dos Olhos de Deus", "Vencendo para Vencer". Só então suas grandes asas se fecharam enquanto ela fazia uma breve prece de agradecimento. Ao abrir os olhos atrás dos muros, Guynive via com satisfação um dos mais belos jardins de todo o Paraíso, lugar onde brincou e se divertiu tantas vezes. Ao ver um reparo no paredão leste, lembrou-se de como foi destruído e de quem a ajudou a reerguê-lo:

"Ah... Hamar..."

Recordou-se das prazerosas caminhadas com o Filho, e da simplicidade e do amor que Ele transmitia. A sensação lhe acompanhou enquanto cruzava o portal principal. A parte superior, sobre sua cabeça, era uma gigantesca abóboda de beleza singular, criada com enormes vigas de ouro e pedras preciosas. Abaixo, as paredes, de um branco perolado, exibiam aleatoriamente formas abstratas e em constante movimento. Estas acompanhavam quem estivesse de passagem. Era um lugar onde todas as dimensões estavam juntas, mas separadas. Logo, anjos viam os querubins, que viam tronos, que viam dominações, mas conforme a necessidade se caminhava sozinho vendo o lugar completamente vazio.

Mas nada daquilo lhe era por novidade, e Guynive deu atenção ao outro portal que dava acesso a um discreto corredor. Era estreito e, ao entrar, não se via a sua outra ponta, tamanha extensão. Porém a garota deu dois passos e, como se tivesse percorrido quilômetros, já saiu do outro lado, parando diante da escuridão. Então viu à sua frente, brilhantes linhas azuis desenhando no ar a imagem de uma singela porta. Aguardou o término, até que ela se abriu silenciosa e, assim, Guynive entrou.

Na parte interna não havia divisão entre piso, paredes ou teto. Tudo fora fundido na magnífica visão das galáxias. Lá adiante havia sete colossais pilares, que eram a sustentação de todo o firmamento, e após eles, o infinito.

A recém chegada mantinha-se atenta e aguardando, mas seu sentido estava distante dali. Após alguns instantes, diante dela, ergueu-se uma mesa. Então uma sineta tilintou, e o som percorreu a vasta imensidão. Num ponto, além dos sete pilares, esferas de energia surgiram vigorosas e radiantes, com raios e clarões emanando de seus núcleos. Era uma visão majestosa, e mensurar os seus tamanhos era impossível, pois aparentavam ter o diâmetro de planetas.

Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora