Não há Nada Como o Lar

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Robôs não precisavam de luzes porque a maioria de seus sensores enxergavam no escuro. Isso ficava evidente quando só os pontos de energia da Benção Branca estavam iluminados e podiam ser vistos do espaço. A lagoa em volta do navio parecia maior e mais vivida do que Saul se lembrava. Os funis de dispersão de energia excedente não eram mais tão violentos, e o Capitão imaginou o motivo. Haviam cerca de dez naves retornando para um dos portos da Benção Branca, além de outras que circulavam pela água. Também havia uma centena de robôs do mesmo modelo de Vorax caçando animais, ou algo do tipo, na água.

Victor estava emocionado ao assistir a cena, sentiu um choro vir do fundo de seu íntimo, mas o segurou.

— Espero que saiba nadar – brincou com sua acompanhante com um sorriso feliz, mas ela o olhou confusa. – Me desculpe, é apenas para descontrair o momento. Eu acho que essa nave aguenta chegarmos até o porto sul sem inundar..., eu acho. Bom, neste caso você terá que...

Atenção! Desligue os motores e se afaste. A voz mecânica veio do rádio e assustou Saul, mas logo ele reconheceu que era BB21.

O Capitão levou a mão no console e apertou um botão. Disse:

— Solicitação da capitania ao comando central, ordem 24601 por Capitão Saul Victor – disse o Saul. – BB21, por favor, iniciar protocolo de recepção pelo porto sul. Eu estou de volta, velho amigo – sorriu com a felicidade estampada no rosto. – Não vamos precisar nos arriscar nas águas geladas da lagoa – falou para a Suprema, que não entendeu.

Capitão Saul, é bom tê-lo de volta. Disse BB21 através do rádio de comunicação das embarcações. Enviei uma nave para acoplagem no seu transporte, mantenha os motores desligados.

Todo o processo durou cerca de uma hora laluriana. Saul juntou as coisas que ainda lhe restavam e ajudou a Suprema com as dela, e então foram levados para o navio.

Victor e a mulher ficaram impressionados com o interior da lagoa que escondia a Nuvem. Havia se passado pouco tempo, mas parecia uma eternidade para Saul, ao ponto de não reconhecer o que fora o quintal de sua casa por dezoito ciclos. Algumas das mudanças eram óbvias, como a limpeza do casco e áreas específicas para a vida dos corais. Outras já não eram tão evidentes, o que deixava o Capitão confuso. A Suprema olhava para fora da janela, e voltava para Saul com os olhos arregalados.

— É incrível, não? – Disse ele, de forma retórica. – Não há nada como o lar – observou a aproximação da comporta do porto. – Não vou mentir para você, agora que estou aqui, não tenho vontade de voltar para o Universo Expandido. Por mim, deixaria eles lá..., eles que cuidem dos problemas que eles mesmos criaram..., mas seria egoísmo muito grande da minha parte. E seria errado com você também, já que eu a trouxe até aqui sem a menor necessidade..., quer dizer, esse foi o motivo. Usar você como uma balança moral para eu ter que retornar, eu sinto muito. Bem lá no fundo, eu sabia que se viesse aqui sozinho, ou mesmo com Vigur, eu não iria voltar. Eu não queria lutar, mas achei que seria recebido como um herói – riu para a mulher. – Havia se passado muito tempo, mas veja a ironia, eu me tornei... – diminuiu o tom e fechou as feições. – O vilão.

— Sinto uma mudança repentina no seu tom de voz. Você não me parece muito bem, Capitão – disse um dos robôs ao lado de Saul.

— Eu estou bem, BB – respondeu Saul. – Só um pouco cansado.

— Tenho várias surpresas no navio que irão te alegrar, não tenho dúvidas que ficará entusiasmado com o que construímos – completou um dos robôs. – Vou diminuir meu humor, para não o irritar.

Saul não respondeu.

A nave entrou no porto, e parecia normal, apenas um pouco mais limpo do que estava quando o Capitão saiu. As salas de controle estavam funcionais e as luzes anunciavam isso, mesmo que vazias.

Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora