No para-brisa, se espalhavam as primeiras gotas de chuva, e estas não vinham fracas. O vento forte e frio as empurrava com intensidade e a densidade aumentou, transformando a chuva quase numa tempestade.
Com os faróis apagados o carro parou diante da casa do militar, isso pouco tempo depois da queda de energia. Ivan só não se molhou mais por conta de um grande Linden que havia na frente de residência. Os frondosos galhos quase formavam um segundo telhado de tão fechados que eram.
Rápido ele abriu a garagem, entrou com o veículo e o estacionou. Assim que baixou o portão a energia retornou.
— Noite estranha — disse abrindo a porta para que Guynive desembarcasse.
Imediatamente suas mãos se entrelaçaram, e assim foram pela escada interna, subindo para a residência.
Ivan estava com as mãos gélidas por várias razões: chuva, frio, preocupação, mas essa última se destacava entre seus temores. Temor pela moça que o acompanhava, que era tão bela e misteriosa; preocupação pela fúria contida na mesma e receio pelo que poderia acontecer a ambos. Até ali ele conseguiu se controlar, mas ao chegarem à sala Ivan recordou de seu relacionamento num passado recente, e todo o seu sofrimento foi reavivado, não só em sua memória, mas em seu coração. E por breve momento, seus olhos perderam o brilho e o encanto e ele sentiu um frio que lhe brotava no peito. Discreto soltou a mão de Guynive. Isso poderia ter passado despercebido para outras pessoas, mas não para ela que, de imediato, sentiu essa sombra entre os dois. Ela tentou fitar os olhos de Ivan, contudo ele se esquivou, o que a incomodou sobremodo:
— Eu... eu não deveria ter vindo — disse a garota caminhando para a porta da cozinha. — Você não me deseja aqui.
Ivan permaneceu estático e sem resposta, como se transferisse toda a sua atenção para um só ponto de sua vida: o passado. A divagação o lançou para antigas situações que o deixaram aquém da realidade. Dessa forma não viu quando Guynive saiu pela porta em meio à gélida tempestade.
Sob a chuva as roupas da garota se ensoparam, o penteado se desfez, e o restante da maquiagem saiu. Mas a ela não percebia nada disso, pois se movia sem rumo e com as emoções à deriva. As lágrimas se confundiram com as gotas d'água, e nem de longe aquela frágil mulher se comparava à poderosa guerreira de outras eras.
"Ele não me aceita, não me quer." — Pensava enquanto seus passos afundavam na grama encharcada. — "Talvez eu o tenha agredido demais ou me oferecido demais."
Um relâmpago brilhou forte e a energia acabou novamente, tornando tudo à sua volta em breu.
"Quem é este que abala meus pensamentos, que me faz sentir confusa e perdida?"
Sua mente estava tão focada relembrando os erros que cometera, que Guynive não percebeu a aproximação que lhe veio pelas costas. O toque firme em seu braço a fez parar. Sabia quem a tocara, mas ela não se virou.
— Guynive! — Ele falava alto por causa da forte chuva. — Volte!
— Por que o faria? — Ela também falava alto.
— Preciso... Preciso que você fique.
— Precisa? — Ela sentiu uma faísca no peito.
— Sim, Guynive! Eu... demorei para perceber, mas... gosto de você.
— Gosta? — Havia a surpresa da aceitação na voz da garota. — Mesmo... mesmo depois de tudo o que te fiz?
Ivan se aproximou um pouco mais.
— Você apenas reagiu. — A olhou com um pouco mais de carinho. — Pode ficar?
Guynive sentiu uma euforia descontrolada e crescente, que foi tomando o seu ser, e que se agravou muito quando ela sentiu as mãos de Ivan a envolvendo: uma segurou-a pela cintura a outra tocou-lhe suave na nuca e a puxou, tocando seus lábios nos dela, findando num beijo ardente. Guynive não se esquivou, ao contrário, até tentou abraçá-lo, mas os braços não responderam, suas pernas tremeram e ela caiu ajoelhada diante de Ivan:
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Guynive - O Começo do Fim
Roman d'amourPara localizar o militar que lhe fora designado, Guynive precisou se infiltrar no exército norte americano. A sua ira aumentou quando, ao desembarcar na base da Turquia ela descobriu que Ivan era apenas um cabo. Foram dias difíceis em que ela brigou...