Novos Atos Iniciais

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Vigur havia dormido em uma das salas de estar no terceiro andar do pátio principal. Era um sofá desconfortável, empoeirado e a armação deixava as almofadas deslocadas, mas era melhor que qualquer colchão das celas do Prisional. Era pelo silêncio que ele mais agradecia, bem diferente dos gritos de dor e sofrimento que muitas vezes sonorizavam seus pesadelos. Muitas horas se passaram desde que havia se deitado, já se sentia relaxado o suficiente para voltar à nova vida.

Ele se levantou e levou os cobertores enrolados pelos corredores até não muito longe dali, ouviu alguns barulhos de panelas. No refeitório comum do pátio principal, Saul preparava o desjejum de ambos.

— Olá, capitão Vigur – disse Victor ao notar a presença do outro na porta de entrada. – Eu estou preparando algo para comer, mas como deve imaginar, não tenho tanta variedade à disposição.

— Não devia ter se preocupado com isso, Capitão – disse Vigur.

— Não é problema algum – rebateu Saul. – Não tenho variedade de alimentos, mas tenho quantidade, bem mais do que o suficiente.

— De novo, não precisava se incomodar. Todos esses ciclos tudo o que comi foram restos dos generais do Nicei – Vigur foi até uma mesa e se sentou. – Até sopa de pedra seria melhor.

Saul o olhou, confuso.

— O que é Nicei? Alguma força-tarefa de Montblanc?

— Não, é uma nação independente formada pelos navios da frota do antigo império – respondeu Vigur. – Montblanc não tem nada a ver com isso, mas é governado por um de seus cavaleiros.

— Você tem muita coisa para me contar, mas depois cuidamos de tratar disso – o Capitão preparou uma bandeja com alimentos e bebida e colocou na mesa. – Tem que comer, o tempo não foi generoso com você.

Vigur olhou para todas aquelas coisas, era possível sentir o quão agradecido estava apenas olhando em seus olhos.

— Onde consegue todos esses recursos? – Questionou.

— A Benção Branca tem muitas estufas, celeiros, currais, baias e locais para criação de animais – respondeu Saul. – Água eu consigo fora da nave, eu uso o máximo do sistema de tratamento, então vou ter água potável por centenas de ciclos. Consigo carne dos animais e vegetais das plantações e é mais que o suficiente para mim e para os meus saudosos e inseparáveis tripulantes – sorriu. – O reator consegue mantém todas as atividades e tudo o que sobra eu uso para manter o navio estável dentro da bolha de água. Você deu sorte de não ter caído perto das escotilhas de despacho de energia, os redemoinhos teriam sugado você para a morte.

— Não me lembro de você falar tanto – rebateu Vigur.

Saul gargalhou rapidamente.

— Fiquei muito tempo sem falar, aprendemos a gostar do que não gostamos quando somos privados disso – disse. – Eu levei BB21 para o laboratório de mecatrônica, depois de comer, me encontre lá.

Vigur comia quase que como um animal, por mais que houvesse se alimentado das sobras do dia anterior. Haviam raízes cozidas com sal azul e uma espécie de bolo de frutas, uma torta de carne e uma xícara de chá de ervas vermelhas.

Após comer, Vigur lavou tudo o que havia sujado e seguiu para os laboratórios na área sul. Ainda temia andar pelo navio sozinho, mas não tinha escolha. Não podia deixar de confiar em Saul, que tinha garantido que as criaturas estavam longe das áreas principais. O caminhar lento seguia as luzes que se acendiam pelos corredores, encontrou um objeto que se parecia com uma nave em miniatura, que levou consigo.

Saul mexia no corpo, ainda inanimado, de BB21. Limpava alguns vestígios de sujeira e estudava cuidadosamente os danos externos mais visíveis na carcaça. A maca analisava o robô e falava informações que o Capitão fazia questão de ignorar.

Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora