Confinada

Capítulo 52 - Ultimato - cont...

Miguel

Sinto Bela parada na porta e a estranheza da situação me come por dentro. Sempre foi tão fácil estar com ela, estar perto dela... esse constrangimento, duvida e receio pairando entre nós me deixa doente. Não conseguindo mais me manter ali parado sem ir até ela, abraça-la e prometer coisas que não sei se posso cumprir, ando até o banheiro, abro a torneira da pia e começo a limpar a bagunça sangrenta que são minhas mãos.

Enquanto as limpo posso sentir Bela bem atrás de mim, fecho meus olhos e tento respirar fundo, controlando todas as emoções que me invadem sempre que a tenho por perto... quando sinto suas mãos vagarosamente circulam minha cintura.

— Nunca achei que um dia seria tão difícil falar com você... me aproximar de você... tocar em você — ela deixa uma lufada de ar escapar e descansa sua testa em minhas costas, seu corpo colado ao meu — Eu fui... nem sei como me chamar por ter dito aquilo para você. Inferno Miguel! Eu sei o quão baixo foi dizer que não nos conhecemos direito caramba, a verdade é completamente o oposto disso. — ela para de falar por um momento, me apertando um pouco mais em seus braços.

— Eu sempre fui uma merda para confiar nas pessoas, mas com você foi diferente, eu não tive a mínima duvida se deveria ou não acreditar em você, acho que antes mesmo de ligar para sua irmã eu já estava pronta para ajuda-lo no que fosse preciso. Por todo esse tempo eu não quis ver o que estava bem na minha frente, então me obriguei a acreditar que essa inesperada confiança era fruto do meu encantamento e um pouco de inveja por ver o quanto você amava sua irmã e queria justiça pelo que havia acontecido com ela. Eu queria que alguém tivesse feito isso por mim, então eu estava disposta a ajuda-lo no que fosse necessário, mas por mais que isso também fosse um dos motivos de ter confiado em você eu sempre soube que havia alguma coisa a mais. Tinha essa coisa aqui dentro de mim que dizia que você era diferente de todos os outros, que me puxava pra você de uma forma muito estranha que eu nunca consegui entender. Você sabe como isso é assustador? Nunca confiar em ninguém e de repente ter uma certeza gigante que pode confiar em alguém que nunca viu na vida? — diz tristemente. Fecho a torneira e tento me virar, mas o aperto de Bela em mim aumenta, entendo como um sinal de que ela precisa que eu continue assim para continuar falando.

— Tudo que disse antes e vou dizer agora não muda o que sinto por você Miguel, na verdade... — da uma risada sem qualquer humor — Deixa para lá. O que eu quero dizer é que realmente quero que as coisas deem certo entre nós, mas elas precisam mudar para que isso aconteça. Não podemos continuar assim, seria injusto com nós dois. Eu não seria feliz, nem você. Eu mereço alguém que me aceite do jeito que sou, com meu passado de merda, com minhas cicatrizes, meus medos e receios, alguém que confie em mim plenamente, que leve em conta minhas decisões, minhas vontades, que nã duvide por um momento do que temos, que não seja apenas meu amante, mas meu melhor amigo, meu companheiro e principalmente que sejamos um time, que não exista um eu ou ele, mas sempre um nós, pode ser pura ilusão esperar algo assim, mas... é o que eu quero. E sabe porque Miguel? Por que eu estou cansada de estar sempre vigilante, com medo, duvidando de tudo e todos, eu acho... Não, eu tenho certeza que mereço um relacionamento onde eu possa me jogar sem medo, sem duvidas, que eu possa confiar de olhos fechado e com tudo de mim, para enfim poder baixar a guarda e tirar todo esse peso das minhas costas, por que... eu preciso respirar Miguel. As vezes... o peso de tudo é demais. — sua voz se quebra e eu me viro lentamente, passando meus braços ao seu redor, abraçando-a tão apertado que por um momento sinto que somos apenas um. Nos aconchegamos um no outro, em um silencio que diz tudo o que não conseguimos dizer em palavras.

— Ei, esta tudo bem, vamos ficar bem. — digo deitando minha cabeça sobre a sua — Eu... sei que são somente palavras novamente, mas eu sinto muito Bela, nunca quis magoar você, eu juro. Sei que pode parecer egoísta tudo que fiz e o que faço, mas te garanto que foi com a melhor das intenções. É uma desculpa esfarrapada sei disso, mas é a verdade. E você sabe que eu gosto de você do jeitinho que é, não mudaria nada, pode ter certeza disso e nunca, nunca mesmo ignorei o que disse, sempre prestei atenção demais a tudo que tem haver com você princesa, sempre, por isso entendo o que você me diz. Talvez... — luto contra o nó em minha garganta — nós sejamos certos um para o outro, quer dizer, talvez não, nós somos certos um para o outro, — digo com convicção — mas não nesse momento.