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Ter menos problemas é a coisa que eu mais almejo no momento, caminho resmungando sentindo meus pés doloridos por estar caminhando a um bom tempo de salto.

Já estava mancando, estava um tris de deixar o cansaço me dominar e acabar sentando ali mesmo na beira da estrada. Acordei cedo para ir ao trabalho, trabalhar era a única coisa que estava fazendo sentido para mim, a única área da minha vida que estava indo até que bem.

No meio do caminho meu carro quebrou, ainda não sei qual o problema, só sei que estou tão irritada e frustrada com tudo dando errado. Deixei o orgulho tomar conta e não liguei para meu marido, não irei de maneira alguma pedir ajuda para ele, então o único jeito era caminhar em busca de alguma oficina, ou de alguém.

O céu estava um pouco nublado, as nuvem tapavam o intenso brilho do sol, eu me sentia assim também, as dificuldades da vida aos poucos estão cobrindo a minha vivacidade.

Por fim, ao longe vejo que há uma oficina finalmente, me sustento, e incentivo a mim mesma a caminhar mais um pouco.

Era uma espécie de garagem, tinha um balcão mais ao fundo depois dos carros que estavam na frente, e nele havia um homem, ele sorriu e acenou assim que percebeu minha aproximação.

O homem que aparentava ter uns cinquenta anos caminhou em minha direção, parei cansada e pensei em retirar meus saltos, em segundos eles já estavam em minhas mãos.

— Bom dia senhorita, posso ajudar? — Sorriu simpático.

Demorei um pouco para raciocinar pela falta de ar, meus cabelos já estavam um pouco desgrenhados pelo vento que as vezes deslizava com força por meu corpo.

— Ah...Bom, eu preciso de ajuda com meu carro. — Apontei para a direção onde estava meu veículo.

— Oh, certo, poderia explicar o que aconteceu? — Ele entrou um pouco apressado creio que se adiantando para corrigir o problema.Eu o segui andando meia desengonçada.

— Eu não sei dizer, senhor. Eu estava indo para o trabalho e ele...

Do lado esquerdo da garagem tinha outro homem, ele estava passando um pano no tanque de uma moto, eu não tinha percebido ele ali ainda.

 Fiquei o observando e parece que ele percebeu, coçou a garganta, ainda olhando para baixo focado no que estava fazendo, observei mais um pouco antes de desviar o olhar.

Ele usava uma calça moletom clara, e uma camiseta cinza, pude observar alguns desenhos espalhados por seu braço direito. Percebi que era familiar, fiquei imaginando se já havia visto em algum lugar.

— Senhorita, vou revisar o carro, pode demorar um pouco, e se for algo mais sério precisaremos ficar com ele aqui para concertar.

O senhor chama minha atenção enquanto retornava do balcão onde parecia estar arrumando ferramentas que precisaria.

— Como? Mas eu não posso ficar, tenho que ir para o trabalho ainda. Teria como ser rápido?

— Então sugiro que peça um táxi, caso seja algum problema que pode demorar para ser resolvido.

— Mas senhor, eu preciso do meu carro.

Suplico com urgência enquanto sigo ele para fora, meio embaraçada ajeitando meu sapato no pé novamente, mas antes ouço o rapaz que até agora não tinha dito nada soltar uma leve risada.

Parei por um instante e me virei para ele, o mesmo levanta o rosto e me encara também, apesar de já ter sentido o olhar dele algumas vezes sobre mim, agora que retribui, parecia era mais intenso.

— Deveria ser proibido pessoas que não sabem nem o momento certo para atravessar a rua dirigir.

Aquela voz, aquela postura de superioridade, e principalmente aquele rosto, como me esqueceria, quase fui assassinada um dia desses por esse perfil.

— Deveria ser proibido pessoas que assumem pilotar em alta velocidade pilotar, e que ainda não quer ser punido caso chegue a matar alguém atropelado.

Cruzei meus braços enquanto ele sorria, um sorriso tão irônico que me deu ânsia. Uma raiva súbita surge em mim, não entendo de fato, até porque aparentemente meu maior inimigo no momento dorme comigo, deve ser esse jeitinho sarcástico, sorrindo de lado como se fosse dono de toda razão, que me irrita inconscientemente.

Enquanto ele colocava a moto para fora eu observava o homem mais velho ligando o próprio carro, para ir ao local onde estava o meu. Mesmo do branco do motorista ele abre a porta do passageiro e dar batidinhas no banco me incentivando a entrar.

— Vamos lá dar um jeito no seu dia. — Ele falou assim que entrei.

Ótimo, até o senhor da oficina anda percebendo meu comportamento nada tranquilo e meu mau humor, para piorar ainda tenho que lidar com comentários e deboche daquele metido a motoqueiro.

Por falar nele, vi que enquanto saiamos ele também subia na sua companheira e colocava o capacete. Tomara que não o encontre mais.

— Ficaria mais tranquila se eu a levasse para o trabalho e depois pegasse o seu carro?

— Não senhor, não se preocupe. Vou esperar o fim do seu serviço. 

Talvez um furo na rotina, me deixe menos neurótica.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora