36. Cemitério

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        Não estava mais tão úmido como antes, mas Crystal ainda sentia a grama gelada sob a mão e o rosto — já deve fazer muito tempo desde que choveu, pensou ela. 

        Após passar uns minutos deitada, Crystal sentiu tontura e um pouco de enjoo ao tentar se sentar. Ficou mais alguns minutos estática até melhorar e finalmente abriu os olhos para tentar se situar: era noite e estava um pouco abafado após a chuva, como em algumas noites de verão; estavam em uma colina, ela pensou ao ver que distinguia contorno de árvores longe; colina a baixo, ela conseguiu ver uma estradinha com muita dificuldade e, à esquerda da vista, via a silhueta de um casarão; pouco longe da casa e morro a baixo, Crystal conseguiu distinguir uma igreja com um teixo ao lado. Olhou para onde a estrada dava: à direita, ao longe, havia uma vila, mas à esquerda não conseguia ver nada além do casarão.

        — Que lugar é esse? — murmurou para si. — Gente, onde é que estam...

        Ela parou de falar assim que botou os olhos nas amigas e no irmão: no lugar deles, haviam quatro adultos estranhos estatelados no chão. Crystal se levantou tão rapidamente que seu mundo girou e a visão escureceu por alguns segundos, mas depois que voltou ao normal a garota se aproximou dos quatro deitados. Levou a mão à varinha em seu bolso e, iluminando os estranhos, se aproximou para olhá-los: a pessoa mais perto de si parecia usar as mesmas roupas que Aurora e, ao lado desta e de costas para ela, a outra tinha cabelos curtíssimos e rosas; mais a frente, os cabelos extremamente escuros de outra mulher lhe cobria o rosto e atrás dela e também de costas para Crystal, estava deitado um homem com cabelos loiros escuros que deviam bater nos ombros.

        — O que...

        O sangue sumiu do rosto de Crystal quando ela finalmente processou a informação que tinha diante dos olhos: aquelas eram Aurora, Dora, Alice e Alex; ela estava realmente vendo todos eles adultos. Em desespero, ela procurou alguma coisa na mochila que trouxera — que havia ido parar no chão pouco antes dela ter desabado e desmaiado, já que estava pendurada em apenas um ombro — que pudesse lhe mostrar seu reflexo. Maldita hora que eu achei que não precisaria do meu celular e o deixei em casa, pensou consigo mesma. Achando um pente dobrável que contava com um pequeno espelho, ela fitou o uma mulher adulta entre os trinta anos e com cabelos escuros que, ao passar os dedos, notou que iam até a cintura. Ela tentou entender o que aquilo significava e se tratava realmente dela ali, mas não só não chegou a nenhuma conclusão naquele exato momento quanto aqueles olhos âmbar os movimentos espelhados não negavam: era realmente ela.

        — Padfoot... — lembrou-se de repente e notou sua voz pouco mais rouca do que quando "era jovem". Eram tantas as coisas para assimilar que ela nem lembrou do cachorro. Guardando o pente-espelho de volta na bolsa, a mulher se levantou e iluminou ao redor. — Padfoot. — ela o chamou, mesmo que não muito alto. Não estava gostando nada daquela situação toda e não queria arriscar que alguém os achasse, já que as amigas e o irmão ainda estavam desacordados e ela não acreditava que consiguiria defender a todos se precisasse.

        Sem respostas e sem conseguir ver uma massa preta naquela escuridão — ou até mesmo cinza, pois tentou procurar Pelúcio também — Crystal desistiu, se sentou entre os outros e tentou acordar as amigas e Alex. Com muito esforço e bons minutos depois esperando que todos se situassem, foi difícil mantê-los calmos após explicar o que sabia até o momento: Alex ficou em completo silêncio e com olhos arregalados enquanto Aurora teve que ter a boca tapada pela amiga — o que a deixou extremamente irritada, pois ela odiava que fizessem isso com ela — para abafar um grito; Dora e Alice encheram Crystal de perguntas como "onde estamos?", "como isso é possível?" e exclamações como "isso não é possível!" apareceram no meio das perguntas repetidas vezes.

𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦,	𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌Onde histórias criam vida. Descubra agora