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Despertei com a cabeça pesando, me questionei se uma taça de vinho era suficiente para isso, mas rapidamente me recordei de todas as emoções que senti antes de adormecer. Me auto mediquei e liguei o computador para trabalhar um pouco, é algo que me distraí, e ao mesmo tempo resolvo coisas que de fato são importantes.

Kim saiu para a empresa logo cedo, agradeci aos céus por não tê-lo visto logo de manhã, algum tempo atrás ele não era capaz de sair sem me dar um beijo sequer, ou deixar uma mensagem avisando que teve que ir mais cedo para se adiantar. É normal que as pessoas passem por problemas em seus casamentos, é normal que passemos por problemas em todas as áreas da nossa vida, mas há situações que somos nós que atraímos os problemas.

Eu não sou a esposa perfeita, ele não é o marido perfeito, mas mesmo assim não prometemos nos amar e nos respeitar? Mesmo nas dificuldades não deveríamos unir nossas forças e tentar passar por isso juntos? Infelizmente no meu caso o problema foi ele quem causou, e sou eu quem ficou com a parte de unir as forças e passar por tudo sozinha.

Me sinto incapaz de suportar uma traição, me sinto incapaz de suportar o abandono e toda sua negligência. Ele foi o único homem em toda minha vida, a companhia que tive por anos. É difícil para minha mente aceitar que as coisas não estão como antes.

Após um dia inteiro trancada, buscando focar no trabalho, uma das funcionárias da casa veio me avisar que ele mandou dizer que voltaria mais tarde da empresa hoje.

Depois desse recado reuni forças para me arrumar com mais decência, tomo um banho relaxante e coloco uma roupa apresentável, no rosto, algo leve. A noite não está tão fria, mas mesmo assim pego um casaco e me dirijo à porta.

Me tranquilizei quando segurei o volante, ouvindo uma boa música e apreciando a vista da grande cidade, as luzes me levavam para um lugar do meu cérebro que tenho tido pouco acesso ultimamente, trazendo uma sensação de conforto.

Porém, recordar qual era meu destino me fazia tremer inteira. Estava indo a empresa, com qual desculpa, ainda não sabia, mas iria de qualquer forma, afinal, estou no meu direito.

A fachada iluminada deixava o ambiente belo e elegante, pela primeira vez senti que poderia me desequilibrar daqueles saltos, parada em frente ao edifício calculei toda a motivação que tive para estar ali, suspirei com força e segui adiante.

— Sra. Kim! — A recepcionista, uma jovem baixinha e gorda se curvou me cumprimentando.

— Boa noite Sra. Kim — Agora foi a vez de um rapaz de terno, esguio e mais velho. Era o segurança.

— Boa noite. O chefe de vocês está... Muito ocupado?

— Provavelmente senhora, mas acredito que a esposa dele, ele terá prazer em receber.

— Acredito que sim. — Sorri sem jeito, tentando ser simpática. — Sendo assim, não é necessário me anunciar, obrigada.

Eles apenas concordaram com a cabeça e sorriram, peguei o elevador sozinha, e a cada andar que passava, minha frequência cardíaca se igualava, eu estava insegura, mas os funcionários estavam tranquilos, o que de certa forma me passou mais segurança.

Eles podem até ainda acreditarem na vida de casal perfeito que temos, mas não perceberem nada estranho na relação do chefe com aquela funcionaria todos os dias aqui dentro é um pouco demais. Eu não posso estar só imaginando coisas.

Girei a maçaneta devagar, coloquei apenas metade do corpo para dentro e fiquei o observando por um tempo, ele teclava rápido e analisava alguns papéis do lado, estava somente com a camisa social branca, com os cabelos rebeldes descobrindo a testa, analisei que ele parecia transpirar. E pude ouvir sua respiração.

— Notei sua presença desde que girou a maçaneta. — Disse sem me olhar ainda.

— E porque não falou comigo? — Tranquei a porta entrando,  sentei na cadeira em sua frente.

— Se está aqui é porque você é que tem algo para falar comigo, não?

Me olhou pela primeira vez, tirando sua atenção dos papéis lentamente, aquele olhar me causou medo, e um quase arrependimento por ter ido até ele. Mas permaneci resistente aos meus sentimentos, mantendo a postura.

— Vim somente para esperá-lo, também quis sair um pouco de casa, passei o dia todo no quarto.

— Deve ser isso, trabalho demais está consumindo sua cabeça, ultimamente suas atitudes estão duvidosas demais.

— Não vamos começar com os códigos por favor, não estou com cabeça para muita coisa.

— Deveria ter ficado descansando em casa então.

— Minha presença te incomoda tanto assim?

— Depois da noite de ontem acredito que seja o contrário.

Ele volta sua atenção ao computador o que me deixa desconfortável, mas não porque acredito que ele esteja certo, eu não saí ontem por não gostar de sua companhia, mas por acreditar que é ele que não aprecia mais a minha, vejo que para ele está sendo uma obrigação dividir casa, cama, tudo comigo, um verdadeiro tédio.

Tudo isso me faz sentir tão pequena e insignificante, me dedico ao trabalho, porém nunca deixei de me dedicar ao casamento, cinco anos jogados fora? O que eu estou fazendo de errado? Apesar da falta de barulho na sala, a minha cabeça batucava demais, mas o silêncio permaneceu por pouco tempo, pois logo alguém bateu na porta.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora