O Naufrágio Real

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— Saul, já está na hora de acordar – Vigur disse sacudindo levemente o amigo. – Acabaram de me avisar que hoje teremos uma visita importante.

O Capitão rolou de um lado para o outro, deixando seus músculos se acostumarem com a situação. Ele havia dormido em um amontoado de palha marinha seca e lã velha enroladas em um tecido igualmente velho e com cheiro de mofo. Ainda assim, o sentimento de segurança e paz o aliviou de mais pesadelos assombrosos de um futuro inexistente.

— Sem problemas – disse Victor, esticando todo o corpo. Puxou a bolsa que o acompanhou por longos meses e a aconchegou. – Eu sempre gostei de Aquária por essa característica de meia luz, me faz dormir tão bem que, às vezes, me vejo no passado. Quem é esse visitante ilustre que precisa de uma cerimônia de recepção? – Perguntou Saul.

Vigur torceu a boca. Respondeu:

— Adivinha – deixando claro a resposta.

— Ragath nunca foi disso – Saul rebateu. – Ele gosta da discrição.

Vigur pegou uma vasilha com água limpa e trouxe até Victor com panos secos e outros itens de higiene.

— É Vorax quem está vindo, não Ragath – disse. – O pessoal nos deu isso, são bem melhores dos que estamos usando – colocou os objetos sobre uma mesa baixa perto de Saul. – Se apronte, disseram que teremos que partir com ele ainda hoje.

Saul não questionou, nem sequer pensou algo a respeito. Ele sabia que Vigur estava certo, e isso vinha desde a implantação do Grego IV.

Victor enrolou no leito por mais alguns minutos, até que levantou e começou a se aprontar. Ouvia os barulhos de fora, do pátio, e de outras áreas do esconderijo, e isso lhe causava uma sensação incômoda diante de todos os fatos atuais. Foi quando se viu perdido em lembranças ruins e péssimos desejos. O excelente odor que vinha do oceano laluriano não mais alimentava os bons sonhos, mas trazia o sentimento de perda.

O pátio estava mais movimentado, com mais pessoas, e encantado em um ar de alegria. Homens Marinhos ajudavam a trazer cargas pelas pontes usadas como portos. Era possível ver, de longe, os transportes de suprimentos fazendo a logística entre os postos dos Aliados.

Assim que Saul pôs os pés no pátio, olhos alheios encararam-no com desconfiança, mas não ameaça. Alguns expedicionários indicaram a mesa com um belo banquete, com muitas frutas submarinas, sucos feitos dos melhores ingredientes e aperitivos de peixes. Saul apenas tomou um copo de chá de algas, algo que há muito tempo não bebia.

Um expedicionário imperial se aproximou, e perguntou:

— Devo pedir para alguém o ajudar com a bagagem, Capitão?

— Não é necessário – respondeu Saul. – Obrigado.

O homem consentiu.

— Vorax já está a caminho – avisou. – Ele marcou uma reunião com os líderes da Aliança no posto 21 – apontou para algumas cavernas não muito distante, e visíveis pelo átrio. – Isso já faz um tempo, então eu acho que já está acabando e...

Saul se perdeu, notou que, para aquele lado, havia movimentação de naves muito maior do que deveria. O Benção Marinho ainda estava de prontidão e sendo abastecido, e a capitã Solavana Janis parecia ocupada em demasia, comparada aos outros cargos de alto escalão. Victor tentou segurar a curiosidade, mas não resistiu.

— O que vai acontecer hoje? – Questionou.

O expedicionário não respondeu, o silêncio incomodou o Capitão de forma visível, então o homem balançou a cabeça de forma negativa.

Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora