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Agradeço, e com um sorriso meio tímido, olho para minha mãe imagino quantas coisas ela não deve ter dito sobre mim por aí, me deixaria com o ego inflado se eu não estivesse começando a me sentir inferior a tudo.

— E os seus filhos? Quero muito conhecê-los. — Mamãe fala radiante, alegrando também a mulher que se apressa para guiar ela até os demais convidados.

— Venha, vou apresentá-la a eles. — Me arranca um sorriso ver como elas pareciam duas adolescentes empolgadas.

Ao invés de ir com as duas, desejei ficar onde tivesse a menor concentração de pessoas, não que houvesse tantas ali, mas não tive o atrevimento de me misturar com elas. Não queria que meu baixo astral infectasse ninguém.

O tempo estava passando e minha exaustão aumentando, depois de ficar junto com minha mãe entre um cumprimento e outro, me entrego ao sofá enorme que havia na grande sala. Luto contra meu corpo, para permanecer com a postura correta e não desabar ali mesmo.

Mas se eu não o fiz, outra pessoa fez, pois senti o lado esquerdo do estofado afundar e meu corpo se mover levemente pelo impacto. Não me dei o trabalho de olhar, mas ao sentir o corpo se mexendo de novo, e olhei no automático.

Quase sinto minhas pupilas pulando dos meus olhos. Era ele, eu não podia acreditar, não até o homem também sentir meu olhar sobre ele e me devolver a mesma encarada. Tinha os cotovelos apoiados no joelho e a coluna inclinada.

Me impressionou que apenas moveu seu pescoço, e mesmo me vendo, permaneceu do mesmo jeito, ele continuava me encarando paralisado, ao tempo que eu com o corpo enrijecido ainda mantinha minha cara de assustada.

Vendo o pouco caso que ele fez da minha presença, me virei para a frente em sincronia com ele, passamos uns dez ou mais segundos observando as pessoas ao nosso redor, mas pela visão periférica percebo que me olha pela segunda vez. E antes que involuntariamente eu devolvesse a atenção, uma criança rápida se atira no colo dele.

O que fez despertar em mim um sentimento de gratidão por ela quebrar o clima estranho que estava se formando entre nós dois, mesmo que ela esteja tagarelando coisas que de fato só ela deva entender. Mas apreciei o ótimo ouvinte que o homem se tornou, acomodando a pequena criatura e concordando com cada frase sobre brinquedos e os doces da festa.

— Você conhece ela? — Estava falando de mim, impossível não perceber seu dedinho indiscreto apontando.

O homem faz uma expressão que não consigo decifrar, porém não me chateou, sua mão se move de um lado para o outro, num "mais ou menos", fazendo o garotinho sorri e iniciar um novo diálogo sobre o cabelo do homem, me fazendo sorri tanto por sua mudança de assunto, quanto por ter que concordar com ele. O cabelo estava grande e bonito.

— Quero deixar o meu assim, quando eu crescer, quero ser igual você.— Ouço o pequeno dizer, e um riso estranhamente bom vindo do outro.

— Não diga isso nunca para a mamãe e nem para ninguém.

É a última coisa que diz antes de pegar a criança corretamente no colo e se levantar com ela, e prontamente os dois desaparecem do meu campo de visão. Eu não posso negar o quanto estranhamente ele me atrai.

Percebi que estava meio tarde, e até que suportei mais do que pensei. O crédito era todo da minha mãe, que dividia seu tempo comigo e com os outros, me chamava para estar ao seu lado e dos amigos as vezes, mas entendeu que eu preferia ficar mais isolada.

Meu olhar foi carregado para copo que foi posto em minha frente, e depois para o rosto que estava acima, ele havia retornado, e trazendo dois copos de bebida, aceitei, mas confesso que estranhei sua atitude. Segurando seu próprio copo senta onde estava minutos atrás.

Não costumo beber, porém nessas condições talvez seja bom para mim tomar algo forte, não quero ficar bêbada, apenas quero sentir minha garganta queimar por outra coisa que não seja meus gritos.

— Obrigada. — Digo depois do primeiro gole, ele em resposta somente acena com a cabeça, levanta o copo simulando um brinde.

Como já tinha declarado, o cabelo estava impecável, mas passei a analisar outros pontos que tinha deixado passar despercebidos, não porque não chamasse atenção de primeira, mas porque eu estava evitando observá-lo.

Estava bem vestido, com seus tons neutros que me fazem questionar se ele possui algo colorido no guarda roupa, o mais atrativo era a calça escura, que marcava bem seu físico, até a forma despreocupada que estava sentando me fazia sentir estranha. Queria tanto não admitir o quanto o acho bonito.

— Está perdida ou o quê? — Corei com o pensamento de que apenas soltou essa frase porque estava ficando desconfortável com meus olhares.

— Acompanhante. — Explico me voltando para a frente.

— Não te preocupa o fato de que ele possa ter te observado enquanto me assistia? — Entendi a provocação pelo seu sorriso.

— É ela, mas garanto que ninguém precisaria se preocupar com isso se tratando de você. — Seu riso de deboche me chama novamente.

— Por favor, deixe essa função para os homens.

— Não entendi.

— Mentir, até porque isso não parece combinar com você.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora