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— Não quer mesmo ir à festa com os investidores?

— Não, não quero.

Deitada na cama observo o homem caminhar de um lado para o outro do quarto se arrumando para ir ao evento. Me admira ter me convidado, e me admira mais ainda não ter me obrigado a ir, fazendo-me de troféu na frente daqueles velhos nojentos e desrespeitosos.

— Depois você vem pagar de louca dizendo que faço tudo sem você. Que estou distante, que não te dou atenção. — Gesticula me irritando até com um simplesmente movimento.

Não respondo nada, agarro um travesseiro e dou as costas para ele. Quando sinto o cansaço chegando para me levar, a parte oposta da cama parece afundar, viro de novo com o susto, Kim se aproximava, ele estava vindo para me beijar.

Me sento de repente, me desviando do seu toque, passo a mão nos cabelos engrenhados e me levanto. Tanta repulsa me domina que não suporto estar mais no mesmo ambiente que ele, um beijo seria impossível.

— Não estou afim de ir a essa festa, só isso. Talvez eu vá a casa dos meus pais, somente. — Caminho até o banheiro.

— Está indo com muita frequência à casa dos seus pais. — O maldito me segue não permitindo que eu tranque a porta.

— E o que tem demais nisso?

— Nada.— Levanta as mãos em rendimento fazendo uma expressão de puro deboche. — Só estou intrigado, já que nunca foi assim.

Poderia dizer que antes eu tinha um marido mais presente, e que agora me sinto só, que meus pais são os únicos que sou próxima além dele, infelizmente. Gostaria que Kim não me conhecesse tão bem. Mas prefiro mostrá-lo que não me intimida mais como antes.

— Tudo bem se está desconfiando, já me libertei da necessidade de fazê-lo acreditar em tudo que digo. — Vou para fechar a porta em sua cara, achei que ele fosse resistir, mas apenas se afastou sorrindo.

Ao me trancar, encostei as costas na madeira fria, meu corpo pareceu derreter, porém não me daria essa derrota, me aflige imaginar tantas pessoas curtindo a vida lá fora, a cidade repleta de coisas para entreter, e eu sendo consumida pela escuridão desse quarto.

Sinto falta da sensação libertadora de está bem consigo mesmo. Eu iria recuperá-la, não importa o que aconteça, nem o preço que eu tenha que pagar.

— Surpresaa!! — Chamo atenção dos meus pais quando entro na sala de jantar, encontrando os dois juntos.

— Oi filha, que boa surpresa. — Recebo um abraço do meu pai.

— Boa noite meu amor. — Minha mãe diz baixinho.

Não levantou para me abraçar o que me fez sentar um pouco desconfiada, deixando minha tentativa de ser "alto astral" de lado. Eles já tinham terminado a refeição, bebiam um vinho e me ofereceram, de maneira nenhuma recusei.

— Me sinto bastante cansado, então vou deixá-las sozinhas para conversarem, gostaria de ficar também, mas realmente hoje o trabalho me consumiu.

— Tudo bem papai. Eu imagino, boa noite.

— Boa noite meus amores. — Beija nós duas.

— Pensei que estavam discutindo. — Assim que o homem sai, digo o que estava guardando desde que cheguei.

— Porque pensou isso?

— Sei lá, a senhora está muito quieta mamãe, aconteceu alguma coisa? — Dou um gole na bebida escura.

— Filha...— Seu toque me estremece, sua mão cobre a minha. — Eu gostaria de perguntar algo.

— Pergunte, por favor.

Eu já estava nervosa e curiosa demais, a minha mãe trouxe sua cadeira para mais perto de mim, ficamos cara a cara, e em nenhum momento desgrudamos nossas mãos.

— O Kim, te fez algo ruim? — Meus olhos saltaram.

— Mãe...

— Amor, ele fez algo com você? — Coloco a taça na mesa para não deixá-la cair.

Sem expressão alguma, olho em seus olhos, porém ao sentir a mistura de tantas emoções, começo a chorar como nunca antes, meu ato foi abraçá-la tão forte que parecia que iria me unir ao seu corpo.

— Mãe, quero me separar. — As palavras saíram tortas pelo choro que reinava, mas ela entendeu. Suas mãos acariciavam meu cabelo me causando ainda mais lágrimas.

— Porque nunca disse isso? Hum? — Pelos ombros ela me afasta e limpa meu rosto com as duas mãos.

Não sei como, mas não consigo dizer uma palavra, balanço minha cabeça num gesto de desespero, negando algo que nem sei direito o que é. Estava anestesiada pela dor.

Esticando os braços, ela pega uma jarra de água e derrama o líquido num copo, me entregando. Seguro com as duas mãos. Tremia compulsivamente.

— Desde quando o relacionamento de vocês não vai bem? — Não tinha condições de responder nada agora, mas eu não podia julgá-la, estava tão assustada quanto eu. Obviamente iria querer respostas como essa.

Me sinto envergonhada por ter escondido isso dela, tenho medo de chatear a minha mãe, medo de que quando essa tensão esvaziar, com mais calma ela irá me dizer muitas coisas por ter ficado quieta.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora