𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦, 𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌

3. Beco Diagonal

        Anoiteceu muito rápido no dia em que chegaram n'O Caldeirão Furado. Lincoln não estava mais no estabelecimento quando desceram para o almoço, então Crystal aproveitou para marcar com os quatro de se encontrarem mais para noite no quarto de número onze. Não disse o motivo para evitar que ouvissem-na falar sobre o que tinha visto, porquê, por alguma razão, achava que aquilo poderia render. Cada um levou uma muda de roupa da mala para o quarto na hora marcada e Aurora chegou minutos depois com uma tesoura na mão.

        — Não sou uma pessoa informada quando se trata de moda, nem ligo muito para roupa, mas esses babados sumiram à três séculos atrás. — disse. — Deviam ter sido banidos da Terra.

        Crystal abriu novamente seu malão. Notou, pelo que as amigas falavam, que os malões das garotas seguiram um padrão: uns quatro ou cinco vestidos longos com babados nas mangas e no colarinho, mas, em geral, simples; três pares de sapatilhas; camisolas; e, é claro, uniformes de Hogwarts. No malão de Alex haviam calças sociais pretas, camisas brancas de mangas compridas com babados, dois sapatos de couro preto e os uniformes.

        — Pelo menos você ganhou calças, já nós só temos as que estamos usando. E é só cortar os babados dessa maldita camisa. — disse Crystal, irritada, ao irmão quando o mesmo reclamou do comprimento das calças, que tinham pernas maiores que as dele, e, principalmente, dos babados da camisa. Ela se sentia muito desconfortável com vestidos e saias.

        — Me dê aqui. — disse Dora com mais calma que a amiga. Pegando as camisas e a tesoura, cortou os babados das mangas.

        — O que acha de deixarmos esses vestidos mais curtos? — perguntou Alice. — Isso é antiquado, poderíamos deixar na altura dos joelhos. — propôs.

        — Pode ser. — concordou Crystal à contragosto. Pelo menos as cores dos vestidos são bonitas, pensou. Haviam dois vermelho-sangue com as linhas de costura douradas, um de mangas ¾ de um pano mais fino e outro de mangas compridas de veludo; um vermelho de mangas compridas com uma fita dourada na cintura e uma abertura nas costas; um azul escuro de veludo; e um roxo escuro com botões dourados nas costas, do mesmo pano que o vermelho-sangue de manga ¾. As sapatilhas pareciam feitas para combinar com os vestidos azul, roxo e vermelho apenas. O vermelho com a faixa dourada era o único que parecia estar no lugar errado: era o mais bem-acabado e parecia o feito com melhores panos.

        — Alguém quer trocar comigo? — perguntou Aurora segurando um vestido verde escuro de mangas compridas.

        — Eu troco. — disse a irmã. — Tenho dois desse. — mostrou um azul claro de mangas curtas.

        — Melhor do que esse esse verde. — opinou Alex fazendo uma careta para o vestido verde enquanto Dora fazia a troca com a irmã. — Mas não acha que vai... Ah, estranho com o roxo do seu cabelo?

        — Bem, isso não é problema. E, seja como for, roxo não bem a minha cor mesmo. — Dora apertou os olhos em uma expressão preocupada, como se tentasse se lembrar de algo. No segundo seguinte, seus cabelos estavam cor de cobre avermelhado e com um corte chanel.

        — Que inveja. — murmurou Alice tentando se manter séria, mas soltou uma gargalhada assim que a amiga deu-lhe um tapinha no braço.

        — Acho que, depois que cortar essas mangas horríveis, o vestido ficará bonito em você. — disse Aurora.

        — Ah, Crys, o que você tinha para falar mesmo? — Alice perguntou de repente.

        Crystal pensou por um tempo de devia preocupar as amigas e o irmão com o que tinha visto — ou achado que tinha.