60. O Fim

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        Quando tinha 13 anos, Alex jamais imaginou viver tudo que vivera até aquele momento. Suas maiores preocupações variavam entre coisas como o dever de casa e o jogo online que ele tinha que deixar aberto e não podia pausar quando sua mãe chamava para o jantar. Talvez também se preocupasse com o que tinha na geladeira e armários para poder afanar e comer. Não imaginou estudar em uma escola de magia, muito menos se ver tão apegado àquele mundo novo na qual ele era um invasor. E ao notar o quanto havia esquecido de sua casa, cometera um grande erro que custou a vida de dois amigos queridos.

        Parecia, então, que já não tinha mais 13 anos, não com aquele peso terrível que lhe assombrava — mesmo que escolhas difíceis e complexas como a que fez não devessem ser tomadas por uma criança.

        Passou todos aqueles anos daquele universo imaginando que talvez a escolha não tivesse sido realmente dele: talvez seu subconsciente soubesse que não deveriam estar ali. Talvez nunca houvesse realmente sido uma escolha, como não era de sua irmã não ter suas visões completas até o momento certo — ou errado. Mas sabia que muito provavelmente tudo aquilo era só um jeito de evitar ser pego pela culpa que lhe seguia.

        No momento que entrou o corpo sem vida de Crystal em um dos corredores de Hogwarts, porém, sentiu ela finalmente o alcançar. Pela primeira vez, seu corpo reagiu antes de sua mente quando parou abruptamente de andar — e então veio o impacto daquele terrível sentimento, forte o suficiente para fazê-lo cambalear dois passos. Se sua mente sempre racional não estivesse ocupada absorvendo o que via diante de si, teria comparado a culpa a um fantasma: suficientemente física para ameaçar derrubá-lo, mas que ao mesmo tempo passara por si como fumaça, deixando apenas calafrios que pareciam gelar a alma.

        A diferença estava, apenas, em que a culpa também deixava em si um peso que fazia suas pernas tremerem.

        Alex se aproximou, um passo mais arrastado do que outro antes de finalmente ceder ao lado da irmã. Era estranho como ela não estava tão diferente desde o último momento que a vira e, ainda sim, a visão que tinha era extremamente pertubadora: talvez fosse a posição meio torta, a sujeira dos detritos e o sangue dos machucados; ou talvez fossem os olhos e a sensação de que faltava algo aí — que sempre faltaria.

        Porque ela não estava mais lá — Crystal não estava lá.

        Enquanto a encarava insistentemente como se aquilo fosse trazê-la de volta, Alex se culpava infinitamente mais por ter aceitado voltar do que havia por ter partido. Deixou a culpa se assentar enquanto absorvia a imagem da irmã, esperando que as lágrimas o cegassem o suficiente para que não precisasse mais ver.

        Elas não vieram. E ele não podia deixá-la ali até que elas viessem, por mais que sentisse merecer a perturbação que aquela imagem lhe causava.

        A ajeitou como se a estivesse colocando para dormir, colocando a varinha na lateral da bota como ela faria, e teve a impressão de ouvir Louise dizer algo e soluçar, mas sua cabeça não funcionava direito. Pegou Crystal nos braços o mais delicadamente possível e descobriu que os poucos quilos de sua irmã pesavam mais do que qualquer outra coisa — mais do que sua culpa ou qualquer outro sentimento e matéria no mundo jamais poderia pesar.

        Quando chegou ao Salão Principal, o peso pareceu quase insuportável. Viu — ou teve a impressão de ver — Harry primeiro em completo choque ao ver que havia perdido outra mãe. Haviam os rostos contorcidos de seus amigos quase tão dolorosamente quanto o de Louise deveria ter ficado. A boca de Dora mexeu-se como se gritasse "não, não, não", com Remus a amparando para não cair enquanto Aurora parecia petrificada, encarando-o com os olhos arregalados.

𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦,	𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌Onde histórias criam vida. Descubra agora