Um Ser Indigno

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Das longas horas que durou a viagem de Noufage, logo após a batalha na fazenda, até Ibdusodem, nada se falava do massacre em Jávida. Nem mesmo os noticiários mais sensacionalistas do quarto sistema mencionaram o que havia acontecido. Eles esperaram por quase dois dias no espaço, mas os rumores que vinham dos Aliados não davam créditos reais ao confronto. Muitos mortos, e centenas de pessoas desaparecidas, preenchiam os relatórios. Era difícil mensurar dados reais e saber quantos conseguiram fugir. A pressão sobre os expedicionários e outros oficiais era evidente em seus rostos.

Em Intéligus, diante da situação, apenas a área urbana da cidade continuava acessível, mas não livre de conflitos. A partir dos muros da universidade só entrava pessoal autorizado. O espaço aéreo de interesse militar permanecia vigiado o tempo todo, espiões Aliados e os corajosos que tentavam invadir, eram mortos sem piedade. Várias dessas notícias eram divulgadas em tons e textos engrandecedores ao governo.

— Eles querem que você dê um discurso – disse um rebelde com a voz trêmula ao falar com Saul. – Me mandaram dizer que são ordens da expedicionária Antúlia, e que é para impedir a debandada.

Saul estava conversando com Vigur e Vorax, mas deu atenção ao garoto enquanto este falava. Respondeu:

— Meu jovem, tome muito cuidado com esse "eles", você nunca sabe quem eles realmente são. Mas, algo me diz que você foi ordenado a vir falar comigo, então, quem são eles?

— Os expedicionários Vortof e Deusem – o menino respondeu.

— Hum – murmurou Saul, revirando os olhos. – Eu vou falar com eles em alguns minutos, pode ir e obrigado.

— Por que os expedicionários te odeiam tanto? – Indagou Vorax.

— Talvez porque o sentimento é recíproco – Saul respondeu em tom de voz monótono, terminou seu chá e concluiu: – Acho que estão se preparando para descer, é melhor ficarem prontos também.

O Capitão se levantou e caminhou calmo pela nave, não queria ter que fazer esse discurso, e iria brigar para isso não acontecer. Passou por alguns Aliados e os cumprimentou, mesmo com arrogância. Chegou ao salão de planejamento e abriu as portas sem cerimônias.

— Capitão Saul, estávamos esperando por...

Saul interrompeu a mulher.

— Vocês mandaram uma criança me dar um recado absurdo como essa estória de dar discurso?! – Questionou. – O que acharam que eu iria fazer com vocês? Esfregar suas cabeças na parede?

A expedicionária rebelde deu de ombros.

— Capitão, sabemos que você não gosta muito da nossa classe e não entendemos os motivos. Todavia, preferimos manter distância para nossa própria segurança – disse um homem um pouco mais velho.

— Qual o plano? – Perguntou Saul, mais calmo.

Um dos assistentes ativou um mapa holográfico sobre a mesa.

— Vamos fazer um ataque direto sobre a universidade, não vamos conseguir resistir se pousarmos na cidade – disse a expedicionária. – Eu e os generais em campo vamos cuidar da distração.

— Por que precisam de um discurso meu para isso?

— Perdemos quase metade das nossas forças – disse outro homem mais ao fundo, usando o uniforme expedicionário imperial. – O pedido veio de Antúlia, ela acha que alguém importante possa ajudar nisso.

— Zancer sabe disso? – Indagou Victor.

— Eu imagino que sim, já que a mensagem foi da expedicionária favorita dele – respondeu o imperialista. – Estamos com problemas aqui por causa de desistências também, mal conseguimos manter o caos.

Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora