30. Floresta Proibida

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        Após as memórias alteradas, Lincoln passara a olhar o grupo com raiva e por vezes bufava e murmurava em desagrado quando os via. O grupo de amigos não se importava nem um pouco, mas os rapazes ainda pareciam defensivos — principalmente Sirius em relação a Crystal, o que por vezes a irritara. Aquela situação havia apenas durado o suficiente para que o auror — ou ex auror — arrumasse suas coisas e partisse menos de uma semana após recobrar a consciência, sem direito a despedidas pomposas.

        Duas semanas haviam se passado desde a partida de Lincoln Moore de volta aos Estados Unidos da América — fato esse que havia levantado cochichos a respeito dos "estrangeiros" novamente — e, apesar da paz que a ausência do homem de capa azul trazia, sua partida havia lembrado o grupo de um assunto que suas mentes teimavam em esquecer: a volta para seu mundo e suas famílias. O assunto normalmente surgia de forma espontânea e sem a presença dos marotos, Lily ou Alex — para o alívio da irmã do menino, pois ela sabia que esse assunto o deixaria abalado — e Aurora e Dora eram as primeiras a se sentirem incomodadas: a culpa de não procurarem por respostas e meios de voltar para casa acabava com elas; Crystal também se sentia mal por sua falta de empenho e agora também se sentia um pouco dividida: não só estaria deixando os amigos para trás, como também sua primeira paixão. Alice era a única que se sentia incomodada por motivos diferentes: ela não queria voltar assim como não queria deixar as melhores amigas de infância.

        Apesar do incômodo que sentia divergir dos das amigas, Alice ajudou Crystal a começar — já que a garota havia pesquisado tão pouco que não poderia usar "recomeçar" como uma palavra adequada a situação — uma procura por jeitos de levá-los para casa. A garota de olhos âmbar, por mais dividida que estivesse, deveria pensar no irmão e nas amigas. Foram até a cabana de Hagrid fazer uma visita certa vez no começo da segunda semana após a partida de Lincoln e perguntaram sobre como o meio gigante os havia encontrado.

        — Como dissemos no dia que chegamso, estávamos conhecendo a escola, entramos na Floresta e nós perdemos. — Alice procurou disfarçar a repentina curiosidade das duas. — Mas honestamente, não me lembro o que aconteceu depois disso... Só lembro de acordar na enfermaria.

        — Nenhum de nós lembra, para ser sincera. — disse Crystal, deixando um dos bolinhos rochosos de Hagrid de lado após tentar morder e quase perder um dente no processo. — E eu juro que vi um poste lá, mas não acho que há iluminações na Floresta depois de ter patrulhando tão perto com você.

         — Iluminações na Floresta Proibida? — Hagrid soltou uma risada rouca e dobrou-se para frente, ainda sentado em sua cadeira, para ficar mais próximo das duas alunas. — Bobagem! Não há iluminação naquele lugar nem com tochas, ainda mais com postes! As criaturas que vivem lá não gostam muito de claridade, como podem imaginar. Não, não, não gostam mesmo! — ele parecia entender bem do que estava falando. — Deve ter escorregado e batido a cabeça para desmaiar, Crystal, se querem saber o que eu acho. Era começo de outono e havia chovido muito, se bem se lembram...

        — Lembramos sim! — concordou Alice. — E a Floresta é escura, devemos ter escorregado em uma poça de lama.

        — Sim, sim, é provável mesmo... Deve ter confundir alguma árvore com um poste ao bater a cabeça. — Hagrid disse para Crystal, sorrindo amigavelmente por debaixo da barba espessa e escura. Elas acabaram saindo dali muito tempo depois e com suas esperanças frustradas.

        Era final de tarde de sábado, no final do mês de fevereiro, quando Alice, Aurora e Crystal estavam sentadas no canto de sempre da sala comunal da Grifinória fazendo seus trabalhos e o assunto surgiu novamente:

𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦,	𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌Onde histórias criam vida. Descubra agora