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Não conversei tanto com o homem que até agora não descobri o nome, mas já sei que é bem esnobe. Não há privacidade em lugares cheios, então pouco depois apareceram pessoas para conversar com ele, não tivemos chance de dialogar muito.

Eu a minha mãe logo nos despedimos para retornarmos para casa, o problema é que não encontrei meu esposo em casa, e acordei sem sua presença, suspirei fechando os olhos não querendo iniciar meu dia com preocupações como essa.

Enquanto mexia no computador percebi que grupo que tinha com as minhas colegas de trabalho, estava insano, peguei o celular para dar uma olhada, comentavam sobre o feriado e o que poderíamos fazer, sorrio pensando na animação delas toda vez para essas programações, eu as apoio, mas nunca compareço.

Elas também não insistem, sinto que sentem receio de tratar assuntos que não sejam de trabalho comigo. Quase que involuntariamente as escrevo perguntando algo que eu mesma assustei assim que envio e leio pela segunda vez.

"Qual é mesmo o nome do bar que foram da última vez?"

Antes que meu cérebro possa enviar mais uma mensagem para meu corpo me fazendo apagar o que escrevi, alguém responde:

"Drink Smell?"

Elas começaram a perguntar se eu estava sugerindo para que fôssemos no feriado, e se eu iria realmente. Me arrancou boas risadas, mas pedi para continuarem pensando em outra programação e decidirem juntas.

Não reclamo tanto da falta de amigas, pois costumo não curtir movimentações na minha vida, sempre busquei ter somente o necessário, pelo menos era o que eu achava. Mas eu sabia que sozinha ou acompanhada eu precisava me divertir.

Como havia planejado, o dia foi bem proveitoso, limpei bastante a minha agenda, cuidei para que tudo estivesse do meu jeito, e a semana pudesse ser mais leve pelo menos nesse quesito. Debruçada na banheira pedi por isso.

Estava disposta a não estar bem vestida e em pedaços por dentro, hoje eu iria me buscar dentro de mim mesma, aquela versão feliz e comum, que vivia bem antes de todos os acontecimentos. Talvez buscasse essa versão para mostrar a ela coisas novas. Como sair sozinha para um bairro cheio de bares e baladas pela primeira vez.

Eu senti cheiros desconhecidos quando adentrei naqueles becos, o de cigarro parecia se exaltar ainda mais que os outros. O desconforto me invadiu quando percebi o quão formal estava, o vestido vermelho colado me deixava parecendo uma senhora em meio aqueles jovens tão casuais.

Ar novo me acolheu quando adentrei em um dos estabelecimentos, um dos primeiros, devo destacar.
Não sei se os saltos que uso são ideais para uma caminhada longa por aqui, e talvez essa seja a minha desculpa para a timidez. Engoli saliva e empurrei a porta.

Tornei alvo de alguns olhares, mas não permaneci sendo o centro das atenções, me alivia que estejam mais preocupados com suas próprias vidas. Uma parte repleta de bebidas me recebeu, as luzes amarelas e a música lenta são acolhedoras. Sem demora me sento em um dos bancos do balcão principal.

— Boa noite senhorita. Gostaria de fazer seu pedido? Temos bebidas especiais para todos os gostos. — Um jovem simpático me atende.

— Boa noite. Bem, bebidas não são o meu forte, se puder escolher por mim e me apresentar algo que goste, dou total permissão.

Ele sorri concordando, fico analisando o garoto que aparentava não mais do que 23 anos, cabelos escuros e pele bronzeada, preparando a bebida, e confesso que me encheu de ansiedade tudo isso. Não é algo que costumo viver.

Desvio meu olhar pensando na maluquice que decidi fazer, reparei em cada pessoa presente, não eram muitas, o que dava ao lugar um ar misterioso e reservado.

— Aqui! Espero que goste.

A cor da bebida já me causou curiosidade, agradeci e bebi sem enrola, o barmen me olhava com grande expectativa, vi sua expressão aliviar quando sorri após dar o primeiro gole, de fato era bem saborosa, e forte. Mas aproveitei o gosto. Quando me dei conta já estava no terceiro.

Um tempo depois o ambiente começou a encher, era engraçado ver a empolgação das pessoas, os jovens  interagiam um com o outro, certamente eu era invisível aqui, e por isso me despreocupei com os olhares, mas talvez seja também o efeito do álcool.

Ao finalizar meu terceiro drink, o barmen põe outro em minha frente, o olho um tanto quanto desconfiada.

— Estou alterada, mas me lembraria se tivesse pedido o quarto drink. — Ele sorri com meu comentário e apenas aponta em uma direção.

Ao girar meu corpo vejo o indivíduo bem vestido — de preto, obviamente — levantando seu copo em minha direção, suponho que seja whisky, prendo a respiração ao pensar na possibilidade de ter sido observada muito tempo por ele, já que nem fazia ideia de que estava aqui.

Me intriga que entre tantos bares ele estava justamente nesse, a poucos metros de mim, jogado em uma das  poltronas vermelhas, sentado numa posição que irritantemente o deixa sexy, perturbadoramente atraente. Mesmo fraquejando diante da sua imagem, não permiti meu olhar se desviar em nenhum segundo.

Se ele iria ficar me olhando ao ponto de parecer que iria me devorar com a mente, faria o mesmo, essa troca arrepiava meu corpo inteiro, era como se fosse um jogo de rivalidade misturado com uma tensão desconhecida. O mataria, mas também o encurralaria na parede e pediria para me levar para seu paraíso.

Ele sorri olhando para baixo quando percebe a minha confiança, não um sorriso tímido, um sorriso de deboche, acho que ele quer brincar, quem sabe me fazer achar que possui algum efeito sobre mim, não que não possua mesmo, mas eu não pretendo deixá-lo saber.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora