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Após seu consentimento para a pessoa entrar, um senhor de cabelo preto e olhos conhecidos atravessa a porta, ele carregava alguns papéis em mãos e um meio sorriso nos lábios. Ele se curvou antes de chegar a mesa, tanto para mim quando para seu chefe.

— Os documentos que pediu Sr. Kim — Meu marido se levanta e se dirige ao homem.

— Obrigado. Confio em você e imagino que esteja tudo certo. — Recebeu os papéis. — Mas ficarei atento, qualquer erro vou precisar novamente da sua ajuda. — Segurava no ombro do homem demonstrando uma certa intimidade.

— Tudo bem, mas conferi várias vezes, não tem com o que se preocupar. — Kim somente sorriu e voltou a se sentar.

— Bom... Com licença Sr. e Sra. Kim, tenham uma boa noite. — O senhor sorriu simpático para mim enquanto se dirigia à porta.

—  Boa noite. — Respondemos.

— Pensei que já tivesse dispensado todos os seus funcionários. — Antes que a sala pudesse ficar coberta por aquela tensão anterior, tento um diálogo mais uma vez.

— Pedi para que somente ele, a recepcionista e o segurança ficassem. Mas se isso tanto te preocupa já vou dispensa-los, vamos! — Se levanta tirando paletó da cadeira. Pensei que fosse ficar até tarde. Mas eu conheço ele, ele sabe perfeitamente porque eu estou aqui, mas mesmo assim continuo instigando. 

— E... Bom, e a Davis? — Seu olhar penetrou no meu, mas não obtive resposta.

Ele colocou o paletó e começou a organizar suas coisas. Aquilo me deixou uma pouco confusa no primeiro instante, mas entendi que ele já queria se livrar de mim, chegar em casa e deitar de costas como se eu fosse apenas um fantasma que o persegue.

Esperei ele ir até a porta para seguir atrás, mas ela foi aberta por dois ao mesmo tempo, e era ela, sua feição mudou quando me viu atrás do homem. Ela ainda estava com o uniforme da empresa.

— Trocou de setor Senhorita Davis?

— Boa noite. —Foi como um sussurro. — É... perdão, o que disse? — Ela pareceu realmente não ouvir, e minha intenção não foi que ouvisse, mas não quis perder a oportunidade.

— Ah, é que meu marido me disse que não dispensou apenas três funcionários, pensei que estivesse entre os três já que está aqui. — O homem coças garganta, sinto que queria me repreender. — Ah, me esqueci, você não é a recepcionista, nem o segurança e muito menos aquele senhor simpático que meu marido tanto gosta.  — Provoquei.

O homem girou um pouco o pescoço para olhar para mim, agora já estava ao seu lado, mas apesar de sua carranca, ele não disse nada.

— Oh! Eu apenas...Bem, decidi sair um pouco tarde e acabei não avisando ao chefe — Ela sorri juntando os lábios — Como imaginei que ele ainda tivesse por aqui, vim fazer um convite, um jantar, comigo e meu namorado.

— Entendi.

— Ah, e claro, avisar para ele não se esquecer de levar você. Eu gostaria que meu futuro noivo conhecesse o meu chefe.

Acabei soltando uma risada audível, de fato era um pouco absurdo toda essa simpatia que ela forçava comigo, enquanto eu nunca fiz questão de sua amizade ou atenção. Mas o mais engraçado é que tudo me parecia uma grande desculpa.

— Tenho certeza que ele diria sim. — Seguro no braço do homem e incentivo ele a atravessar a porta. — Agora já estamos de saída, obrigada pelo convite.

Achei estranho ele não contestar quando fechei a porta e praticamente o arrastei até o elevador, ainda por cima deixando sua funcionária mais "competente" sozinha.

Enquanto o elevador descia, soltei seu braço, era até desconcertante, parecia que estava segurando o braço de um desconhecido e não do homem com quem me casei.

— Você sempre tão desagradável. — Falou simples, não me olhando em nenhum momento.

Eu sentia sua indiferença, ele com certeza estava chateado pelo ocorrido de ontem, mas eu não estava diferente então tanto faz. Queria confiar em mim mesma, mas era inevitável o pensando de que talvez eu esteja sendo dura.

Minha mente batalhava, era quase audível cada pensamento desconexo, "Você não tem provas suficientes, acalme-se" "Olha o jeito que ele te trata, não há como duvidar que algo errado está ocorrendo". Uma perturbação infindável.

— Talvez, mas ainda prefiro ser desagradável sendo eu mesma, desculpe falar da sua favorita, mas ela é extremamente forçada, preferia que não falasse comigo ao vê-la se esforçado mais do que consegue para tratar bem a esposa do chefe.

Seu silêncio reinou, mas não duvido que sua mente esteja tão barulhenta quanto a minha, mas em compensação ele conseguia fingir muito bem estar no controle de tudo.

— Vamos ao jantar.

— Como? — Pareceu não ter me escutado mesmo, virou o rosto estampando dúvida.

— Vamos ao jantar. Com ela. — Ele ficou me olhando por alguns segundos, arregaçou as mangas da camisa se virando de novo. 

— E o namorado, claro. — Completei.

Seu olhar retornou ao meu, como se quase uma repreensão fosse sair da sua boca, consegui até visualizar os xingamentos, mas ele rapidamente seguiu na frente assim que o elevador abriu.

Que situação! Não ter provas é a pior coisa que se pode acontecer com uma mente duvidosa, as vezes acabamos deixando aquilo que pensamos tomar tanto lugar, que quando agimos de forma explosiva, ficamos sem direção, não sabemos se fomos justos ou paranoicos.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora