𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦, 𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌

57. Chamado da Realidade

        Crystal teria brincado sobre pensar seriamente em se casar com Louise quando ela apareceu não só com seus filhos, mas também com seu noivo no Chalé das Conchas — isso, é claro, se os tempos fossem outros. No momento, porém, ela só pôde correr para a porta para receber Sirius e os gêmeos.

        Era incrível como todas as dores do corpo de Crystal pareciam ter sumido completamente ao tatear o rosto e corpo do noivo, buscando pelos filhos sob a roupa encharcada: aquele peso invisível havia simplesmente desaparecido. Não importava que ainda estivesse machucada, que seu rosto, pescoço e costas ainda estivessem marcados — Crystal não sentia nada além de alívio e felicidade. Nada mais importava agora que tinha confirmado que todos estavam bem.

        Para Sirius, porém, tudo aquilo importava muito. Sentiu como se seu coração tivesse se partido em vários pedaços ao fitar o rosto exausto e magro da noiva marcado com um hematoma — agora apenas esverdeado depois das semanas de cuidados por parte de Fleur. Não deixou de notar as leves marcas no pescoço ou o corte cicatrizado na testa, muito menos o quão escuras estavam as bolsas embaixo dos olhos âmbar. Se já havia chorado pelo medo de perdê-la quando foi atacada antes, agora deveria estar em pânico.

        E Crystal não tinha mais força alguma para acalmá-lo, muito menos mentir para ele e dizer que estava tudo bem, mas se manteve minimamente firme.

        Harry notou tudo aquilo, principalmente o quanto de esforço sua família estava fazendo para manter-se de pé. Sua cicatriz ardeu levemente pela raiva de vê-los passarem por aquilo, por verem ambos chorarem em uma mistura de alívio e exaustão. O ardor passou, porém, ao abraçar o padrinho fortemente e verificar os irmãos.

        Longos minutos se passaram — dos quais os outros presentes tentaram dar o máximo de espaço possível para o casal — quando a família e Louise decidiram sentar no sofá mais próximo. Crystal não afastava a filha — a qual havia pego do colo da amiga — do corpo por um momento que fosse e Sirius estava decidido em não aceitar mais que um palmo de distância entre a bruxa e ele. Harry estava do outro lado da bruxa com Lira segurando-lhe fortemente pelo dedão da mão esquerda.

        — Eu estava com Aurora perto da divisa com a Irlanda e voltei para o chalé um dia atrás... Encontrá-lo queimado até o chão foi... — começou Sirius, sem saber como explicar o quão desolado havia se sentido. Jamais teria palavras para expressar o medo de ter perdido Crystal e as crianças. — Procurei por todos imediatamente; passei a noite toda vagando. Não me importava se seria reconhecido ou se teria que lutar até com Você-Sabe-Quem em pessoa para encontrá-los. Não poderia aceitar...

        A voz de Sirius falhou e Crystal, que não havia tirado os olhos dos filhos, procurou olhá-lo mais atentamente: a barba havia crescido muito, os cabelos estavam uma bagunça e com mais fios brancos do que se lembrava; a capa havia sido deixada de lado e revelava roupas largas demais que ela tinha certeza que serviam direito da última vez que haviam se visto. Felizmente, não haviam marcas — pelo menos, não até onde podia ver — e aquilo a aliviou um pouco.

        Crystal aproximou o rosto do dele e, como ferro atraído por um imã, Sirius colou a testa na da noiva. O cheiro do sabonete de jasmim que Fleur havia dado para ela se transformara no mais novo cheiro favorito do bruxo: além de saber que a noiva adorava jasmins, agora representava aquela felicidade e conforto que ele tanto precisava.

        — Encontrei as crianças naquela mesma noite. — murmurou Louise, traindo a atenção da amiga e de Harry. Sirius não ligava, no momento, para como havia chegado à sua família e se manteve apoiado na noiva. — Estavam à salvo e bem, Lesath e Pelúcio estavam obviamente lá também. Os levei no mesmo instante para a casa de Muriel, pois era um lugar seguro onde poderíamos nos encontrar mais facilmente... Acabei encontrando seu noivo em meio a um ataque de nervos.