Capítulo 52 - Nesquik

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Camila Cabello  |  Point of View





Continuamos conversando, até que me lembrei de uma coisa.

— Eu já disse que não lembro muito da minha infância?

— Sim. Achei estranho, pois cada vez que vamos visitar meus pais, eu me lembro de cada arte que fiz naquela casa.

— Ontem eu lembrei. Lembrei-me do dia que perguntei sobe meu pau pra ela. Ela disse que eu era uma garotinha muito especial e que não devia contar aos outros, pois eles sentiriam inveja.

— Ela foi sábia. – Eu deixei uma lágrima correr na minha bochecha.

— Ela me deu um beijo e deixou que eu a beijasse. O cheiro de lavanda dela... eu nem lembrava que já tinha beijado ela... ou sido beijada por ela. Foi muito louco e eu fiquei me perguntando como alguém pode ter mudado tanto? Eu não posso mais julgar ela, pois não faço ideia de como aquele anjo da minha lembrança virou meu pior inimigo na vida. Como eu posso ter ido de especial para inútil tão rápido. Eu fiz tudo certo, criei Amber e cuidei de Emma sozinha, com uma esmolinha do meu pai, às vezes, mas no total foi quase nada. Carreguei Emma grávida pra cima e pra baixo nessa cidade. Fiquei doente um monte de vezes e não fui reclamar pra ela. Quando meu pai deixou a empresa pra mim, ela disse que eu faliria tudo em um mês e hoje sou a maior empresária dessa cidade e estou conquistando Londres também. Eu merecia mais crédito.

— Eu nunca entendi a tia Sinu. Ela me odiava e nem me conhecia.

— Se ela odiava a filha dela, o que deixa para os outros? Ela era apaixonada por Emma e Amber. Pelo menos minha filha e esposa, na época, ela não tratava mal. Aí eu teria que me impor. Mas agora... são águas passadas.

— Sim. Tudo pra trás.

— Agora vamos almoçar?

— Sim.

Almoçamos e depois eu fui para casa e comecei a arrumar o jardim. Peguei um cortador de grama, um aparador de cerca viva e uma tesoura. Seria uma longa tarde.

Eu estava suando como um porco, devia estar fedendo também e minha regata branca estava colando. Fiquei pensando no quanto eu devia estar sexy. Hahahaha, para de ser infantil, Camila.

O carro de Amber parou em frente ao portão e ela o abriu com o controle. Fiquei como uma pata choca hoje de manhã procurando essa merda de controle. Pequena traidora... entre no seu pequeno abatedouro. Ela desceu do carro e para minha surpresa, Lauren desceu do outro lado, eu não sabia se era ela, mas senti o seu perfume natural, pois ela é alérgica.

Amber beijou meu rosto e Lauren também, mas ela apertou meu braço.

— Estou querendo fazer isso há tempos. – Sorrimos e elas foram para dento de casa.

Continuei a podar as cercas vivas. Quando olhei para a cerca de madeira, me assustei e levei a mão ao peito.

— Desculpe. Não queria te assustar.

— Tudo bem. Eu que estava distraída. – Era uma ruiva.

— Eu sou Kate. Moro aqui. – Ela disse apontando a casa ao lado da minha. — Você é jardineira?

— Não. Essa casa é minha. Eu estava viajando e minha filha não entende muito de organização.

— Filhos. Os meus são assim também. Mas eles não moram mais comigo. Você é casada?

— Não. Eu me divorciei faz um tempo e ela fica nesse vai e vem, com uma mãe e com outra.

— Você é muito boa. Você não pode vir fazer um servicinho aqui em casa? Será muito bem compensada.

— Seu jardim está impecável.

— Dentro de casa. – Sabe aquela famosa afogada com a saliva, sim, foi dessas. Um pequeno furacão entrou entre a cerca e eu. Era Lauren.

— Está tudo bem aqui? – Lauren perguntou.

— Estava melhor. – Kate disse. — Essa é sua filha?

— NÃO! – Gritamos ao mesmo tempo.

— Ela é uma amiga da minha filha. – Eu disse.

— Pode ir pra dentro tomar seu Nesquik, menina. Estamos conversando. – Eu dei uma gargalhada interna e depois fiquei muito irritada. Só eu mando a Lauren tomar Nesquik.

— Respeite ela, moça. Eu não faço serviços na casa dos outros. – Virei as costas e sai dali.

— Mulher pedante. O que ela queria com você?

— Que eu limpasse o pátio dela.

— Sei. Ela e quase toda a vizinhança. – Olhei para os lados e vi que várias mulheres estavam sentadas nas varandas..Voltei a fazer a limpeza e Lauren sentou ao lado de Amber na varanda.

Terminei a poda e coloquei as folha no lixo em frente a minha casa. Depois entrei e fui tomar um banho.

Depois entramos e elas pediram pizza. Ficamos esperando enquanto assistíamos um filme na TV.

— Você pode comer pizza hoje, mãe?

— Sim. Não comi nada a tarde toda, preciso completar minhas colorias diárias.

— Quantos pedaços?

— Dois, pois vou tomar cerveja.

— Você controla tudo que come?

— Mais ou menos. Antes eu era mais paranóica, mas eu cresci muito.

— Você estava maior? – Lauren perguntou.

— Sim. Mas ela não gostou de ficar com os braços grandes. – Amber respondeu.

— É. Ficou estranho, aí diminui o treino e meu personal organizou minha dieta.

Quando a pizza chegou, nós comemos e depois Amber foi até o carro, pois teria que levar Lauren para casa. Lauren ficou para trás.

— Meus irmãos estão surtando por você estar na cidade. Se puder visitar eles.

— Claro. Pode deixar, eu os verei assim que possível. – Ela pegou no meu braço e beijou minha bochecha, depois apertou ele de novo e mordeu o lábio.

— Até. – Ela disse quando acordou do transe.

— Até.

Eu não presto, pois fiquei admirando o corpo dela enquanto ela se afastava... tudo que eu já fiz nesse corpo. Fiquei toda em alerta.

Eu deitei no sofá, e depois de um tempo Amber chegou.

— Vai dormir aí?

— Não. Já vou para cama. – Eu menti. Eu preciso reformar aquele quarto... ele é tão Camren.

— Você é uma péssima mentirosa. Ligue para ela, ela também não consegue dormir.

— Não sei do que você está falando.

— Não sabe. Sei que não sabe. – Ela beijou meu rosto. — Amo você. Boa noite.

— Boa noite, pequena. – Peguei o telefone e disquei o antigo número de Lauren, se não for o mesmo, não conversarei com ela.

— Amber. Já está com saudade?

— Sou eu.

— Camz. Oi.

— Te acordei?

— Não... que bom que você ligou.

— Não te dei boa noite. – Que desculpa idiota.

— Pois é... eu também não dei. Nem agradeci pelo jantar.

— Não precisa... foi só uma pizza.

— Foi com você. Não foi só uma pizza. – Fiquei ouvindo a respiração dela.

— Vou deixar você dormir... até logo. Boa noite.

— Boa noite, Camz. Eu amo... – Ela parou. — Força do hábito.

— Tudo bem. Até.

Eu desliguei e fiquei olhando o telefone. Que falta senti dela.

Sweet YouthOnde histórias criam vida. Descubra agora