𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦, 𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌

14. Fleamont e Euphemia Potter

        Apesar de um ponto ter sido descontado de cada aluno quando chegaram atrasados à aula de Transfiguração naquela segunda-feira, Crystal não parecia se preocupar com aquilo — ou sequer com a aula. Depois de dois tempos da aula, já em Trato de Criaturas Mágicas, sua cabeça girava graças a tanta informação em apenas um dia: Remus provavelmente era um lobisomem e o garoto da Sonserina era irmão de Sirius.

        — Pior que isso tudo faz sentido... — murmurou consigo mesma e decidiu prestar atenção na aula.

        — O que faz sentido? — perguntou Alice.

        Crystal virou a cabeça rapidamente para a amiga. Para sua sorte — e graças ao barulho do vento que cortava os terrenos da escola misturado ao professor falando — nenhum de seus amigos pareciam ter ouvido a garota. Seus pensamentos vagaram tanto que esquecera completamente do mundo ao redor.

        Parou para pensar mais um pouco. Precisava falar com alguém sobre tudo que havia descoberto e não teria problema contar a Alice. Lembrava de quando eram mais novas, um tempo depois de se conhecerem na escola nova, quando Alice lhe contou sobre sua vida. Ali, ela havia confiado em Crystal — e esta já a conhecia a tempo suficiente para saber que podia confiar qualquer coisa à amiga. Enquanto as irmãs eram extremos, a asiática conseguia dosar suas atitudes: não se precipitava como Aurora nem era cuidadosa demais como Dora — ambas em certos casos.

        — Te conto depois... — murmurou Crystal, olhando para o resto dos amigos antes de continuar. — Quando estivermos sozinhas.

        Não gostava de não dizer nada sobre o que quer que fosse à Aurora e Dora e duvidava que agiriam de formas extremas com os rapazes, mas era preferível não arriscar. Seu próprio irmão havia agido a respeito da descoberta dos rapazes de forma diferente do que havia pensado que um dia poderia agir a qualquer coisa.

        — Finja que não está bem. — disse Alice de repente.

        — O quê? — perguntou sem entender e levou da amiga uma cotovelada no estômago que a fez tombar levemente para frente.

        — Professor! — chamou Alice, levantando a mão como se nunca tivesse feito nada.

        — Sim, senhorita Ihlenfeldt. — o animado Prof. Kettleburn interrompeu sua explicação.

        — Crystal não parece bem. — apontou para a amiga que ainda estava debruçada. — Posso acompanhá-la à enfermaria?

        — Oh, céus. — o professor pareceu notar então a menina. — Claro, claro.

        Alice guiou Crystal para longe do grupo e observou seus amigos a olharem preocupados.

        — Precisava disso? — a garota de olhos âmbar perguntou irritada assim que entram no castelo, esfregando a região atingida. — Ainda dói graças aquele maldito balaço.

        — Desculpe, esqueci disso, mas precisava ser realista o suficiente para que o professor nos deixasse sair.

        — Acho que funcionou porque foi real. — resmungou Crystal.

        — E também precisava saber o que está te deixando tão alheia. — continuou a outra, séria. — São poucas coisas que te deixam assim e, normalmente, são bem sérias.

        — Uma delas não é tão séria. — ponderou, pensando sobre o irmão de Sirius. — Não sei nem porque me incomodou tanto. Agora, o outro assunto...

        E contou tudo à Alice enquanto andava pelo castelo, tomando todo o cuidado de olhar sempre ao redor. Mostrou todos os pontos apresentados por Alex e também disse tudo que o garoto da Sonserina havia dito. Após Crystal terminar o relato, Alice ficou um tempo pensativa.