02

766 63 10
                                    

Assim que atraí sua atenção, me encostei no batente da porta que separava o closet do quarto, ele se pôs de pé outra vez, ficou em silêncio por um tempo, deslizava inquietamente as mãos pelo rosto, mas ele sabia que precisava responder.

— O que está querendo dizer? Que eu tento suprir suas necessidades amorosas com luxo?

— É, é isso que estou dizendo. — Ele sorriu ironicamente, virando o rosto para o lado, em seguida volta a olhar para mim.

— Mas eu estava lá não estava? Além de conforto também teve minha companhia.

— Muitas pessoas podem fazer o mesmo, companhia eu encontro em qualquer lugar, eu queria a sua mente em nós, eu queria você entregue por inteiro nesse relacionamento.

— Eu definitivamente não estou compreendendo você.

— Eu também estava assim há um tempo atrás, mas minha incompreensão já está quase sendo anulada

— Não comece com seus dramas. Não gosto disso, que fiquei claro.

Eu estava chateada de fato, mas não poderia negar o quanto ainda me parece atraente toda aquela imagem, sua beleza era comum, mas eu costumava gostar de tudo nele, dos pés até a cor de cabelo, e o próprio penteado, ele era o exato perfil de um jovem rico asiático. Conseguia estar dentro do padrão.

Mas eu gostava, gostei desde o começo, tudo no seu rosto ornava, era uma vista tão agradável. Principalmente quando dormíamos após nos amarmos.

Lembrar disso me atingiu, acordei dos meus devaneios e o olhei, ele tinha passado por mim e entrado no banheiro sem que eu percebesse, quando saiu, me encontra sentada na cama, e encarava como se estivesse esperando talvez um pedido de desculpas da minha parte.

— Realmente não tem nada a dizer?

— Eu não... — Nem pude concluir.

— Esse seu mistério, essa sua carinha de vítima me deixa louco, com tantas dúvidas, isso me estressa.

— Eu só estou cansada, se puder deixar a conversa para outra hora eu agradeço. — Falei ajeitando a cama para deitar —  Você sempre apronta e depois foge, já sei que não iremos conversar, que você vai fingir que nada aconteceu e me deixar como culpado por todas as suas birras.

— Nunca o culpei por nada. — Balbuciei sonolenta.

— Não precisa falar que sou culpado, sempre que acontece algo você fecha a cara, fica agindo desse jeito, é claro que vou pensar que sou o motivo e que me ver como culpado.

— Por favor, já disse que não quero mais conversar. — Me virei implorando.

Ele gesticulou para que eu ficasse de pé, resisti, mas o homem foi insistente. Quando me levanto, vou em direção a porta de saída.

— Pode dormir sozinho hoje. — Kim agarra meu braço e me põem de frente para ele.

— Não mandei levantar para sair, ou dormir em outro lugar, foi para conversar comigo decentemente.

— Mas já falei que não quero conversar!

— Acho engraçado você fazer as coisas que faz e depois não querer responder pelos seus atos, se fosse eu no seu lugar com certeza estaria enlouquecida dentro desse quarto querendo respostas.

— Está enganado, muito enganado. — Falei alto. — Tenho muitas dúvidas em relação aos seus atos, e até hoje não sabe de nenhuma delas, e também não venha dizer que as responderia.

— Esse é o momento, sanarei todas se preciso. 

Dou risada da sua fala e sua mão aperta mais um pouco meu braço, logo desfaço meu sorriso e digo entredentes. 

— Primeiramente, me solte, segundo, não sanaria nenhuma, e sabe porquê? Porque o conheço como ninguém. Consegue disfarça-se tão bem quanto pensa que disfarço.

Ele larga meu braço, e segue me olhando com os olhos queimando, aproximo mais e vou desabotoando sua camisa, terminando o que ele havia começado, ele ficou estagnado sem entender muito bem, mas me deixou tirá-la totalmente.

Deslizei minhas mãos por seu braço para que todo serviço estivesse completo, agarrei a camisa e cheirei o colarinho, ainda o encarando, arremessei a peça num balde de roupas usadas que estava do lado, voltei ao colchão, desliguei o abajur e deixei meu corpo se afundar entre os lençóis. Mas não tenho certeza se ele entendeu o recado. 

Quando realmente você é culpado, até os mínimos detalhes te fazem sentir a culpa nas entranhas. Espero que tenha ficado claro que o cheiro que senti na peça não pertencia a ele, e que eu sabia disso.

Essa noite foi a mais tensa da minha vida, cada centímetro do meu corpo clamava por descanso, minha mente gritava por calmaria, tantos pensamentos que chegavam a causar dor física.

A cama parecia ter espinhos, ao invés de me fazer sentir relaxada e protegida, trazia desconforto e inquietação, céus, nem minha alma deve conseguir sair do meu corpo de tanto cansaço.

Foi a primeira vez que de fato experimentei o que é estar acompanhada e se sentindo sozinha, ele estava ali comigo na cama, a poucos centímetros de mim, mas sua mente estava nela. Ou em outra? E quem sabe outras. Eu de verdade não o reconheço mais, e o que esperar de um completo estranho?

O questionamento quase me fez sorri pelo que pensei, pois antes de desligar, minha mente sussurrou que um quase atropelamento é uma das opções.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora