Pelo Bel-Prazer

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O dia raiou em silêncio, e toda Holover sentiu isso. Saul e Vigur não esperaram o funeral de Justav, sabiam que haveria um pico de atenção ali, e o que eles não queriam, era atenção. O rio que saía de Vale Paraíso e cortava parte da fortaleza rebelde, levou uma das poucas lembranças restantes do passado de Victor.

Sem os navios para dar suporte espacial, ficava fácil entrar e sair de qualquer planeta em qualquer sistema, em especial, quando o mesmo vivia meses de conflitos intensos. E no caso de Exkepclu, o que se tinha era aviões de batalha velhos e naves de carga, nada útil em uma guerra.

— Já esteve em Castólia, Vigur? – O Capitão perguntou.

— Sim, uma vez – respondeu, retomando o controle da nave em que estavam. – Foi rápido, o Tigre Tamburiano não fazia incursões nos sistemas já explorados. Havia outro navio, e outro capitão, que cuidava desse tipo de assunto para o império – soltou um riso irônico.

— De fato – concordou Saul. – Mas se me lembro bem, houve um pedido formal para Cália para que mandassem esse navio para o espaço profundo em busca de nada. Qual era o nome do capitão solicitante?

— Não me lembro disso – debochou Vigur.

— Deve ser a idade – rebateu Saul, rindo.

Ainda que a batalha de Assos fosse localizada e térrea, se via as naves cruzando os desertos do planeta em direção à cidade.

Vigur comentou:

— Não sei se estou preparado para enfrentar Atília – virou o leme para sair da rota militar. – Ouvi estórias horríveis.

— Vamos estar preparados, sim – afirmou Victor.

— O que tem nos registros do comunicador?

— Mapas e anotações – respondeu Saul, analisando os conteúdos no aparelho envelhecido. – Ele não sabia exatamente o paradeiro do que estava indicando, ou fez isso de propósito – abriu o holograma.

— Os tempos estão diferentes – disse Vigur, triste.

— Só por que estamos atrás de um ser com dons sobrenaturais que não existia há alguns ciclos atrás? – Saul gargalhou. – Sabe, o que mais me incomoda é saber que tudo isso sempre existiu, e fingíamos que não estava aqui. Era confortável e nos sentíamos fortes entre os outros.

— Agradeça a Montblanc por isso – finalizou Vigur.

Castólia surgiu tímida entre as dunas do deserto. Era uma cidade extensa em suas dimensões, mas baixa. As poucas grandes construções eram perfeitamente encaixadas nas areias que preenchiam as estruturas arquitetônicas complexas, mas simples nos visuais pobres. As ruas quase desapareciam na areia, deixando apenas o rastro delas. Alguns pequenos oásis surgiam ao longo do território, e eram deles que alguma vegetação dava a coloração esverdeada. Animais de carga transitavam pela cidade com seus condutores humildes, e outros sofisticados também apareciam.

Vigur atravessou a região norte e pairou sobre a calma vida que se desenvolvia abaixo. Saul tentou entender os mapas comparando-os com as estruturas da cidade, mas nada se encaixava.

— Tudo o que temos é uma direção – disse Vigur. – Eu aconselho descermos aqui e perguntar, não é possível que ninguém saiba onde ele vive e como chegar lá. Se bem que... – pensou.

— Sim, ele não estaria aqui se não fosse um bom esconderijo para pessoas tão poderosas – o Capitão completou. – Foi inteligente escolher um lugar onde a cada tempestade de areia tudo muda.

— Alguma sugestão? – Pediu Vigur.

Victor observou o ambiente, então disse:

— Olhe em volta – apontou o horizonte. – Essa é a única nave em todo esse lugar, e acho que em muito tempo. Ele sabe que estamos aqui e que iremos atrás dele – pensou mais um pouco. – Vamos descer, e rezar para que ele venha até nós.

Sete Vidas em Nove Mundos - O Segundo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora