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Meu corpo estava tão maldosamente cansado, que até para subir as escadas foi uma dificuldade para mim. Parecia uma morta-viva tentando alcançar o protagonista em algum filme sobre apocalipse zumbi.

Ao concluir meu trajeto, sons desconhecidos, mas talvez não muito, me fizeram parar por um instante me questionando de onde poderiam estar vindo, se antes caminhava lento, diminui ainda mais meus passos em direção ao local que acreditava ser de onde estaria saindo o barulho.

Abrindo com cuidado a porta do meu quarto, pude ver a cena que havia imaginado muitas vezes antes na minha cabeça. Os dois corpos numa ação que nem parece ser capaz de causar estragos. Meu casamento que eu tanto imaginei se reerguendo, acaba de desabar bem na minha frente.

Apenas uma das duas pessoas não era conhecida por mim, mas no futuro farei de desconhecido o outro também. Sem muita demora minha presença é notada, me enjoa a expressão de choque que fazem como se eu é quem não devesse estar dessa forma.

Poderia sair correndo, mas adentrei ainda mais no cômodo, indo direto para o closet, tanto Kim como a mulher de cabelos vermelhos me olhavam paralisados. Ajeitando minha postura, dei alguns passos para trás.

— Me desculpe por atrapalhar, podem continuar assim que eu sair, só vim pegar algumas peças de roupa. — Com certeza não, eu tinha ido para descansar na cama que dormimos por anos e que agora ele havia colocado outra.

E de fato acabei pondo algumas coisas numa bolsa e pegando mais outras que julguei necessárias. Bati a porta com a força que me sobrou, mas assim que terminei os degraus e pisei na sala, tudo foi embora, as lágrimas não se seguraram mais.

Eu desejei um abraço, desejei alguém para me apertar tão forte e me mostrar que eu não estava sozinha. Porque eu estou. Eu não poderia contar para os meus pais, não me sentia pronta para atingi-los dessa forma, não tenho amigos, não tenho muitas pessoas próximas, nenhuma das poucas pessoas do meu convívio me parecia ideal para saber.

Só agora percebo o quanto Kim tirou de mim, desde o início eu estava presa a ele, só não enxergava as consequências que isso me traria no futuro. Me dediquei a nossa relação e deixei de lado a minha relação comigo mesma e com as outras pessoas ao meu redor.

Ele me destruiu. Me destruía aos poucos todos os dias.

Peguei meu celular e rolei pelos meus contatos. Definitivamente meu trabalho não ia me salvar agora, minhas funcionárias e nem os parceiros seriam a solução para meu desamparo.

Vejo a tela apagar em minhas mãos e as lágrimas pingarem na película. Entro no carro e dirijo até uma rua próxima. Eu só queria estar longe daqueles portões, porém não estava em condições de agarrar aquele volante e dominar as ruas sem rumo algum. Permaneci estacionada num local qualquer.

Me perturbava a ideia de dormir em hotel novamente, eu estava começando a sentir pena de mim mesma, estava num estado de decadência que jamais imaginei. E foi em meio aos soluços desesperados que tive o pensamento mais absurdo. Me repreendo de primeira, porém continuei pensando nisso, minha cabeça e sei lá mais qual parte de mim implorava para que eu fizesse isso.

Nunca pensei que um estranho seria a única opção que eu teria para uma situação como essa. A real é que eu não quero um lugar para ficar tanto quanto eu quero alguém para me ouvir. Eu só preciso que alguém saiba o que aconteceu, estava casada de me calar e parecer que o Kim nunca tinha dedo em nada.

E Jeon Jungkook infelizmente ou não, era quem mais sabia da falsa santidade do homem com quem me casei. Ele não me questionaria tanto a respeito de como andava o meu relacionamento quanto alguém que nem sequer sabe o que eu vinha enfrentando.

Com um clique entrei no e-mail e resgatei nossas conversas, o número estava lá, resgatei e disquei. Minhas pernas balançavam freneticamente, o suor das mãos pareciam não secar mais, e ainda se misturava com as lágrimas que eu tentava limpar a cada minuto.

Inútil. Sinto que o choro não vai cessar por tão cedo.

O telefone começou a chamar, e ao mesmo tempo que parte de mim gritava e me julgava dizendo que eu estava ficando maluca, a outra parte gritava pedindo para que ele atendesse.

Três, quatro, seis, dez segundos...

Alô. — Mesmo do outro lado da linha, a sua voz me causou um arrepio profundo, como se estivesse falado rente ao meu ouvido.

Jungkook. — Foi inevitável não sair a voz de choro, fiquei envergonhada.

Alô? Quem é?

— Jungkook, sou eu. — Não sei se ele percebeu quem era ou se ele não ouviu, mas do outro lado ficou silêncio por alguns segundos.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora