MAGNETISM. jjk

15

Acabei dormindo com a minha mãe, o papai está fora, era o momento perfeito para termos uma noite só nossa, confesso que esse tempo de qualidade com ela me aliviou muito, mas não durou muito, e o momento de calmaria passou em instantes, pois meu marido me ligou irado.

Queria saber onde eu tinha passado a noite, e agora me sinto culpada porque isso ele nunca fez, mas eu estava tão chateada — na verdade ainda estou — que nem me importei em mandar algum tipo de aviso.

— Quero só ver a desculpa que você vai dar depois para me fazer sair como culpado no fim das contas. — Ele gritava ao telefone. — Você passou a noite fora e nem sequer me avisou, aonde você dormiu? É isso que estou perguntando!

— Não fique supondo nada, estou a caminho, depois conversamos. — Passo a mão na testa já sentindo a irritação.

— Hum, é mesmo? Está a caminho? Pois estou aguardando você na empresa em cinco minutos.

Desligou na minha cara, senti o medo penetrando na pele, ultimamente até seu tom de voz parecia mudado, o que mais me afeta são os meus pensamentos que me sabotam e me fazem questionar se a culpa de tudo sempre foi minha.

Se sou culpada pelo que estou sofrendo e pelo que ele está fazendo comigo, entendo que deixei a insegurança me levar, me arrastar para um buraco profundo que nem sequer socorro poderia pedir.

Eu estava confusa cada vez mais, oro para que não seja apenas minha imaginação, seria muito pior perceber que a minha desconfiança destruiu meu casamento ao invés de uma enorme falta do Kim.

Cheguei a empresa trêmula. Insisti em permanecer de cabeça erguida e olhando para meu objetivo ao invés de mostrar que percebi aquela figura masculina bem em frente à entrada, ele me notou, eu vi, mas não iria dar o mesmo gostinho para ele, de início me assustei, pensei que estivesse delirando de vez, como ontem.

Mas percebi que ele não estava sozinho, não estava apenas parado me observando como um verdadeiro fantasma perseguidor, ele já estava me dando medo, admito. Talvez ele tenha percebido que eu o vi pelo meu comportamento, já que me encarava tanto, que poderia até ler meus pensamentos, e ele sabe que um ser como ele nunca passa despercebido, inclusive isso é perigoso, saber do poder que temos pode ser uma arma fatal.

— Aqui tão cedo? — Aquela voz, um ótimo dia terei pelo visto, começando ele tendo que aturando risos falsos.

— Pois é, meu marido me pediu para vir. — Ela comemoraria se soubesse como ele estava, e o que poderia dizer a mim, mas vou deixar a imaginação dela fluir.

— Talvez você o relaxe, acabei de sair do seu escritório e ele estava tão estressado. — Diz construindo um biquinho nos lábios, é eu errei, ela já está comemorando.

— Acho que sou mesmo a mais qualificada para isso. — Fingi não me abalar e caminho acenando para ela.

Agora eu já estava não estressada também que decido que não irei abaixar a cabeça para os insultos dele, eu sempre tento conversar ou fugir quando vejo que as coisas podem piorar, mas dessa vez não. Se ele ousasse ser rude comigo, seria com ele também.

— Entre. — Ao receber esse comando, eu entro.

Encontro ele de cabeça baixa massageando as têmporas, ao olhar quase que em câmera lenta para mim, seu olhar começa a ganhar cor, percebi sua irritação chegar pelo ar até mim, e quase posso sentir as faíscas de seus olhos me queimar. Por um momento fraquejo, mas lembro da minha decisão. Tudo aqui terá troco.

— Se esqueceu que tem marido?

— As vezes você também se esquece tem esposa.

Rebato, e vou andando até estar em frente a sua mesa, coloco minha bolsa em cima dela e me sento na cadeira. Ele me olhava com os olhos minimamente cerrados, faço o mesmo.

— Você anda bem atrevida, já te alertei sobre isso, e espero não precisar alertar de novo. Seu comportamento está me irritando cada vez mais. — Joguei meu corpo um pouco para trás apoiando na cadeira.

— Você esquenta a sua cabeça sozinho, eu passei a noite com a minha mãe, qual o problema?

— O problema é que você não avisou, acha que sou algum tipo de idiota para ficar te esperando até tarde?

— Isso é o que eu sempre faço, e nunca reclamei.

— Mas você sempre sabe onde eu estou não é? Se chego tarde ou não, satisfações minhas você sempre teve.

— Reconheço que deveria ter avisado, mas você não precisa fazer todo esse escândalo se já sabe que eu não estava fazendo nada demais.

— Quem me garante? — Se levanta, apoiando as mãos na mesa, me fazendo soltar um riso debochado.

— Não pague de desconfiado por favor, você me conhece muito bem. — Acabo me levantando também.

— Eu não estou entendendo mais você. Não estou mais te reconhecendo.

— Adoro como temos muitas coisas em comum, você também está irreconhecível para mim. — Digo pausadamente causando uma reação inesperada nele.