Ir Onde Ninguém Jamais Esteve

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Montblanc estava na lua, e seu ferimento na cabeça ainda estava aberto e latejava de vez em quando. Os clones que restaram da missão na Espada da Comunicação eram vistos andando com as cicatrizes de batalha a mostra, para que todos vissem. Por mais que o acontecido houvesse passado há meses, Montblanc não esquecia.

— Aquele foi um péssimo dia – esbravejou o Ditador. – Péssimo!

— Senhor, talvez devesse considerar uma nova estratégia para atuar em seus objetivos – Cipher estava logo atrás de Montblanc, pensou bem nas palavras antes de continuar: – Você é a matriz dos clones, e se você morrer, acredito que todos os outros morrerão também.

O Ditador parou diante dos protótipos dos primeiros clones, olhou para o laboratório industrial, que estava em produção ativa.

— Talvez tenha razão – concordou, parecendo distraído. Buscou nas memórias, mas ainda tinha dificuldade para pensar. – A engenheira Argelhi teria me falado caso eu tivesse dado chance a ela.

— Está arrependido, senhor?

— Não! – Concluiu, sem rodeios. – Eu preciso do código-fonte da espécie Suprema. Infelizmente, foi um sacrifício necessário. – Vou dar um jeito nisso – apontou para a cabeça. – Preciso que arranje mais uma incubadora para ficar aqui – sugeriu o estande. – Tenho que resolver o problema das minhas incursões nas missões.

Clones com uniformes médicos chegaram e começaram a olhar o ferimento na cabeça do Ditador, após alguns segundos, saíram levando-o junto para o corredor. Cipherion dispersou o olhar, pensando.

— Farei isso, senhor – disse Cipher. – Se bem que não precisa de mim para qualquer coisa – foi ignorado, então seguiu seu caminho.

Horas depois, Montblanc já estava com novos curativos em seus ferimentos e nos outros machucados. Acompanhava a instalação do novo tubo no hall de entrada, porém, seu olhar estava perdido em pensamentos distantes e sombrios. No fundo, desejava que Cipherion estivesse ali por mais inútil que fosse sua presença, mas sentia a solidão mesmo sendo milhões em toda a lua.

Cipherion se aproximou, assistindo à instalação. O tubo era bem maior que os outros quatro. Havia uma plataforma grande de forma que abrangia boa parte do cenário. Canos pulsantes desciam da parede e o líquido de conservação era mais claro. Muito mais luzes estavam acesas dentro e fora da incubadora. Um clone explicou:

— Se o corpo original não pode morrer, então eu fui um completo estúpido ao pensar em ir ao satélite – disse Montblanc, sentindo o peso da culpa. – Por centímetros Saul Victor teria me matado e todo o plano estaria acabado. Vou suspender aquele corpo – apontou para o original parado no parapeito. – Mantê-lo vivo, claro, mas ele ficará aqui, onde é seguro e confiável. Serei quase imortal – esboçou um sorriso.

Cipher deixou o clone e foi até o Montblanc original.

— Tudo aquilo é realmente muito esperto – disse.

— O capitão Saul Victor vai ver o problema das pessoas e poderei mostrar o quanto sua luta é desnecessária – respondeu, sem demonstrar muito entusiasmo. – Talvez, em alguns ciclos, ele me veja como quero.

— Ele não vai acreditar em você – contestou Cipher, tentou não parecer leviano. – Você não deixou os registros no navio para provar.

— O famigerado Capitão é inteligente o suficiente para notar que não tem corpos meus espalhados pela nave. Sua tripulação era preparada para varrer toda uma fortaleza sem o mínimo de esforço, uma pequena tropa não seria problema – tentou acreditar em suas palavras. – E caso ele não se atente a este detalhe, pela situação, talvez, eu mesmo o farei relembrar do que está em jogo.

Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora