Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo Final

Tinta Vermelha para um Contrato

— Universo Expandido! – Disse um professor barbudo com olhos grandes e orelhas pontudas. Vestia um uniforme surrado de docente da Universidade de Ibdusodem e observava os guardas na sala com receio. – É assim que fomos ensinados a chamar nosso conglomerado de civilizações e ecossistemas. Sabem o porquê disso?! – Esperou por uma resposta dos alunos, mas tudo o que veio foi um bocejar preguiçoso. – Exatamente, é uma história tão antiga que os valores se perderam. Isso surgiu quando os planetas começaram seus processos de exploração além de seus próprios mundos, pouco antes do auge da Grande Expansão. Ninguém sabe ao certo quando o termo foi utilizado pela primeira vez, mas quase todos concordam que a origem foi em Dascart. Achamos isso porque a inscrição foi encontrada em um livro dascartiano nas ruínas de onde viviam Humanos refugiados dos conflitos que viriam se tornar a Grande Guerra. Escrito muitos ciclos atrás, o texto estava no idioma dascartiano original e falava das primeiras explorações a chegarem no quinto sistema com tesouros e promessas. Foi então que o termo se popularizou e passamos a usar para se referir ao universo como um todo – observou a atenção dos guardas em suas palavras. – E isso inclui não apenas os sistemas originais, mas também os desconhecidos...

Um clone, que também assistia à aula, se aproximou devagar de um dos guardas monitores de sala e disse:

— Peça ao professor para me encontrar na torre norte assim que terminar aqui – olhou para os alunos nas arquibancadas. – Peço que seja discreto e direto, por favor, não quero especulações.

O homem apenas consentiu, então voltou sua atenção ao conteúdo disseminado na sala e ao relatório que escrevia.

Algumas horas depois, a noite começava a chegar devagar através do horizonte de prédios altos de Intéligus. Montblanc aguardava a visita do professor enquanto revirava centenas de papéis e documentos no topo da torre norte. Um telão exibia imagens de vários sítios arqueológicos de lugares conhecidos e inexplorados.

O professor se aproximou com cautela. A entrada da torre era guardada por dois clones, mas havia alguns guardas próximos.

— Estou te esperando lá em cima, pode subir – disse Montblanc.

O homem pegou o elevador e subiu, tendo uma visão privilegiada do norte da Universidade. Observou as casas estudantis de arquiteturas peculiares que ficavam próximas, e os muros antigos. Chegou no alto da torre e viu o clone fazendo seus estudos. Pigarreou para avisar de sua presença na porta. Montblanc sinalizou para que o professor entrasse e o ofereceu um sofá confortável à direita. Em silêncio, o homem fez como foi sugerido, e então disse:

— Algo de errado sobre minhas aulas? – Indagou. – Foi aprovado pelo conselho diretório, eu não saio dos parâmetros. Pode verificar nos relatórios dos monitores, eu...

— Só estou interessado nos seus conhecimentos, professor – disse Montblanc, dando-lhe uma olhada. – Vorquer, não é?

— Exato – respondeu o homem. – Vorquer Dio Jo.

O clone soltou um gemido de confirmação, e continuou separando alguns documentos e mexendo nas pastas. Entregou-as ao professor e foi para o computador, abrindo alguns vídeos mudos.

— Você tem muitos motivos para me odiar – comentou, mas não pareceu preocupado. – O que você é da antiga governadora?

— Primo – respondeu Vorquer. – E não, não o odeio tanto quanto odeio Rancel, admito. Vamos ao que interessa, você já deve saber mais sobre mim do que eu mesmo. Por que estou aqui?

Montblanc deu um sorriso lateral, gostava de ousadia nas pessoas.

— Sabe, um bom ditador deve valorizar a história tanto quanto um pesquisador, não acha? Os segredos que o passado esconde pode nos trazer muitos tesouros e poder – disse, preparando dois copos de vinho e alguns bolinhos. – Você parece entender bem dos segredos dos tempos antigos e é isso o que eu preciso, claro, por um pagamento justo. Já viu essas coisas que estão no relatório? Algo parecido, pelo menos?