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Sentada em uma poltrona, eu observava minha mãe arrumar a cama para eu dormir, ela havia me pedido para ficar, para dormi aqui essa noite. Coitadinha, eu podia ver que estava com medo também.

— Já faz um tempo. — Digo olhando para minhas mãos, ela se vira para mim, sem entender. — Já faz um tempo que meu relacionamento com o Kim não vai bem. No começo eu achei que, fosse desentendimento normal de todo casal.

Caminho até ela me sentando na cama, agora arrumada. Ela senta ao meu lado e acaricia meu cabelo prestando atenção em cada palavra e gesto meu.

— Se não quiser continuar, vou entender. — Balbucia. Ergui a mão indicando que está tudo bem.

— Mas tudo começou ficar estranho demais, não eram mais discursões, como geralmente acontece, ele me ignorava, não agia mais como um homem que ama sua esposa, ele não fazia nada, eu simplesmente estava me vendo como um fantasma perto dele...

— Eu não podia imaginar. — Coloca minha cabeça em seu ombro.

— E foi quando eu comecei a cobrar seus deveres como esposo que ele começou a ser rude comigo, cheguei a pensar que realmente estava o forçando, mas percebi que ele estava se irritando por qualquer coisa que eu falava... Por conta disso eu passei a sentir tantas coisas em pouco tempo, a esposa chata, a vítima, a culpada, a mocinha , até a vilã. A mudança de comportamento dele, me fez questionar quem eu era na situação, a crise de identidade acabou comigo.

— Querida... Eu sinto muito. — Olhando nos seus olhos pude ver a poça que se formava. — Me sinto tão impotente agora.

— Mãe, se disse isso, foi porque não tive saída, não quero que se sinta culpada por nada. Eu que escondi tudo, por medo, medo da reação de vocês, medo do dele.

— O que pretende fazer?

— Ainda não sei mãe, eu realmente não sei. Mas não quero mais pensar nisso, eu só...— Me sento corretamente na cama e seguro forte suas mãos.— Eu só peço para não comentar nada com o papai, não por enquanto pelo menos. Pode fazer isso? — Olha para o entrelaço de nossas mãos e depois retorna seu olhar para mim.

— Filha, mas...

— Por favor. É tudo que eu peço.

Ela ficou em silêncio por um tempo, porém assente com a cabeça, confesso que não me tranquilizou muito, ela não consegue guardar muito bem segredos dele.

Com leve carinho ela me deixa, me aqueço no cobertor quente, fecho os olhos com força tentando desaparecer não só dentro dos lençóis, mas também desaparecer do mundo, mais alguém sabia das crises que venho enfrentando, e isso me enche de vergonha, mesmo sabendo que não sou responsável pelas atitudes grotescas do meu marido.

Meu celular acende na mesinha ao lado da cama, a princípio não dou importância, mas após a quinta vez, já estava segurando o eletrônico e checando as ligações perdidas do Kim. Pensei em retornar, mas desejei deixá-lo passar pelo mesmo que me fez passar um dia. Ainda sabendo que não sentirá o mesmo.

Acordei um pouco sem noção de tudo, aos poucos fui recuperando meus sentidos, olhei as horas e ainda era muito cedo, cedo demais até, mamãe ainda não havia despertado, só meu pai que talvez já tenha ido ao trabalho.

Aproveitando a falta de olhares sobre mim, me troquei e sai da casa sem me despedir, queria fugir desse peso que carrego vinte e quatro horas, não acho bom ver a face abatida da minha progenitora tão cedo, me entristece.

Um café da manhã fora foi a ideia que tive, além da minha mãe, também não queria ver Kim por tão cedo, tudo bem que já era seu horário de trabalho, mas não duvido que esteja me esperando como um lobo.

Ajeito minhas feições no retrovisor, antes de descer do veículo. A rua estava tranquila, então atravessei sem nenhum problema, o tempo estava esfriando então inevitavelmente me arrepio, piso na calçada da lanchonete esfregando meus braços, não vendo a hora de me aquecer com o ar que deve haver lá dentro. Afinal, não conhecia o estabelecimento.

Por fora tudo me pareceu agradável, até a quantidade pequena de pessoas que consegui ver pelo vidro gingante, era ideal para meu humor dessa amanhã.

Empurrando a porta que avisa para todos minha presença, sinto um cheiro delicioso que estremece meu estômago, a noite toda meu apetite foi embora, mas ele não é tão rebelde, então voltou pela manhã com tudo.

— Perdida de novo? — A voz rouca me atrai como um imã.

Em minha frente, Jeon Jungkook, tão bem desenhado quanto a obra de arte mais prestigiada da terra. Ele carregava um estilo mais leve hoje, o que me fez ficar mais presa em sua figura mais do que deveria, e gostaria.

A calça de alfaiataria bege combinava tão bem com o suéter azul marinho. Eu adorava o estilo dele, do mais simples ao mais arrumado, tudo parecia ser feito para ele, Jungkook é do tipo de não nasceu para se encaixar em nada, tudo que se encaixa nele, e digo em relação a qualquer coisa.

Sua áurea emana poder, ele parece ter posse sobre
tudo que alcança seu olhar, como um deus.

MAGNETISM. jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora