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Poucas horas depois do amanhecer, Ivan estava em uma das salas do CCB, envolvido em uma palestra das mais incômodas:

— Falo em nome da cúpula do Estado Maior e o que eu disser aqui, não será repassado a ninguém fora desta sala, sob pena de corte marcial — disse o coronel Button.

Button era uma figura conhecida dentro do escalão militar. Possuía muitas ligações dentro do exército que o admiravam por sua objetividade e facilidade em solucionar diversas situações. Era de média estatura e de voz tranqüila, mas de um olhar contundente e observador. Mesmo para ele não foi fácil manter um clima tranquilo dentro daquela sala principalmente depois do prenúncio dos termos Estado Maior e corte marcial, que denunciaram a gravidade do assunto.

— Há dois dias, enviamos um grande carregamento de armas, munições e explosivos para uma base aliada na Europa. Não se sabe como, mas ele foi interceptado e roubado em uma emboscada. Não levaram apenas as armas e veículos, mas também os corpos dos militares mortos em combate. — Pigarreou e prosseguiu. — Foi após longa perseguição que um dos terroristas foi morto e a autópsia descobriu uma pequena dilaceração desenhada em suas costas, exibindo as iniciais: "NV", que depois descobrimos serem referências de um grupo terrorista soviético chamado, Neve Vermelha. Bem, até aquele momento o assunto era restrito à Europa, principalmente à URSS. Mas, mesmo sem o auxílio deles, obtivemos o máximo de informações e, agora, temos algo com o que trabalhar.

Na sala permanecia o mais absoluto silêncio, então o coronel retomou:

— Neve Vermelha. Esse é o nome do mais brutal e cruel grupo radical que emergiu por aquelas regiões nesses últimos tempos. Com dezenas de assassinatos e roubos, eles rivalizaram com os tradicionais grupos e usurparam o poder. Agem de forma fria, tratando à todos como inimigos. Não fazem aliados e nem se relacionam nas esferas do governo. Apenas se isolam e agem. Os poucos integrantes, que foram capturados vivos, apresentavam um estado tão deplorável, com auto-flagelações, tatuagens, doenças, e drogas que os próprios médicos e especialistas russos tinham dúvidas se realmente viviam.

O coronel tomou um gole de água:

— Os investigadores e detetives se negavam à interrogá-los mas, com muito custo, o governo conseguiu reunir uma equipe e, ao seguir com as investigações, descobriram situações inesperadas: cultos religiosos, canibalismo, estupros, torturas, zoofilia. Tudo contado com riqueza de detalhes e uma satisfação de quem exibe uma estante de troféus. Um dos prisioneiros se matou durante o interrogatório e outros se suicidaram dentro da cela do departamento de polícia. Nem o próprio governo russo soube quantificar e qualificar o grupo. Fato é que há um temor, justificado, naquele país.

Button colocou uma bala de menta na boca:

— Tudo isso nos leva ao ponto central dessa reunião: o nosso governo, assessorado por vários órgãos, acredita que esse grupo irá detonar os explosivos na capital russa.

Houve um espanto generalizado.

— Coronel! Coronel! Em Moscou? Em pleno solo russo? — questionou Medanha.

— Bem, o grupo demonstrou não ter interesses em dinheiro ou poder. Os integrantes se matam sem se importar com a própria vida, que dirá a dos outros.

— Mas, senhor, não seria uma questão interna deles?

— Seria sim. Mas acompanhe esse raciocínio: eles estão de posse dos nossos explosivos, nossas armas e os corpos dos nossos soldados. Se uma explosão acontecesse dentro de um prédio do governo, por exemplo, durante o encontro do Soviete Supremo da União Soviética, a mais alta instância do poder Legislativo da URSS, os russos teriam provas cabais de que nós os atacamos, o que deflagraria uma guerra, possivelmente, nuclear — concluiu Button.

Guynive - O Começo do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora