1. Brasão Incandescente

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        Crystal Phoenix sentia e ouvia as coisas ao seu redor, mas parecia estar presa no mundo dos sonhos. Sons e cheiros da realidade se misturavam com as imagens em sua mente. A garota olhou em volta, mas não conseguiu focar em nada. Tudo que enxergava eram apenas borrões coloridos. Conseguiu focar apenas em um grupo de quatro garotos.

        O primeiro, à esquerda de todos os outros, parecia o mais baixo e gordinho dos quatro rapazes. O segundo tinha um longo cabelo preto; sua aparência lembrava um guitarrista de uma banda de rock. O terceiro garoto também tinha cabelo preto, mas o dele era curto e espetado em todas as direções; ele usava óculos, notou Crystal quando o mesmo virou o rosto para olhar para o rapaz de cabelos longos. O quarto tinha cabelos curtos e bagunçados também, mas esses eram castanhos claros; suas roupas pareciam ter alguns remendos e eram as mais surradas dos quatro.

         Após um tempo os observando e tentando notar mais detalhes, outro grupo chegou e ela reconheceu quase que imediatamente as mais novas pessoas que entraram em seu campo de visão: eram suas quatro amigas e seu irmão mais novo. Uma delas, Alice, se virou e sorriu. Pareceu abrir a boca para falar algo, mas, nesse mesmo instante, Crystal sentiu algo em sua barriga. Parecia estar deitada com um peso sobre si.

        Forçou seus olhos a abrirem e fitou o teto de seu quarto. Suspirou e sentiu que, o que quer que fosse, ainda fazia peso sobre sua barriga. Levantou a cabeça e fitou uma criatura de pelos negros.

        — Padfoot, seu cão sarnento, saia de cima de mim imediatamente! — gritou para o animal, um vira-lata resultante do cruzamento das raças Pastor Alemão e outra que Crystal talvez nunca soubesse qual era. O cachorro latiu como forma de protesto, mas saltou da cama e sentou-se, olhando da dona para a penteadeira da mesma.

        Crystal sentou-se na cama e, ao notar que o cachorro não parava de revezar seu foco dela para a penteadeira, seguiu o olhar do cão e seus olhos pararam em uma massa de pelos cinza e branco mexendo em sua caixa de joias que, por alguma razão, estava aberta.

        — PELÚCIO! — gritou para o gato do irmão que olhou na direção da garota. — Pare de mexer nas minhas coisas agora, seu gato enxerido! — a garota se descobriu rapidamente e pulou da cama para afugentar o bicho, o que funcionou, pois Pelúcio pulou da penteadeira na mesma hora e correu em direção a porta.

        Crystal fechou a caixa das joias depois de dar uma rápida verificada para ver se não faltava nada e se direcionou a porta do quarto, segurando com mãos firmes o batente e a mesma.

        — ALEXANDER! — gritou para o irmão. — Faça com que essa bola de pelos não venha mais aqui ou farei dele uma almofada! — e, após o aviso, bateu a porta com força e a trancou.

        Após acalmar os ânimos, Crystal arrumou o quarto, colocou seus jeans, camiseta e o moletom que ganhara dos pais e desceu para a cozinha para tomar seu café da manhã. Avistou na geladeira — como sempre avistava de segunda a sábado — os avisos de seus pais dizendo que saíram para trabalhar e que lhes desejavam uma boa manhã. A diferença é que, dessa vez, havia outro aviso em um papel de cor verde fluorescente escrito que eles não voltavam para o almoço e que os irmãos teriam de ir sozinhos e a pé para a escola. Mas em compensação chegariam às cinco da tarde em vez das sete da noite.

        — Eu te proíbo de encostar um dedo no Pelúcio. — disse o irmão ao entrar na cozinha. O menino de treze anos tinha cabelo loiro escuro bagunçado e olhos verdes.

        — Pena que não me importo. — retrucou a garota entregando o papel ao menino e se virando para preparar o chá. — Ele que mexa nas minhas coisas para ver se não o transformo mesmo em uma almofada. — deixou a água ferver e foi colocar a ração de seu cachorro e do gato do irmão.

𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦,	𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌Onde histórias criam vida. Descubra agora