A Cidade dos Gigantes

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A luz fria de um sol distante passava pela copa das altas árvores e atingia os telhados brancos de um vilarejo cercado por uma mata densa em Mirtera. Corpos com armas e armaduras arcaicas se espalhavam entre as ruas apertadas que subiam o morro até um grande templo no alto. Três partes do Vestígio pairavam sobre a construção e os clones faziam a proteção de Vorquer e seu irmão, Grunao.

— Não entendo essa sua necessidade de matar – brigou Vorquer ao ver a chacina. – Eles nem ao menos ofereciam riscos para você!

— Informações privilegiadas é um tipo de risco – rebateu um dos clones na entrada do templo. – Espero que suas habilidades sobre línguas antigas estejam boas, esse povo não fala o idioma universal.

Vorquer e o irmão entraram no grandioso templo, havia um grupo pequeno de nativos ajoelhados sobre o que era um altar. Em cima de uma bancada de madeira estavam alguns artefatos. Clones vasculhavam salas atrás de qualquer coisa que lhes interessasse, algumas piras queimavam tudo o que julgavam inútil.

— Você tem algum levantamento de quantas civilizações perdidas existem nos sete mundos? – Perguntou Grunao ao irmão.

— Eu tinha, mas foi confiscado e, provavelmente, destruído junto de outras pesquisas da universidade – respondeu Vorquer. – Acreditamos que muitas ainda são intocadas.

— A universidade encorajava que esses povos ficassem isolados permanentemente para servir de objeto de estudos. Como cobaias sociais ou recreativas – interferiu Montblanc. – Não gostamos disso, Rancel e eu preferimos sumir com esses dados. Se algum pesquisador quiser interagir com esses povos, terá que trazê-los à sociedade.

— Eu discordo desse pensamento – rebateu Vorquer.

— Eu sei, e não me importo – disse o clone. – Encontrei algumas coisas interessantes, venham comigo – foi até a bancada e pegou alguns livros deteriorados, mas legíveis. – Essa grafia é semelhante com o que encontrou na escavação da corporação Ulstron? – Entregou à Grunao.

— É sim – concordou. – Me lembro que eles tinham três placas de uma pedra negra com essas letras. Eu peguei uma, mas eles conseguiram tirar de mim – Grunao foi até os desenhos da parede. – Isso também me lembra das ruínas que estavam escavando, depois de quase um ciclo eu voltei lá e já não existia mais nada.

— Estou conversando com o prefeito de Veorá sobre a região que a Ulstron escavava, eles iniciaram os trabalhos antes de obterem todas as devidas autorizações. Estou lendo documentos que mostram que tinha outras empresas oferecendo fortunas pelo local – Montblanc foi ao altar do templo. – Consegue se comunicar com eles, Vorquer?

O professor se aproximou dos nativos assustados, se abaixou com respeito e lhes ofereceu a mão. Uma mulher que estava mais à frente se negou a responder o gesto, mas falou algo no idioma nativo. Vorquer foi até à mesa, pegou um dos livros e mostrou desenhos que estavam nas páginas rasgadas. Um deles tinha um mapa com ruas largas e pessoas de fisionomias divinas. A mulher apontou para o norte, mas parecia querer evitar que fossem até lá através das palavras incompreensíveis.

— Vamos levar ela? – Indagou o professor.

— Se quiser – o clone respondeu, e saiu.

Grunao se aproximou com cautela, cochichou:

— Tem certeza que quer fazer isso?

— Que escolha nós temos? – Vorquer se levantou, olhou sua volta para ter certeza que não tinha clones por perto. – Eu não quero desafiar a crença dele, quero um salário e estar do lado vencedor. O que acha que deve ter lá? Só ruínas e artefatos destruídos? – Sugeriu o livro velho com capa de couro. – Isso tem em qualquer lugar nos nove mundos.

Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora