MAGNETISM. jjk

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Quando desfaço a pose, meu olhar é levado para o lado, onde acabo vendo aquele corpo se mover em direção a entrada do prédio, apesar de fazer qualquer chão de passarela, seu semblante era péssimo. Ainda assim era atraente, ela possuía uma áurea distinta.

Nem me dei conta que fitei absurdamente a mulher, me esquecendo da presença do meu pai. Quando voltei meu olhar para o homem, ele já me encrava estranho, alternando o olhar entre mim e ela, franzindo a sobrancelha.

— É a mulher do meu chefe, desfaz essa cara.

Repreendeu. Confesso que me surpreendeu um pouco, mas não deixei transparecer, então aquele homem era o chefe do meu pai, coitado. Fui ágio para subir na moto, pegando o capacete de volta. Me posicionei e olhei mais uma vez para o homem.

— Então avisa ele para tratá-la como tal.

Eu nem sei se ela chegou a me ver, mas não duvido muito, ela tem jeito de quem ignora de propósito, porém penso que possa não ter visto mesmo pelo seu estado, parecia estar com a cabeça em outro planeta.

Em poucos minutos já estava perto do centro da cidade, onde está localizado o studio de tatuagem que trabalho, mas ainda pensava nela, será que era com ela que ele estava falando ao telefone?

Se for mesmo, eu me pergunto o que há com esses dois, ele é tão rude e autoritário, e ela tão nervosinha que me deixa imaginando o caos que acontece quando os dois estão juntos. Eu nem sei porque estou pensando tanto na vida deles e principalmente na dela, eu realmente não tenho nada a ver.

Mas se bem que não deixa de ser uma situação curiosa, sempre que nos encontramos parece tudo tão desagradável e inadequado, parece que nunca devemos nos encontrar em momentos simples e normais do dia a dia. Começo a pensar que tudo possa ter a ver com ele. Não simpatizei de forma alguma com aquele sujeito.

— Você é intrometido, isso é não é problema seu. — Digo para mim mesmo afim de afastar esses pensamentos.

Odeio que os meus pensamentos são imparáveis, a pontinha do iceberg aparece em minha mente e eu já pretendo desvendar todo resto, mas no fim tudo não passa de suposições minhas e nos casos mais comuns, paranóias.

Agora já sentia meu corpo mais relaxado, iria fazer algo que é quase uma terapia, estava num ambiente que gosto, que pessoas que gosto estavam presente, então senti a tensão do meu corpo ir embora. Agora sim meu dia iria começar de fato, ter dias produtivos me fazia tão bem quanto um banho quente antes de dormir.

— Atrasou hoje, que acontecimento histórico foi esse? — Um dos meus colegas de trabalho solta.

— Nem estou tão atrasado assim, procure outra forma de bater com a sua língua, porque ser pontual é um dos meus pontos fortes. — Digo pendurando meu casaco.

— Então vamos senhor pontual, preciso da sua ajudinha em algumas coisas. — Gesticula com o braço me conduzindo.

De certa forma é divertido trabalhar com pessoas que temos um vínculo, nos ajudamos e nos resolvemos, gosto do companheirismo que construímos aqui dentro, cada um aqui é importante para mim.

É bom ver nossa evolução, a nossa parceria, agradeço pela presença dessas pessoas em minha vida, eu realmente sinto que estou no lugar certo, fazendo a coisa certa, sinto que estou no lugar onde me encaixo, onde me cabe, onde me aceitam.

Cada arte que fazemos no corpo de alguém, é uma vivência, trocar experiências com as pessoas que veem até aqui para eternizar algo importante para si é algo que aprecio muito, algumas histórias são inspiradoras.

— Você também está no mundo da lua né? — Ele fala batendo de leve nas minhas costas. — Já é a terceira vez que tô explicando.

— Tá bom, me desculpa, pode falar. — Corço meu nariz ajeitando minha postura.

— Obrigada. — Faz reverência sendo irônico.

Nem percebi quando me distrai, eu sou bem centrado em tudo, até me envergonho quando chamam a minha atenção. Mas eu estava com aquela sensação persistente de querer saber o que aconteceu, aconteceria, acontece com...Ela.

Uma verdadeira perturbação a imagem daquele rosto lindo e deprimido, bato na minha própria testa com o surgimento da hipótese de transformá-la em pintura. Um quadro daquele rosto seria de longe uma perfeita obra.

— No que você tanto pensa? — A pergunta que mais me amedronta foi feita.

— Em como te ajudar. — Na verdade não, porque isso era muito pessoal.

— Olha eu só quero ajuda na inspiração para um desenho, mas se você não tiver conseguindo tudo bem.

— Se você não tiver tanta pressa, mais tarde volto com ideias para você, confia em mim, mas tenho um trabalho para esse horário então preciso me adiantar.

— Vou cobrar. Eu em, lunático. — Saio da sala jogando um beijo no ar para ele.

Eu realmente tenho trabalho agora, mas definitivamente eu estava mais preocupado em sair de lá, já começaram a perceber meus repentinos pensamentos intrusos. Aquela figura enigmática vai ter que sair daqui, ela e todos os problemas que imagino que esteja passando.