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Pela janela do carro eu via alguns estrelas separadas aleatoriamente no céu, havia poucas por se tratar do céu de uma cidade movimentada, as luzes dos prédios eram mais brilhantes que as luzes do alto.

É imensurável o desconforto de estar naquele carro com ele, e tudo se tornava pior pelo silêncio. Acho que ele também está sentindo a tensão e o desconforto, pois deu play numa música aleatória.

Deixar um dos carros no estacionamento da empresa para vir comigo talvez tenha sido a coisa mais difícil para ele. Me sentia um peso, mas não poderia reclamar, afinal eu que escolhi estar aqui, me espantei por pensar que talvez estivesse parecendo uma desesperada.

Enquanto a música tocava baixa e o som do trânsito era o mais audível, o sinal vermelho apareceu. Oh Deus, que tortura. Me arrependi amargamente de ter vindo, a essa altura nem me importava mais se ele estivesse no escritório agora com ela.

Durante aquela eternidade, meu olhar foi direcionado a janela, havia ao lado do carro um homem numa moto, foi uma visão que prendeu minha atenção, a vista era interessante, na minha cabeça aquela imagem poderia ser facilmente tirada de um quadro, ou filme.

Me pareceu familiar de certa forma, tanto a maquina como o rapaz, que estava completamente de preto. O capacete me impediu olhar direito seu rosto, quando ele girou o pescoço, e nossos olhares relaram um no outro, mas o sinal abriu e não vi sua feição com clareza.

Mesmo quando senti meus pés tocando o piso da sala de estar, minha cabeça ainda estava no acontecimento de minutos atrás, me fascinou de certa forma, a escuridão da noite, as luzes dos carros, dos prédios, dos olhos... 

E provavelmente o que me atraiu de fato, foi a sensação de liberdade, de alguém sozinho viajando pela noite, sentindo o vento e a adrenalina. Se estivesse com uma câmera e num momento oportuno, adoraria fotografar cada detalhe que minha mente recorda.

 Kim bate a porta atrás de mim, me despertando.

— Pai? — Arregalei levemente meus olhos o vendo sentado no sofá.

— Boa noite, filha. Estava te esperando.

— Pai, me desculpa, por que não avisou que viria? Assim teria o aguardado. Estava na empresa, está esperando a muito tempo?

— Não, não, só precisava te ver.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei segurando sua mão um pouco gelada.

— Não, só quis ver como estava, na quarta irei fazer uma viagem, gostaria de me despedir e avisar.

Aproveitei o carinho que ele fazia nos meus fios, há quanto tempo não sentia esse carinho.

— Ah, entendo, mas falei com a mamãe ontem e ela não me falou nada. É de última hora?

— É sim. Inclusive marquei um jantar com ela amanhã antes de ir, se puderem ir ficaremos felizes.

— Compareceremos sim. — Meu marido se prontifica.

Ele nunca fez questão de jantares ou almoços em família, confesso que me intriga essa ação repentina, mas dessa vez ele não vai conseguir ter influência sobre mim.

— Pai, a noite não iremos, fomos convidados para sair por uma funcionária muito querida da empresa, mas posso passar em casa amanhã durante o dia para vê-los, além do mais, é até melhor para você e a mamãe, terem esse momento sozinhos.

Pisco para ele, mesmo minhas primeiras palavras não sendo tão sinceras assim. Kim um pouco distante de nós muda a feição passando a mão no cabelo, suspirando.

— Tudo bem então, querida, irei agora, acredito que estejam cansados.

— O Kim certamente. — Confirmo olhando para o meu marido. — Mas adoramos sua visita.

Ele sorri para nós enquanto se levanta indo até a porta.

— Fico feliz em vê-los bem. — Sorrimos sem jeito, mas pelo menos não falou sobre netos como nossas mães tem mania.

Me aproximo do meu pai para abraçá-lo, Kim faz o mesmo, antes de colocar sua mão ao redor da minha cintura, ele sabe fingir bem. Grande ator.

— Boa viagem, sogro.

— Até amanhã, pai.

— Obrigada, tenham uma boa noite.

Acompanhamos ele até o fechamento dos portões, retornamos para dentro já afastados um do outro.

— Enlouqueceu de vez? — Ele dispara enquanto fecho a porta.

— Do que está falando?

Seu sorriso irônico me faz fechar a cara automaticamente mesmo sabendo que faço o mesmo as vezes.

— Há pouco tempo atrás deixou claro sua apatia pela minha funcionária, agora dispensa um jantar com seus queridíssimos pais para sair com ela?

— Se estou louca por isso, você também deve estar, já que nunca fez questão de jantar com os meus ou os seus pais, mas imediatamente aceitou o convite dele hoje! Por que?

Subo os degraus sem cabeça para discussão, mas ele não hesitou em me seguir.

— Nunca fiz questão, porém sempre fui, e você nem a conhece, além de não fazer questão ainda deixou claro não gostar dela.

— Por que se importa tanto se não gosto dela? Ou se aceitei sair com você, ela e o suposto namorado? O que te preocupa? Não ver que isso está de deixando nervoso e suspeito demais?

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora